63. [Lacunas] Parte 48

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Em São Paulo...

Bárbara também é daquelas mulheres que chamam a atenção pelo porte e altivez. Ela nunca precisou de grandes produções para atrair olhares desejosos. Ali mesmo, naquele evento, ela surge usando um vestido midi na cor preta, justo e de mangas longas. Seus cabelos negros e encaracolados esvoaçam e fazem contraste com a pele branca e o batom vermelho que sempre gostou de usar. O salto alonga seu corpo e dá um viés ainda mais intrigante e sexy àquele corpo esguio e bem conservado de uma mulher de meia idade.

César não estava entendendo nada dos olhares que se dissiparam para a região por de trás de suas costas, mas compreendeu tudo quando ouviu aquela voz, afinal... Eram velhos conhecidos.

Bárbara: Cavalheiros... Senhorita...

César, por fim, se vira e a vê. Bárbara interage com todos por igual, mas o olhar que dá para ele é diferente, é como eles sempre se olharam: com malícia. Ele nota e disfarça, emenda um papo raso com algum dos colegas... Só que uma coisa é inegável: ali, naquele momento, ela é o centro de todas as atenções - a começar pelo ancião da turma:

Dr. Augusto: Isso é que é um verdadeiro colírio para os meus olhos. Bárbara, minha querida, você só fica mais encantadora a cada ano que passa.

Bárbara: Olha que eu acredito, hein? Que saudade de você, meu querido e eterno professor! E a maravilhosa dona Rita, como está? O Augustinho, a Camila?

Dr. Augusto: Estão todos bem. Você sabe que...

E o diálogo interno entre os dois continua por um tempinho. A essa altura, Doutor Augusto já está destoado da roda de conversa, ficando em um núcleo a parte só com Bárbara. César e os outros dois médicos permanecem em um bate-papo divertido e, sem querer, quando César se dá conta, vê que ele e ela estão de frente um para o outro, ainda que separados por alguns metros de distância e havendo pessoas entre eles. Ele percebe isso porque em quase todas as vezes que olha ao redor despretensiosamente, cruza com os seus olhares - sempre certeiros -, o encarando por cima dos ombros de Augusto.

César só sorri, chacoalha a cabeça, vez ou outra disfarça passando a língua pelos lábios... É como se aquela situação toda o divertisse, mas ele permanece em seus diálogos paralelos, rindo das histórias que recebe, se divertindo com tantas outras que conta - quase todas da bolha do mundo médico. Até que Bárbara se direciona aos três e interage de forma mais específica com César.

Bárbara: Os três galãs da noite. Boa noite, meus queridos. Doutor César...

Há uma carga de malícia, sorrisos e tensão sexual quando ela profere o nome dele; ecoa como um sussurro, quase um chamado. A impressão que dá é a de que ela não faz nenhuma questão de esconder o passado dos dois, até porque chama pelo nome apenas César, olha nos olhos apenas de César. Claro que Otto e Pedro percebem o clima, até se olham entre si em uma espécie de comentário mental.

César: Boa noite, Doutora Bárbara.

Pedro: Há quanto tempo não te via, querida. Deslumbrante, como sempre.

Bárbara: Obrigada, Almeida querido. Acho que, dos três, o que faz mais tempo que não vejo é mesmo você. O Otto aqui eu vejo toda vez em que ele vai à Portugal, ele sempre dá um jeitinho de me encontrar.

Otto: Meu casamento chegou ao fim, mas eu herdei as boas amizades da Bruna. Lado bom de se separar tendo uma relação próxina com a ex-mulher...

Pedro: Pensei que esses dois eventos fossem mutuamente excludentes, hahaha.

César: Não no caso desses dois. Aliás, eu não entendo até agora o que vocês estão fazendo separados, se sempre estão juntos.

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