Capítulo 156

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Pov: Jade Picon

As memórias afetivas podem ser caracterizadas como aquelas lembranças que são associadas a momentos importantes que passamos com as pessoas que amamos. Chegando aqui em Saquarema, a primeira memória latente que me veio foi o primeiro beijo com o Paulo André.

É interessante relembrar todo o percurso, já que alguém como eu que sempre amei as surpresas da vida sem me apegar aos momentos, sempre tive uma plena certeza de que desse o beijo ele seria o meu para sempre.

Não é que eu estive certa? Estamos construindo o nosso para sempre. Um dia estávamos nos beijando pela primeira vez no dia doze de fevereiro e cá estamos morando juntos no Rio de Janeiro e esperando uma menina.

- A primeira vez que eu te beijei no céu da cidade de neon, pulei nos teus braços e voei, voei... - Cantarolou quando estacionou o carro na casa do Scooby.

- Parece que já faz tanto tempo. - Comentei com a sensação que pairou sobre mim.

- Não estamos mais em 2022 com os fãs começando a shippar e as nossas vidas tomando um novo rumo juntos. - Falou convicto e sorriu para mim.

Paulo André desceu do carro e se apressou em abrir a porta para eu sair. Agora demoro mais um pouquinho, a barriga imensa dificulta os meus movimentos rápidos.

- Tem certeza que o Scooby disse que é hoje? Não tem nenhum carro e nenhuma movimentação. - Estranhei vendo que ali estava puro silêncio.

- Rapaz, eu li que seria hoje mas já não tenho tanta certeza assim.

No mesmo instante o olhei com fervor. Existem coisas típicas do Paulo André e confundir datas e eventos é uma delas.

- Se você me fez vir parar em Saquarema com sua filha prestes a nascer atoa, se prepare que o sofá te espera. - Ameacei e ele levantou as mãos em rendição.

Paulo André abriu o portão, que estranhamente estava aberto, e deu passagem para que eu entrasse.

O silêncio que até então reinava foi substituído por uma canção um tanto quanto longe, e a que estava tocando eu poderia reconhecer facilmente sem me importar com a distância. Medo bobo.

Odeio sertanejo. Quer dizer, eu odiava. Engraçado quando as coisas ganham um novo significado e prontamente nós passamos a enxerga-las de uma forma diferente. Quem diria que uma música da Maiara e Maraísa se tornaria a nossa música?

- Eu acho que não tem é festa nenhuma hoje, o caseiro deve estar aproveitando escutando um som. Vamos embora! - Decidi já me virando de volta a saída.

- Calma, amor! - André segurou o meu braço e pacientemente o olhei. - Vamos olhar lá em cima, vai que seja lá.

Decidi ir só para terminar de esfregar na sua santa cara que ele mais uma vez errou a data e que na verdade hoje não é a festa da Cíntia coisa nenhuma.

Subi degrau por degrau respirando fundo e segurando a minha barriga. Quando chegou no segundo andar eu já estava pronta para xinga-lo.

- Não acredito! - Foi a primeira reação possível.

- Você está certa, hoje não é a festa da Cíntia aqui em Saquarema... - Falou com um sorriso enorme.

O segundo andar tinha vista de frente para o mar, aberto ao céu com cheirinho de água salgada que tanto amo. Uma mesa de jantar muito bem decorada, algumas das nossas fotos Polaroid

O chão estava decorado com pétalas de rosa e a única iluminação era a da lua e das velas espalhadas pelo local. O tópico romantismo do André que eu aprendi a amar.

- Você está ficando bom no quesito fazer surpresa sem que eu descubra antes. - Falei com os olhos marejados e ele me abraçou por trás.

- Eu queria fazer uma surpresa maior, queria que o pedido fosse em uma das nossas viagens diferentes com todo enredo que você merece...- Começou a falar e eu percebi seu nervosismo.

- E até pensei em adiar o dia de hoje para depois que a Clara nascesse, afinal, nossos últimos dias têm sido em prol da chegada dela. Mas aí eu decidi mudar um pouco os planos, tirar os holofotes e voltar a essência que a gente construiu juntos. Nós dois bem aqui dando o nosso primeiro beijo... - Seus olhos brilhavam de tal forma que eu me perdia em escuta-lo e admira-lo.

- Me pego constantemente lembrando da gente em 2022 cheios de marra, achando que sabíamos de tudo e tentando conciliar o pessoal do profissional.
Só que o tempo passou e passou muito rápido, não tem mais Paulo André e Jade Picon se conhecendo e levando o público a loucura, já passou o tempo que viviam freneticamente a procura de qualquer contato nosso quando sabiam que estávamos no mesmo lugar...
E não existe porque nós fizemos isso aqui dar certo juntos, nós tentamos, as vezes eu me doava 80% e você completava com os 20% que faltava e vice versa. Nós amadurecemos essa relação ainda que com personalidades parecidas, mas que pensássemos de forma diferente, entende?

- E aí você me ensinou que existem coisas que valem muito mais, que não se desiste de primeira sem antes tentar... - Falei sentindo as lágrimas molharem meu rosto.

- Aprendemos muita coisa juntos na proporção que vivemos cada experiência. Por exemplo, onde que eu faria falando esse monte de coisa? Até ontem eu não sabia verbalizar meus sentimentos e nem expor com palavras o meu amor. Só que você sempre disse...

- Sem diálogo não dá, se a gente não conversar sobre o que sentimos vamos deixar morrer guardado muitas coisas preciosas... - Completei e ele sorriu.

- Exatamente. E agora estamos no famoso "ápice" da vida, nosso amor está transbordando com a chegada da nossa filha e eu não poderia estar mais feliz de tudo ter sido com você. Minha melhor amiga, minha primeira namorada, mães dos meus filhos e minha futura esposa...

Paulo André se ajoelhou na minha frente e abriu uma caixinha de veludo vermelha revelando um anel. Sorrindo e fazendo meu coração saltitar de emoção e felicidade.

- Casa comigo? - Perguntou com a voz embargada denunciando que estava emocionado tanto quanto eu.

- Caso, claro que eu caso!

Falei chorando e ele levantou me abraçando forte. Fechei meus olhos na tentativa de guardar aquele momento para sempre em minha memória.

- Eu te amo tanto... - Falei grudando nossas testas.

- Te amo muito mais e isso só é o começo de tudo.

In Your Eyes - Jadré Onde histórias criam vida. Descubra agora