CAIXA DE PANDORA - 1º TOMO

"Coração Bobo" - PARTE 2

3

A brasileira trocou a sobrancelha arqueada. Ele parecia sério, bem sério. Parecia inclusive que ele tinha ensaiado ou coisa do tipo, pela seriedade. Mas era uma seriedade engraçada, visto que ele estava muito preocupado com algo que poderia ser facilmente resolvido com diálogo. Mesmo assim, ela se manteve firme ali e não riu. Era um lado curioso de Hitoshi, que ela estava gostando de conhecer.

— Claro. - respondeu racionalmente - Sou toda ouvidos.

Shinso então se endireitou na cama. Pigarreou, quase arrancando uma bufadinha da menina. Puxou uma das mãos dela de novo e começou.

— A primeira coisa que eu queria dizer é que um meme nunca foi tão real na minha vida. "Eu não tava pronto pra ter essa conversa".

Ela quase riu. Quase.

— Eu realmente não... não estava pronto. A gente já teve problemas pra eu me declarar pra você. Eu sou uma pessoa bem insegura ainda, tenho bastantes problemas de autoconfiança ainda que eu tento trabalhar. Por mais debochado que eu seja ou mais seguro que eu pareça, ainda existem coisas que são difíceis de lidar pra mim.

— Como em qualquer um de nós. - completou ela.

— Sim, e eu ainda tenho medo de ser deixado pra trás e isso me congelou por inteiro. Pensei que, ao saber quando você iria, eu seria capaz de falar como me sinto sem me sentir mal ou pensar que isso me impactaria profundamente, mas eu estava errado. E isso afetou todo o resto.

Ele parou um pouco e fez carinho na pequena mão que segurava.

— E eu comecei a fugir, sentindo que tinha estragado uma das melhores coisas que aconteceu na minha vida nos últimos anos. Me sentia... envergonhado demais das minhas atitudes para... tomar uma atitude pra evitar a minha vergonha?!

Dora finalmente riu. Shinso colocou a palma da outra mão no rosto: dizer aquilo em voz alta o fazia parecer ainda mais idiota.

— Eu definitivamente soei como um imbecil, não foi?

— Pfff! Nãããão, quê isso. Foi uma frase excelente, parabéns, odiei. - disse a garota, debochando mais uma vez.

— Parecia ser a coisa certa a se fazer quando... eu pensei sobre isso a primeira vez.

— Você estava nervoso?

— Sim.

— E chateado?

— Também.

— Dica nº 1 para não tomar nenhuma decisão importante: não faça enquanto estiver sob efeito de fortes emoções.

Ficou calado mais alguns minutos. Ele realmente merecia uma mulher inteligente como aquela do lado dele?

— Como você tem essa maturidade toda? - perguntou.

— Me ferrando o bastante por fazer as coisas de forma errada. - disse ela, como uma cara seríssima, como se fosse uma mestranda apresentando um projeto inovador.

— ...

— ...

Shinso deu uma gargalhada. "Missão cumprida", pensou a garota.

— Ah... hahahaha... uh-uhhhum. Certo. - disse ele, voltando à compostura - A segunda coisa que quero dizer, - olhou nos olhos dela - com todas as letras é: eu não quero que você vá.

Mais silêncio. Olhares baixos, carinho nas mãos.

— Meus pais estão vendo o que pode ser feito. Mas a princípio, infelizmente, não tem muito o que fazer.