"Game Over" - PARTE 1

65 10 66
                                    

"Game Over" é uma música do incrível Emicida.

_________________________________


1

O único som ali era o do HD sendo iniciado e apenas a tela do notebook iluminava o quarto. Já passava de meia-noite quando ela mandou uma mensagem para Mei Hatsume, avisando do que ia fazer. A amiga disse que teve ajuda, já que hackear páginas do governo e da polícia e levantar informações sobre criminosos internacionais não era muito bem a sua área. Mas ela conhecia alguém, uma pessoa que era quase uma "vigilante", atuando na internet, e já tinha vazado informações essenciais para a prisão de seres intocáveis no último ano.

A brasileira usava um moletom com o capuz levantado, sabendo que estava prestes a ser a cúmplice de um crime virtual. Espetou o pendrive no notebook, que logo reconheceu a nova unidade. O nome "Caixa de Pandora", aparecendo no disco E, fez com que a adolescente desse uma risada pela ironia e relembrasse os monstros que certamente encontraria ali dentro. Não haveria volta. Mas, talvez, apenas talvez, encontrasse ali alguma esperança.

Clicou no disco e viu uma pasta com o mesmo nome. Ao clicar, encontrou mais uma pasta e um arquivo de imagem simples com o com o título: "Abra-me". Engoliu seco, pensando o que poderia ter ali, e clicou duas vezes logo em seguida. Nela, lia-se:

"Saudações, viajante.

Toda moeda tem dois lados. Toda verdade, pelo menos três. Tudo na vida tem seu preço, e o meu é este: lembre-se de mim. Eu não vou me esquecer de você.

Se decidir que quer abrir essa caixa, me prometa que, quando eu precisar de você, saberá que sou eu."

Abaixo, em uma letra quase infantil, havia um garrancho que Pandora leu como "CRPK". Como lia aquela assinatura?! Iria pensar nisso depois. Em seguida, fechou o arquivo e deu dois cliques na pasta. Ela rodava um programa de encriptação, e pedia uma senha. Deu uma bufada pela inteligência da pessoa, fechou os olhos e deu um sorriso de canto. "É isso, não tem volta.", pensou. No campo à sua frente, digitou rapidamente: "euprometo" e a pasta se abriu.

A garota correu os olhos pela tela a sua frente. Mais pastas. "Himiko Toga", "Jin Bubaigawara", "Atsuhiro Sako", "Kurogiri/Oboro Shirakumo", "Tomura Shigaraki", "Suichi Iguchi", "Dabi (?)", "Magne Hikiishi - RIP", "Dr. Ujiko", "Experiências-Nomu". Decidiu começar pela marcada RIP, pela indicação de que, feliz ou infelizmente, era alguém com quem não precisava mais se preocupar.

Descobriu a história da fortíssima mulher trans que ingressou na Liga dos Vilões em busca de pertencimento, de liberdade em ser quem ela era. Sentiu as pontas das unhas machucarem a palma das mãos ao apertá-las, quando descobriu que ela foi morta por outro vilão, de nome Overhaul, numa demonstração de forças idiota entre o grupo dele e a Liga. Sentiu por ela, mais uma pessoa parte da comunidade LGBT+, que não se sentia pertencer em lugar algum, tendo um fim tão trágico. Lembrou de sua irmã, Marielle, e lamentou o mundo ainda ser tão pouco seguro para pessoas trans. Mas isso era algo que ela faria questão de trabalhar como pudesse, para mudar e melhorar.

Abriu então a pasta com o nome "Dr. Ujiko". Viu alguns recortes de jornal de anos atrás, boatos sobre desaparecimentos estranhos de crianças. Abriu as imagens dos Nomu de todos os tipos, avistados no Japão desde o ano anterior, e teve que ir ao banheiro às pressas com a visão de um igual ao que ela tinha enfrentado, só que maior. As lembranças daquele dia ainda causavam efeitos indesejáveis, e ela sentiu o corpo tremer de medo e raiva enquanto dava descarga no que era uma lembrança vaga do jantar daquele dia.

Marcou bem o rosto daquele sujeito, ia dar nele uns bons murros quando o visse. Sacudiu aquele pensamento pra longe, porque era melhor não vê-lo de jeito nenhum. Com certeza era mau sinal. Foi então para a pasta de Toga, e sentia um misto estranho de ódio e pena ao ler sobre a trajetória da garota, que realmente não parecia muito apta a conviver com as pessoas ao ler os relatos de depois do seu incidente na escola. Será que ela seria assim pra sempre? Não sabia responder, mas entendia que, por hora, ela era perigosa como era, e devia ficar atenta. A individualidade dela era forte, e era arriscadíssimo o que ela poderia fazer com o sangue da pessoa errada nas mãos.

CAIXA DE PANDORA - 1º TOMOOnde histórias criam vida. Descubra agora