"Morador de Rua" - PARTE 3

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Tudo ali gritava "perigo" para a brasileira. Tentava impedir sua mente de oscilar entre ficar putassa de estar usando um caralho fedido de um vestido e ficar atenta com seus arredores. Respirava pausadamente para se acalmar, tentando observar atentamente, uma vez que usar a Mind Chat ali era impossível, já que não fazia ideia de como tinha sido o seu desempenho no treinamento em que desmaiou e não sabia que tinha conseguido se comunicar com mais de vinte pessoas ao mesmo tempo.

Sentiu um pouco de fome e logo pegou Alex pela mão para passar pela mesa de comida, e seu ódio se acendeu como uma pira de sacrifício quando, inadvertidamente, viu David ali na sua frente. Ela não tinha um segundo de paz.

— Olha aqui, eu tô de MUITO MAL HUMOR...

Naquela conversa breve, seu sexto sentido bateu, e decidiu usar sua Mind Chat, silenciosamente. A sensação que teve na mente dele foi estranha, como se entrasse numa caverna. Um rosnado infernal ecoava em sua mente, enquanto ela só conseguia ouvir isso e uma fala baixa, sussurrada, ecoando algo que parecia como "hex", "hex". Sentiu um arrepio percorrer seu corpo, e decidiu que ia ficar de olho só por precaução.

Voltou pra mesa e pensou qual seria o melhor plano de ação para talvez ter a vantagem de colocar as coisas em movimento antes dos vilões. "Mostrar vulnerabilidade e estar alheia ao que está acontecendo", repetiu mentalmente, lembrando dos ensinamentos de 1984. E simplesmente foi pra pista, decidida a dançar como se não houvesse amanhã.

Ouvia as músicas, fazendo de conta que não estava prestando atenção em nada. Ludmilla começou embalando a festa, e ela dançou "Solta a batida", quebrando até o chão, e não sentia vergonha de dançar como se, por um instante, estivesse no Brasil mais uma vez. Ouviu sambas enredo e se jogou também, girando o corpo como se estivesse na Sapucaí, observando, analisando, anotando mentalmente.

Depois de algum tempo, estava pensando em ir beber algo, quando escutou alguns acordes familiares. Aprumou o corpo para tentar ouvir, mesmo que parecesse que sua mente tinha entrado em modo de emergência e dificultasse muito que ela se ajustasse para entender. Demorou um pouco para compreender as palavras e perceber que, mais que conhecidas, aqueles notas fizeram seu corpo estremecer em um pavor por ela há muito esquecido.


"Eu 'to sofrendo tanto

Ela nem faz ideia

Cabelo 'tá crescendo

E a barba igual do Enéas

Já perdi o emprego e a casa vai hipotecar

Não tenho o que comer

Não tenho onde morar"


Tentava controlar os espasmos no corpo, e tentava recordar o porquê de eles estarem acontecendo, quando se recostou no balcão para respirar, e foi recebida por Bakugo, que olhou pra ela quase sem vê-la, dizendo:

— Psssst. Eu gossssto da cara de morrrrrta, massss ela não saaaaabe.

— É-É O QUÊ?! - seu coração vindo parar quase na boca, no mais puro sentimento de "AH PRONTO".

— Oh, desssssculpaaaa. - falou, virando o rosto pra parede - Pssst. Eu gooooooosto da cara de morrrrrrta, maaaaaassss ela nãããããão saaaaaabe.

Depois de dar tela azul da morte e consequentemente ter que brigar com ele por bons dois minutos, já que estava numa atitude infantil bem diferente da atitude infantil costumeira que tinha, avaliou rapidamente o garoto e constatou que ele estava fora do seu normal.

CAIXA DE PANDORA - 1º TOMOOnde histórias criam vida. Descubra agora