O silêncio do quarto pesava mais que os ferros retorcidos na estrada. A porta se fechou atrás de Brendon com um estalo seco, abafado apenas pelo tilintar de metal que ainda balançava preso às presilhas de seu colete. O sangue seco grudava na parte de trás da camisa, e a dor era um zumbido constante, mas era o menor dos incômodos naquele momento.
Nathan estava sentado na beira da cama, com os cotovelos apoiados nos joelhos, mãos entrelaçadas, cabeça baixa. Tinha o rosto inchado, marcas frescas dos socos que o irmão mais velho não economizou minutos antes. Mas nenhuma dor física parecia doer tanto quanto o que ainda estava por vir.
Brendon encostou as costas na porta e cruzou os braços. Respirou fundo. Uma vez. Duas.
— Por que você não esperou? — A voz saiu seca, contida, como uma corda prestes a arrebentar.
Nathan demorou a levantar os olhos, como se o ato de encará-lo exigisse mais força que qualquer briga.
— Ele ia puxar a arma. Eu vi. A mão dele tremia. — murmurou, quase um sussurro.
— E você acha que isso justifica? Acha que é você quem decide quem morre agora? — Brendon empurrou o corpo para frente e se aproximou, os passos pesados no piso de madeira.
— Eu decidi proteger a gente. Ele sabia demais. Estava encurralado. Você viu os olhos dele, Bren. Você viu o desespero. — respondeu Nathan, mais firme, ainda que sua voz oscilasse
— E daí? Era meu chamado. Meu. Você estava ali pra assistir, não pra agir. — Brendon parou diante dele, encarando de cima.
Nathan levantou o rosto, e os olhos estavam marejados. Não de arrependimento, mas de orgulho ferido.
— Você tava lento. Tava hesitando. Ia deixar ele falar. Você sempre deixa os caras falarem. — Nathan diz hesitante.
— Porque às vezes, Nate... a gente precisa ouvir antes de atirar. — Brendon se inclinou, colando o rosto ao dele, cuspindo as palavras.
O mais novo fechou os olhos. O silêncio voltou a dominar. A tensão entre os dois era espessa como fumaça de pólvora. Quando Brendon recuou um passo, finalmente quebrou:
— Você é meu irmão. Eu assumiria o inferno por você. Mas me faça isso de novo... e eu deixo você queimar nele sozinho. — disse, a voz mais baixa, carregada de um peso que doía mais do que qualquer soco.
Nathan desviou o olhar, engolindo seco. As palavras atravessaram como estilhaços.
— Você me ensinou a não hesitar. Sempre disse que, se a gente baixar a arma, alguém morre. — Respondeu, num sussurro rouco.
— E eu ainda acredito nisso. Mas tem um detalhe que você esqueceu: nós não somos mais soldados. Somos peças de xadrez agora. Cada movimento é calculado. E cada bala tem um preço. — Brendon deu meia-volta, encarando o teto por um segundo.
Nathan se levantou, ainda trêmulo. Ficaram frente a frente, em silêncio, por um tempo longo demais.
— Você vai contar ao papai? — Nathan pergunta e Brendon soltou um riso sem humor, curto e amargo.
— Eu disse que foi uma emboscada. Que o cara reagiu. Que você tentou segurar, mas ele se jogou contra você. Eu dei minha palavra por você, Nate. — olhou nos olhos dele.
— Obrigado. — Nathan cerrou os punhos.
— Não me agradeça. Me prove que valeu a pena. — Brendon estreitou os olhos.
Outro silêncio. Mas agora havia algo diferente. Uma rachadura no gelo. Talvez fosse remorso. Talvez medo.
Brendon se aproximou devagar, colocou a mão na nuca do irmão e encostou a testa na dele, como quando eram crianças e apanhavam juntos por se meterem em brigas.
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𝐓𝐖𝐎 𝐆𝐇𝐎𝐒𝐓𝐒 ─ 𝐒𝐔𝐍𝐀 𝐑𝐈𝐍𝐓𝐀𝐑𝐎𝐔
Любовные романы• art credits: @jijiooe (twitter) "Agora que eu experimentei, acho que eu sufocaria, por cada segundo que você não está ao meu lado. Mas agora estou preso no portão da propriedade de Lúcifer. Eu me apaixonei por uma garota que conheci no inferno." E...
