Capítulo 78

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Paulo André

Estava mostrando a parte interna do ginásio para a Jade e era engraçado e legal de ver que ela estava empenhada em me ouvir falar por horas sobre o esporte que eu pratico. Ela acertou em cheio quando resolveu me trazer para cá para fazer com que a minha agonia amenizasse, mas ruim mesmo era saber que ela não tinha um pingo de dimensão do que estava me deixando assim.

Segurei em sua mão e saí do vestiário indo até a parte da grande pista que eu sou acostumado a correr por horas em treinos com o meu pai. Ficamos andando devagar enquanto a brisa do vento forte batia e ela se agarrava ainda mais ao meu braço.

— E então.. como foi a reunião com a Yasmin hoje cedo ? — Ela perguntou sobre o que eu estava tentando evitar.

— Foi complicado.. recebi algumas propostas novas.

— Que são ? — Perguntou me incentivando a continuar.

— Quando eu assinei com Way model eu tinha um pouquinho de noção das coisas novas que eu iria trabalhar, do mundo totalmente diferente que eu entraria mas não imaginei que eles iriam propor um trabalho com um valor tão alto de 25 milhões de reais.

— O que ? 25 milhões ? Isso é muito dinheiro. Ainda mais vindo de um trabalho feito totalmente por você. Isso é demais. Vai dar para você realizar todos os planos que você faz, vai dar para ampliar a associação, ajudar seus pais, seus amigos, isso é incrível meu amor. — Ela falou tão empolgada que me deu uma dor ter que desaponta-la.

— Mas como tudo tem uma conveniência... — Ela parou de caminhar e segurou a minha mão para que eu fizesse o mesmo.

— Que consequência ?

— Eu teria que me mudar e ficar fora por dois anos.

— Mas se mudar para cá não seria tão um problema assim. Você praticamente vive aqui e ir para Vila Velha não fica distante de avião. — Sorri fraco com a sua inocência.

— Dois anos em Nova York.

Sua afeição animada se transformou na mesma da hora e o brilho sumiu rapidamente dos seus olhos. Jade apertou o meu braço e ficou em silêncio por alguns segundos como quem quisesse encontrar as palavras para poder usar.

— Nova York ? Mas e o Peazinho ? — Ela perguntou baixo que quase saiu como um susurro.

— O Peazinho também vai. A Thays meio que teria uns trabalhos também, assim eu não ficaria longe dele. — Falei um pouco receoso e ela cruzou os braços.

— Projeto família feliz ? — Ela perguntou e eu sabia que ela estava sendo sarcástica.

— Não tem projeto algum, só foi a forma que encontraram de não me separar dele.

— Levando a Thays para morar com vocês ? — Perguntou.

— Ela não iria morar na mesma casa que eu. Você está vendo a Thays como se fosse alguma ex minha e se esquecendo que ela é só a mãe do meu filho.

— E o que você pensa disso tudo ? você vai ? — Sua última pergunta saiu trêmula.

— Não sei. Tô confuso com tudo isso que não sei o que pensar.

— E a gente ? Como fica ? — Quando ela me perguntou isso meu coração acelerou com uma sensação horrível. Apenas neguei por não saber o que dizer.

De todas as coisas o meu filho e a Jade são a minha prioridade, eu não quero ter que abrir mão disso justo em um momento bom que estamos vivendo.

— Não quero ser egoísta.. mas é difícil estar em uma situação dessas. Te ter comigo mesmo tendo medo de te perder e agora saber que realmente posso porque você pode ir para outro país. — Ela respirou fundo e eu comecei a ver os seus olhos ficarem vermelho.

— É difícil para você e para mim ter que tomar a decisão. Não vou mentir que a proposta não me deixou balançado por conta da grana sabendo que se eu trabalhar apenas como atleta eu não consigo chegar nesse valor tão cedo.

— Mas é só dinheiro. — Falou cruzando os braços.

— Claro, para você que nasceu vendo a conta cheia sem se preocupar com o dia de amanhã é só dinheiro mesmo. — Respondi sem querer ser grosseiro mas já sendo e ela me só me olhou.

— É porque é muito fácil ver a pessoa que você namora ir embora na melhor fase do relacionamento para ficar dois anos morando em outro país. — Falou bravo e eu passei a mão no rosto tentando ficar calmo.

— Não estou dizendo que é fácil. Só estou tentando te mostrar que da mesma forma que é confuso e difícil para você, também está sendo para mim e um pouco pior. Ou você acha que eu vou amar deixar minha mulher aqui enquanto eu estou em outro lugar ?

Perguntei e a Jade começou a chorar. Suas bochechas estavam o máximo vermelhas e eu fiquei mal só em ver isso. A puxei para o meu abraço e por mais clichê que fosse dizer, eu queria tirar isso que ela estava sentindo.

— Você não imagina como o meu coração fica só em pensar na hipótese de não te ter por perto. — Fui sincero e ela abraçou ainda mais o meu corpo.

— Como eu disse antes, não quero ser egoísta em pedir para você mas é que...

Antes que ela pudesse concluir uma chuva forte começou a cair nos molhando completamente. Olhei para os lados procurando algum sinal do Seu Domingos mas não encontrei e a Jade não parecia se importar.

— Mas o quê ? — Pedi alto com uma certa dificuldade por conta do barulho da chuva.

— É que eu te amo. te amo muito e estou com medo pra caralho do que pode acontecer ou não acontecer daqui pra frente. — Ela falou de um jeito rápido que talvez não tenha prestado atenção de que essa é a primeira vez que escuto ela dizer que me ama.

— Você o que ? — Perguntei e ela me olhou no fundo dos olhos.

Algumas pessoas dizem que conexões de almas são raras e que elas vão muito além do que o físico pode explicar. É um vínculo forte e profundo evoluindo de forma natural, e quando eu olho a Jade eu tenho a certeza de que nossas almas estão conectadas. Porque não teve um só dia desde que a vi que não me sinto como se a conhecesse de toda a vida e mais do que isso, a amo com tudo existente em mim.

— Eu te amo.

Por mais que essas sejam as melhores palavras que eu poderia escutar vindo dela, sua feição era triste e eu não podia dar uma solução dessa situação agora. Eu só segurei a sua mão para podermos ir embora antes que ela pegasse um resfriado.

Encontrei o Seu Domingos e agradecemos e corremos para o carro. Liguei o aquecedor do carro e peguei uma jaqueta que eu tinha deixado no banco de trás. A enrolei e esperei um pouco para começar a dirigir.

— Nós vamos resolver isso mesmo que agora eu não saiba muito o que fazer. Não esquece que eu estou do seu lado para gente passar por isso juntos e que independente do que acontecer o meu amor por você não muda. — Falei e ela concordou, então comecei a dirigir.

— Lembra quando você me dedicava músicas porque queria que elas expressassem o queria me dizer ? — Perguntou e eu sorri.

— Poesias, Incomum, In Your Eyes...

— Sim. E a música que veio agorinha na minha cabeça foi essa aqui. — Ela mexeu no Spotify procurando uma música. — Só escuta.

Eu sabia essa música inteira e ela também. Cantamos juntos e as vezes nos olhamos quando a letra batia certo com algum sentimento nosso.

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Boa noite, eu amo vocês

In Your Eyes - Jadré Onde histórias criam vida. Descubra agora