66. [Lacunas] Parte 51

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César: Helena?

Helena: E quem mais seria, meu bem?

César: De repente... O Lucas atende, já pensou? E eu falo coisas que não deveria, é sempre bom conferir.

Helena: HAHA. É, você tem razão. Oi, meu amor.

César: Liguei para ouvir você.

Helena: Hum. Onde você está?

César: Eu? No meu quarto.

Helena: Nossa. Já? Você não disse que ia descer para o bar com o Rodrigo?

César: Desci, desci era umas 20h. Acabei de subir.

Helena: E como foi? Está... Tudo bem? Estou te achando um pouco calado, César.

Ele respira. Há um pouco de pesar dentro dele, um desconforto por tudo, pelo envolvimento, pelo quase beijo, por ter deixado Bárbara sem explicações, por não ter (de novo, tal como fez com Luciana) escancarado as razões de seu declínio. Por que ele não contou sobre Helena? Aí  vem em sua cabeça as falas dela em Petrópolis, quando disse com todas as letras que ele tinha a alma infiel, que traía todas as mulheres; em seguida, se relembra do que Helena disse em seu consultório, quando ela questionou mais uma vez a fidelidade e ainda terminou, de forma desafiadora, dizendo que quem tem muitas, não tem nenhuma. Há uma angústia dentro dele. Se questionado, ele jamais admitirá, mas há. Talvez por recear trai-la, talvez por temer que essa situação que acabou de acontecer com ele, ocorra com de forma similar com Helena, ela ceda tanto ou mais que ele e seja mais uma vez infiel. César é assim, é da sua natureza ser mulherengo, paquerador e acho mesmo que estes são traços incorrigíveis, que se perpetuarão. E ele sabe que Helena não está tão distante dessa maneira de ser também e, por isso, talvez, a angústia. Ele teme por ele e teme também Helena.

Ele não quer que ela perceba nada de errado, nada de ruim, até porque eles vêm de semanas incríveis de consolidação do relacionamento. Pedidos de casamento, a conversa tão bonita e significativa sobre filhos, a fidelidade, a aparição diante de todos, interações com Lucas, a relação deles com Marcinha e Rodrigo, toda a estruturação de um núcleo familiar sólido da forma mais natural possível... Tudo parece tão certo, tão cheio e paz e equilíbrio que ele tem medo de perder, medo de estragar. E, bom... Por mais atrapalhada que tenha sido sua reação a Bárbara, ele se retirou. Se retirou por Helena. E correu para Helena. Por isso tudo, ele respira fundo para descontrair e dedicar-se a ela tal como ela merece.

César: Deve ser porque eu estou tentando adivinhar o que a senhora está fazendo agora, ainda acordada. Achei que já estivesse dormindo, mas, pelo visto...

Helena: Quase. Estou me preparando para isso.

César: Se preparando? Não me diga que...

Helena: HAHAHA, eu não estou dizendo nada, você é quem está imaginando coisas.

César: Olha que, na minha imaginação, você está maravilhosa. 

Ele pausa. É como se ouvir a voz de Helena reiterasse aquele sentimento que o fez parar de retribuir ao beijo de Bárbara, confirmando aquela sensação de escolha certa. Ele pondera tudo e... A quem ele quer enganar? Ele sente falta da calmaria que seu coração sente na presença de Helena, de como a morada nos braços dela é lugar para desfilar sacanagens, ternuras, cumplicidades, confissões... Ele sente falta.

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