𝗻𝘂𝗺𝗯𝗲𝗿 𝗳𝗼𝘂𝗿𝘁𝗲𝗲𝗻 | 𝗻𝗼𝘁𝗵𝗶𝗻𝗴 𝗻𝗲𝘄

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Naquele momento, Elize estava sentada em seu escritório, algo dentro dela pareceu clicar, haviam pontos soltos na história dos quais ela nunca
se deu conta, ou melhor, ela nunca se interessou em relembrar para evitar que isso voltasse com mais força contra a família que ela havia construído ao lado de Rin, mas aquilo era demais, aquele sentimento enchendo o peito, como se algo ruim fosse acontecer e não fosse demorar muito. A atenção de Elize então foi direcionada a Callan, que estava olhando para ela um pouco preocupado. O suspiro carregado de preocupação dela encheu a sala.

Callan se aproximou e colocou a cadeira frente a mesa dela. Os olhos azuis dele estavam curiosos, não era como se ele precisasse falar algo para desvendar o que passava na cabeça da melhor amiga dele.

– Por que nunca fomos atrás do que aconteceu com Gustav? — A pergunta de Elize ecoa, como se fosse um assunto proíbido.

– Elize, ele morreu. — Callan diz enquanto suspira pesado.

– Não sabemos disso, Callan. Não vimos um corpo, e tudo o que sabemos são rumores, ou melhor, nós decidimos acreditar nisso. — A morena aperta a ponta do nariz.

– Por que não vai para casa? Você está estressada com tanto trabalho, eu cuido de tudo. — A voz de Callan soa doce e gentil.

– Não posso... Há algo me incomodando, Callan. Não posso contar ao Rin. — Elize diz baixo, parecia um segredo entre amigos agora.

– Por que não? Ele é seu marido, Elize... Ele vai entender o que quer que esteja te afligindo. — Callan tenta ser compreensivo.

– Algo está errado nessa história, algo que perdemos, algo que deixamos perder. — Elize insiste.

A porta do escritório então é aberta por Cobra, ele está com o rosto pálido, rapidamente Elize se põe de pé junto de Callan, antes que algo possa ser dito, o corpo de Cobra despenca, mas Callan é rápido para apará-lo, o sangue no abdômen de Cobra mancha todo o tecido da camisa social branca que ele estava usando. Elize cerra os punhos, ela pede para Callan deitar Cobra no sofá da sala de escritório dela e rapidamente ela abre a camisa de Cobra, a bala ainda estava lá, então rapidamente Callan correu para pegar algo que pudesse estancar o sangue e retirar a bala antes que fosse tarde.

Lá estava o mau presságio, aquilo não era para ter acontecido. Cobra era o melhor entre os melhores, então porque ele foi ferido? Não era possível.

– Cobra, mantenha os olhos abertos, sim? A ajuda vai chegar, eu prometo! — A voz de Elize era urgente enquanto ela segurava o rosto dele uma mão e com a outra ela pressionava a ferida.

– Eu... — A voz de Cobra estava quebrada.

– Quem fez isso com você, Cobra? Me diga! Por favor, aguente firme. Callan! — Elize olha para ele e depois chama pelo amigo que chega.

– Mas que porra foi essa...? Cobra, não acredito nisso... — Callan parecia perdido, sem rumo. Então uma pequena risadinha escapou dos lábios de Cobra.

– Se você chorar... Eu vou zoar você... — Cobra dizia e tossia.

– Mantenha ele acordado, Callan! Cobra, sinto muito, isso vai doer muito. — Elize diz e então ela passa álcool nas mãos e na faca semelhante a uma adaga, rapidamente ela busca pela bala alojada e a retira.

– Saiu! — Callan diz aliviado.

– Continue pressionando a ferida, Callan! Eu vou chamar ajuda. — Com isso Elize correu para buscar ajuda, os telefones tocando como loucos.

Cerca de seis ou sete minutos depois, a ajuda chegou. Cobra foi levado para o hospital da família. Elize estava com as mãos sujas de sangue, mas ela não parecia se incomodar, então não muito depois, Rin chegou, ele parecia apavorado, mas aquele olhar que ele viu em Elize, aquilo ele nunca iria esquecer. Ela se virou para olhá-lo, havia uma mistura de dor e preocupação, mas também raiva. Elize caminhou até o marido e o abraçou, ele percebeu segundos após abraçá-la que ela estava tremendo. Elize viu Eric chegando também com Rosy, Lucien, Jake e Vicente, todos pareciam apavorados demais, era muita coisa para assimilar.

Lucien estava com os olhos arregalados, ele olhava em volta como se o perigo estivesse por toda parte, foi então que Elize se aproximou e segurou o rosto dele, ele olhou nos olhos da mãe.

– Sem pânico, Luci. — Elize falava com firmeza.

– O que aconteceu com ele, mamãe? — Rosy parecia chorosa, foi então que Vicente a abraçou.

– Vai ficar tudo bem. Sem pânico, por favor. — A voz de Suna finalmente soou, ele queria ser a âncora de Elize e seus filhos, ele precisava.

Elize tocou o ombro do marido e se afastou e caminhou até Eric, ele olhava para ela com a testa franzida, ele tocou os ombros dela e esfregou, assentindo sem dizer nada. Elize precisava daquilo, ela precisava da confirmação, ela precisava da palavra. Naquele momento, era como sinal vindo dos céus, ou melhor, mais parecia vindo do inferno. Elize cerrou os punhos e puxou o ar com força, coçou a testa e olhou para o chão. Eric a olhou por um instante.

As peças que faltavam ainda estavam longe de serem encaixadas, ainda faltava tanto, ainda era confuso, mas no coração de Elize ela já sabia, ela tinha quase certeza que aquilo era como um carma, ou um fantasma vindo do passado para assombra-los, eram negócios mal resolvidos dando às caras.

– Você sabe o que fazer, querida. — A voz de Eric soa.

– Quem quer que tenha feito isso com Cobra não quis que ele morresse, foi um aviso. — Elize diz ao pai.

– Eu percebi. — Eric suspira.

– Quem fez isso com ele vai pagar, nem que eu vá até os confins do inferno novamente. Eu voltei uma vez, por que não duas? — Elize diz friamente.

As pessoas da família começaram a se juntar, Elize sabia que aquilo não era brincadeira, tudo está voltando com uma força absurda. Primeiro o ataque a casa de Kenma, agora um ataque direto em Cobra? Não, não ficaria assim. Elize precisava pensar, ela precisava limpar os pensamentos, todos estavam perguntando-lhe o que fariam, o pânico se alastrando como uma brasa no meio da seca, começando a se tornar um imenso incêndio sem controle e hipótese de melhora. De repente, uma mão pousa no ombro de Elize, era Lucien, ele olhava para a mãe com aqueles olhos que ela mais ama.

Suma observava de longe, então ele percebe Lucien se abaixar ao nível de onde a mãe estava sentada. Rosy franziu o cenho, mas Vicente permaneceu quieto, as mãos nos bolsos, o olhar em Lucien, ele já sabia o que estava acontecendo, ele não era bobo.

– Deixe-me ser útil, mãe. Deixe-me agir. — As palavras entupidas de Lucien soaram e atingiram Elize como facas.

– Não... Não me peça isso, Lucien. — Elize fechou os olhos com força.

As palavras ecoam, tudo voltando, nada era novo, tudo de novo, tudo virando uma bola de neve e o alvo era Elize e a família que ela criou com tanto amor e carinho. Elize colocou as mãos na cabeça, o pé batendo sem parar no chão, a respiração difícil, as vozes na cabeça dela gritando. Tudo aquilo ela já passara, mas agora, agora ela não poderia lidar de forma irracional, ela tinha filhos, ela tinha uma vida além da dela.

Nada daquilo era novo. Guerra, a mais pura guerra que eles enfrentariam de novo.

 𝐓𝐖𝐎 𝐆𝐇𝐎𝐒𝐓𝐒 ─ 𝐒𝐔𝐍𝐀 𝐑𝐈𝐍𝐓𝐀𝐑𝐎𝐔Onde histórias criam vida. Descubra agora