**Capítulo 3**

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Cheguei na boca e fui entrando na minha salinha, enquanto falava com os menor que tava vendendo ali na frente.

Juni: Vai pro baile hoje? - entrou na minha salinha.

TK: Claro, menor. - esfreguei minhas mãos. - Vou curtir demais hoje.

Juni: Vai pegar muita novinha? - sentou na cadeira em minha frente.

TK: Tu sabe que não, pô. - encarei ele. - Respeito a Bruna pá porra.

Juni: É tu que perde mermo. - deu de ombros. - Passaram a visão que vai lotar de paty hoje. - sorriu malicioso.

Dei de ombros com descaso e fui ver os lucros da semana. A porra tava foda esse mês aqui na Pedreira, lucro tá caindo cada vez mais, daqui a pouco as metas nem vai tá chegando pros menor. Cesta básica? Fudeu!

Bufei vendo que eu teria que ir falar com o velho filho da puta lá. Dei um salve no Juni e sai da boca vazado.

Korina: Vai colar nas rimas hoje, TKzinho? - gritou de dentro do bar que tinha ali na frente da boca.

TK: Pode pá que sim, menor. - sorri.

Ele fez joinha pra mim e eu só balancei a cabeça. Toda sexta, umas sete e poucas da noite os menor se reunia na praça pra mandar aquela rima. As vezes eu participava, mas eu gostava mais de ficar vendo eles humilhar um ao outro.

Subi pra boca principal, e já vi o GL sentado na frente do barraco naquele beco, com um cigarro no bico. Ele me olhou, e logo sorriu de lado. Revirei os olhos com a maior vontade de voltar atrás e sai dali rapidão.

GL: E ai, Tiago. - se aproximou de mim. - Colou aqui por que?

TK: Mandar um papo sério pá tu ai. - murmurei, de cada fechadona já.

Entrei na boca na frente dele, e já me sentei na cadeira. Ele sentou na outra, atrás de sua mesa e me encarou com um sorrisinho no rosto.

TK: Já tinha mandado pá tu que as bocas não tão rendendo, e tu não fez porra nenhuma, cada vez mais os lucros estão baixos, e tu continua fazendo nada.

GL: O que eu posso fazer? Os menor que não trabalha direito.

TK: Ah, agora a culpa é deles, né? Se for, bota ordem naquela porra, daqui a pouco tá nem chegando mais as metas pra eles, e nem é culpa deles essa porra, é culpa dos caras dos armamentos e do carregamentos de drogas, daqui a pouco também nem a cesta básica pros moradores vai chegar.

GL: Não sei pra que essa porra de cesta básica ai. - negou.

TK: Pra ajudar os moradores que não tem condição de dar comida pros filhos. - falei altão, e ele já me deu aquela encarada, mas eu tava foda se. - Tu nunca passou fome, carai, não sabe como é foda.

Ele não gostava de dar cesta básica pros moradores, achava puta idiotice, mas ele não sabe como é não ter comida pra dar pros filhos.

Olhei pro pulso dele e vi outro relógio de ouro. Me levantei putão já.

Enquanto vive faltando meta pra vários de fé, ele continua ai gastando dinheiro achando que tá podendo.

Sai daquela boca com a minha cabeça a mil, queria quebrar tudo, bater em todo mundo, ficava assim toda vez que trocava ideia com esse vacilão. Fui pra casa diretão, nem queria mais ver ninguém. Bruna não estava em casa, entrei logo quebrando o vaso de flor, e foda se.

Descontava a minha raiva nos objetos, pra não descontar em ninguém. Era melhor, pô.

Mente de um FaveladoOnde histórias criam vida. Descubra agora