CAIXA DE PANDORA - 1º TOMO

"Chega" - PARTE 2

Shinso sentiu um aperto no peito. Lembrou dos minutos angustiantes sem saber onde ela estava, lembrando das pessoas perigosas que a queriam morta para tentar destruir a sociedade em que viviam. Seus reflexos foram mais rápidos que a sensação de timidez, e ele passou a mão por baixo dos joelhos dela e a levantou, colocando no colo e abraçando. Ele SABIA que ele era forte e independente, sabia que ela não precisava de proteção. O que ele queria dar a ela não era nada disso. Ele queria que ela sentisse que era importante e alguém ali perto se preocupava com ela, muito, e que ela poderia contar com aquele sentimento para atravessar os momentos difíceis.

Pandora sentiu-se leve de repente e do nada, os braços de Shinso a levantaram e puxaram para si. A cabeça dele ficou enterrada no seu ombro direito, e o nariz estava colado no seu pescoço. A respiração do garoto fazia com que ela se arrepiasse, mas nem se mexeu. Às vezes ela esquecia o quão mais alto e o quão forte ele era. Ela tocou as laterais da barriga dele com a ponta das mãos e ele disse:

- É muita coisa, você não precisa passar por isso sozinha, ok?

Os olhos da garota se encheram de lágrimas. Ela entrelaçou o corpo dele com os braços e não conseguiu falar, a garganta fechou em um nó, lembrando nas saudades de casa, no medo durante o sequestro e das próximas vezes como aquela que com certeza viriam. Sabia que era só o começo, eles não iam parar tão cedo e ela temia por ela e pelos amigos, novos e antigos, e pelos parentes deixados no Brasil. Pela primeira vez naquele lugar, ela deixou que a angústia saísse do peito, não por medo antes, mas pelo fato de tudo ter acontecido muito rápido.

Shinso sentiu as mãos pequenas se agarrando na sua camisa com força. Sentiu que a respiração dela ficou mais pesada e que a camisa dele começou a ficar úmida no ombro. Fez então como ela havia feito com ele e passou os dedos pelos cabelos coloridos, levantou a boca até chegar no ouvido da garota e disse:

- Eu fiquei com medo de fazerem algo com você. Não quero que te machuquem.

Deixou que ela ficasse daquele jeito por um tempo. Depois, ele afastou o rosto e olhou pra ela. O cabelo estava um pouco bagunçado, o rosto molhado de lágrimas. Os olhos se cruzaram em silêncio e ele esticou o braço, segurou a manga da camisa e secou o rosto dela com carinho. Pandora segurou a mão de Shinso e deitou a cabeça sobre ela, de olhos fechados. O coração do garoto batia cada vez mais depressa, muitas emoções corriam dentro dele.

- Eu sei que eu não sou pesada - disse a garota, com uma voz anasalada, abrindo os olhos - mas também não sou muito leve. Você pode me descer se quiser.

Shinso sentiu uma onda percorrer o seu corpo, e as palavras saíram antes que ele realmente pudesse pensar sobre elas.

- Se eu pudesse, não te soltava nunca mais.

O coração dele acelerou. Pandora riu, sabendo que ele estava confuso e desconcertado.

- Então eu vou encostar a cabeça no seu peito e ficar por aqui mais um pouco.

Passou então uma das mãos pelas costas de Shinso, e com a outra puxou os braços dele pra que se fechassem nela num abraço. Ele sabia que ela podia ouvir as batidas no seu peito, que ficavam ainda mais rápidas. Era tudo muito novo pra ele, uma vez que, até entrar na UA, tudo que havia acontecido socialmente na sua vida se resumia a amizades com quem ele não poderia ser ele mesmo e pessoas com medo de algo que ele era e não poderia mudar. A forma como os colegas do curso normal e todas as pessoas do curso de heróis que ele conheceu desde o Festival Esportivo o tratavam era completamente diferente. Pandora também havia elevado a percepção dele sobre relações interpessoais pra outro nível.

Sentia o corpo da garota quente colado no seu, e a ponta das unhas dela arranhando de leve e fazendo carinho nos seus braços. Ele ficava arrepiado, e já não achava que era ruim gostar daquela sensação. Cruzou os braços em cima das coxas dela e sentiu como a sua pele era macia. Enterrou o rosto nos cabelos, que ainda estavam úmidos, e cheirou. Tinham um perfume suave e agradável. Ela levantou a cabeça e mais uma vez seus olhos se cruzaram.