Capítulo 73.

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Minha mochila estava pesada, carregada com tudo que eu tinha comprado e trazido comigo, mas não tanto quanto o peso do ódio que me consumia

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Minha mochila estava pesada, carregada com tudo que eu tinha comprado e trazido comigo, mas não tanto quanto o peso do ódio que me consumia. Era um ódio denso, sufocante, que apertava o peito e fazia as alças da mochila cortarem meus ombros como navalhas. Caminhei pelos corredores da escola de cabeça baixa, agarrando as alças com força, os nós dos meus dedos embranquecendo.

Evitava olhares, especialmente o olhar dele. Eu não ia fraquejar, não ia me desmontar na frente de todo mundo. Graças a Norma, eu aprendi a engolir o choro, a fingir que estava tudo bem, a disfarçar qualquer rachadura na superfície. Com ele, não seria diferente.

Eu não tinha para onde correr, ninguém a quem recorrer. Ir até a polícia? Ridículo, já era tarde demais. Contar para o meu pai? Outra perda de tempo. Ele não faria nada além de esfregar um "eu avisei" na minha cara.

E, honestamente, isso talvez fosse ainda pior do que ficar em silêncio. Eu tinha feito birra, insistido para estar com Damon, para provar que tinha controle da minha vida. Contar a ele agora o que tinha acontecido? Era admitir derrota, era me humilhar de uma forma que eu não suportaria.

Kiara, Oliver... Eles não tinham nada a ver com isso. Isso era entre mim e ele. Damon quis brincar comigo, quis bagunçar e foder a minha mente — e ele conseguiu. Passei os últimos dois dias repassando cada palavra que ele disse, cada maldito sussurro no meu ouvido...

"Pessoas previsíveis são fáceis de quebrar, diabinha. Não seja previsível."

Eu o odeio.

"Saia da caixa, bonequinha."

Tudo bem, monstrinho. Minha vez de brincar.

"Eu amo você."

Vai desejar nunca ter sequer me olhado. Tudo bem, eu admito que dói. Dói como o inferno. Mas eu não vou sofrer sozinha ou ficar chorando pelos cantos.

Passei os horários quieta, me encolhendo no meu canto, esperando ansiosamente pela aula de educação física. Ignorava os olhos dele cravados em mim, sentia seu olhar queimando a minha nuca, mas eu não me virava. Apenas respirava fundo. Uma, duas, dez vezes, tentando acalmar o turbilhão dentro de mim.

Quando o sinal finalmente tocou, anunciando a troca de horários e o alívio da minha espera, todos começaram a se dirigir às quadras e áreas externas. Eu me movi com rapidez para o meu armário, peguei minha mochila e, sem olhar para trás, corri para fora da escola.

Olhei ao redor, o coração acelerado. Certifiquei-me de que ninguém estava me vendo, então me esgueirei pela parede lateral do prédio, os olhos atentos a qualquer movimento. Quando cheguei ao estacionamento, lá estava ela: sua preciosa Raptor, reluzente sob o sol, como se fosse um troféu. A visão dela fez o ódio ferver ainda mais quente dentro de mim.

Me agachei ao lado da caminhonete, abrindo a mochila com mãos trêmulas. Peguei a lata de tinta vermelha que havia comprado antes de vir para a escola e tirei a tampa com a ajuda de uma chave de fenda. O estalo do metal se desprendendo soou alto demais aos meus ouvidos, mas não me importei. Segurando a lata pela alça, me apoiei no chassi da caçamba e subi no pneu traseiro.

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