106. [Lacunas] Parte 91

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Ei, calma.
Eu sei que você está ansiosa para ver o que vem por aí, mas aqui vai uma nota da autora: leia com calma, assimile os detalhezinhos, porque esse capítulo realmente é diferente, é especial.

Ele é, de alguma forma, a razão pela qual essa estória começou e reúne uma porção de pontas soltas, muito afeto, memórias e respostas. Foi complexo e especial demais para mim escrevê-lo; espero que faça sentido para você também.

Boa leitura. ♥

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Ainda é sábado em Itatiaia. A configuração do nosso casal é a de alinhamento de tudo. Você se lembra? Estão ainda os dois soltos pelo tapete da sala charmosa de Itatiaia. A lareira está acesa, a luz central, apagada, e a iluminação é pouca, é intimista. Há uma confusão de caixas de pizzas dispostas pela mesa de centro junto com garrafas de vinho vazias, outras caixas pelo chão... Aquela bagunça gostosa, sabe? E eles estão com as pernas enroscadas: César mantém as dele esticadas sobre o tapete e Helena, sentada entre elas, tem as suas sobrepostas sobre a coxa dele.

Essa posição deles foi desenhada pelo médico; foi ele quem a puxou pela panturrilha e a levou para mais próximo de si enquanto bebiam bons goles de vinho e começavam a divagar sobre o passado.

Foi quando César verbalizou sobre as vezes em que esteve ali, na casa de Itatiaia e contrapôs mudanças do cenário atual com a casa de vinte anos atrás. E esse gancho, deu margem para que eles adentrassem a linha temporal da história do relacionamento deles e todas as vezes que se envolveram, coisa que, até então, provavelmente era dúvida ou confusão na cabeça de você que me lê.

Foi pelo diálogo deles que soubemos, por exemplo, que Helena tinha 17 anos quando eles se conheceram. Helena disse à Santana, quando abriu pela primeira vez sua relação com o pai da Marcinha após a amiga perceber que a família da menina mexia com ela, que ela havia tido uma relação com César que durou, entre idas e vindas, dos seus dezoito aos seus vinte e cinco anos, mais ou menos; lembrou?

As circunstâncias nas quais tudo se deu, ainda é mistério, mas de fato ela era menor de idade quando se conheceram e se beijaram pela primeira vez. Noite de março de 1980, César disse. E já sabemos que foi em uma festa, não é? Salvo engano, eles comentaram isso em algum momento da nossa história, mas mais recentemente, Dona Matilde revelou a mesma coisa para Marcinha que, curiosa, anda investigando como o pai e a professora se conheceram no passado: foi em uma festa, a avó disse - e também garantiu que se tratava de uma boa história.

Já sabemos também que o pai de Helena não era lá um grande entusiasta da relação - e é de se entender, por tudo o que eles disseram, não? Que Helena era da pá virada, isso nós já ouvimos a própria dizer por uma porção de vezes. Que o pai possuía uma escola, também - ou você não se recorda de um papo entre as irmãs Moraes em que Helena fala justo disso, de quando o pai vendeu a escola? E também sabemos que ele, o pai, era enérgico em relação ao relacionamento da filha com o médico recém formado, coisa que nos foi revelada pela Helô: em uma de suas crises, a caçula deixou escapar para Leila, a telefonista do hotel, que o pai disse com todas as letras para Helena que preferia vê-la morta, a vê-la com o canalha com quem ela estava se envolvendo.

E esses fragmentos do passado começaram a voltar à tona no pensamento do nosso casal. Lembraram com risos, risos que combinam perfeitamente com o clima delicioso da noite. Helena zombou desse contraponto da idade que ela tinha quando começou seu envolvimento com César e a idade da Marcinha atualmente, que é a mesma; César, se atendo a este fato pela primeira vez, pensou como pai e realmente achou que eles foram, de fato, ousados não só na diferença de idade da relação, mas em como contornaram as situações na época. Helena fugia da escola, meu Deus do céu! Fugia da escola que pertencia aos seus próprios pais para se encontrar com César. Tudo bem que não sabemos se isso era um hábito constante ou se foi um episódio isolado, mas sabemos que realmente aconteceu e acho que agora dá para começar a entender um pouco melhor o que ela queria dizer quando verbalizava que ela foi 'da pá virada'.

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