CAIXA DE PANDORA - 1º TOMO

"Fôlego" - PARTE 1.1

(Atenção: conteúdo referente a abuso psicológico. Pode ser sensível para algumas pessoas leitoras, então por gentileza, caso não se sinta confortável com o tema, pode passar pra próxima parte).

"Fôlego" é uma música da Rap Plus Size.

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Deku foi para o seu quarto aquele dia com a cabeça cheia. Muitos dos colegas dele também, provavelmente. Mas ele sentia que pela primeira vez em muito tempo sua mente estava especialmente bagunçada. Eram muitas informações de uma vez só para a mente do garoto de 16 anos.Como ele se sentia? Havia tempo que não pensava nisso a fundo. Assim que entrou, se jogou na cama com a cara no travesseiro. Respirou fundo e parou alguns minutos procurando lembranças da sensação de "gostar". Lembrou do primeiro dia da prova, tropeçando na frente de Ochaco. De como os team ups deles eram tranquilos, davam a ele a sensação de que podia confiar nas pessoas. De como ela ficou linda pronta para o baile no dia do incidente na ilha. Como o ajudou no incidente contra a turma B.

Aí ele se lembrou do incidente com Stain. Como Todoroki e ele começaram a construir um relacionamento forte. Atualmente, eles estavam ainda mais próximos, conversavam sobre diversas coisas. No começo, Todoroki era uma pessoa fechada e amarga, mas com o passar do tempo começou a deixar as pessoas entrarem na vida dele e a considerar os outros seus amigos. Deku às vezes achava que o garoto dava em cima dele, mas duvidava muito. Logo ele, Todoroki? Impossível. Deku era só um garoto tímido, que não controlava bem suas individualidades, e se ele tivesse que gostar de alguém, com certeza seria alguém melhor que ele.

Melhor que ele... sua mente trouxe então Kirishima. Os dois tinham uma amizade ótima, principalmente depois do resgate de Eri-chan. Eles começaram a fazer mais coisas juntos, conversavam muito e compartilhavam o entusiasmo por seus heróis favoritos. Deku, por pesquisar muito, sabia bastante sobre Crimson Riot. E os olhos de Kirishima brilhavam sempre que ele trazia uma informação nova sobre o herói que o garoto ainda desconhecia. Ele era sempre educado e atencioso, assim como Todoroki. Mas ele tinha certeza que o garoto preferiria alguém mais másculo...

... o que o fazia lembrar de Kacchan. Katsuki e ele eram amigos de infância. Frequentaram a mesma escola desde o pré. Moravam na mesma vizinhança, suas mães se conheciam. E ele o odiava. Aparentemente, Kacchan tinha aprendido a tolerá-lo agora, mas ele o odiava com todas as forças. Ele tinha certeza disso. Havia perdido as contas de quantas vezes apanhou do garoto, durante esses 16 anos. As coisas haviam melhorado um pouco, agora que ele tinha recebido o One for All, mas ainda assim. Apesar de tudo, tinha algo no coração de Deku que dizia que Bakugou sofria também, sozinho, em silêncio. E era por isso que Deku fazia de tudo para permanecer perto do garoto o máximo possível. Ele até aceitou os socos, chutes e explosões dele depois do incidente em Kamino. Aparentemente, Kacchan achava que ele seria o único a entender os sentimentos dele. E não tinha ninguém que entendia os punhos de Bakugou melhor do que ele.

Mas isso o incomodava profundamente. Ele havia aprendido desde sempre, com sua mãe Inko, a ser uma criança boa, a ajudar os outros, a ser educado e calmo. E apesar de acreditar que Kacchan também sofria, ele se sentia mal com frequência por aceitar a atitude do garoto. Algo não parecia certo. Algo não parecia realmente bom. Mas ele não sabia o que. Apesar de achar tarde, pensou em pedir ajuda. Em outro quarto, Pandora estava jogando videogame, quando viu a luz de notificações do seu celular acendendo.

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah! - Deku caiu da cama com um grito, quando a garota apareceu, ainda vestida de unicórnio, no meio do quarto dele. - Meu Deus, eu tenho que me acostumar que você faz isso. A gente não devia usar nossos poderes assim, Dora-san!

- Era uma emergência e eu tinha que treinar meu Shadow Step. Posso sentar na sua cama?

- Uhm... claro.

- Muita coisa pra um dia só né?

- Foi bastante mesmo. Pra mim às vezes é difícil me abrir, eu sou bem tímido.

- Tá tudo bem, faça as coisas no seu tempo.

Deku olhou para as mãos, pensou por um tempo e falou:

- Eu acho que me sinto como você, Dora-chan.

- Como eu em que sentido?

- Eu acho... que eu gosto de garotos e garotas também...

- Ok...

-... mas essa não é a parte estranha.

- ... certo. E qual é?

- Eu... uhm... - Deku respirou fundo - Eu sinto que a minha relação com Kacchan não é muito boa... Eu... acho que talvez... Uhm...

Pandora chegou perto e tocou de leve as costas da mão do garoto. Ele olhou pra ela, com algumas lágrimas nos olhos, e a garota entrelaçou seus dedos nos dele, usando a outra mão para segurar também. Ele sentiu um nó na garganta, mas se sentiu amparado também e continuou:

- Não... não é certo. Eu gosto de... algumas pessoas, mas gosto do Kacchan há muitos anos e... como ele age comigo é... não é legal. Ele não tem obrigação de gostar de mim... mas ele é grosso, ele não me respeita... Sinto que ele me tolera... Eu não gosto quando ele grita comigo... e eu sempre admirei ele e... às vezes eu... repito as atitudes dele porque... ele é quem tá perto de mim desde criança e... é minha referência...

- Como você se sente quando ele faz isso? - perguntou a garota.

- Eu me sinto mal. Percebo que às vezes ele tenta dizer coisas boas, mas parece que... é forçado pra ele... por obrigação. Como no dia que o Kaminari-kun me elogiou... Nunca sei se é um elogio ou briga. Eu agradeço porque me acostumei, a pensar que é o... "jeito" dele. Mas eu ficava muito mal normalmente com o que ele falava... com o que ele fala...

- Querer se afastar das pessoas pra cuidar de si não é egoísmo, você sabia? Você não precisa aturar isso se não quiser...

- Mas... como fazer pra isso? Como fazer isso parar? Eu não queria me afastar...

- Bom... comece dizendo não aos poucos. Vá ensaiando. Você vai conseguir.

- Posso pedir sua ajuda de novo, se for o caso?

- Com certeza! - disse Pandora, chegando perto do garoto-.

- São... tantos anos assim... quando eu entrei pra UA, comecei a me impor mas... ainda assim... é difícil sair disso...

- Eu entendo. Sinto muito que você tenha passado por essa situação. Quer um abraço?

Deku fez que sim com a cabeça. A garota ajoelhou na cama, abraçando o colega o melhor que pode. Ela conhecia essa dor. Já havia passado por isso. E sabia que ele acreditava que Kacchan tinha algo de bom, mas a situação atual doía muito. Naquela noite, Deku decidiu que daria seu melhor pra se ajudar e, nesse caminho, ele ia cuidar de si, para ser uma pessoa melhor, para ser o herói nº1; e tentaria também ajudar Kacchan a ser uma pessoa melhor.