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Aquela havia sido uma semana atípica para o garoto de olhos verdes. A coletiva de imprensa, assistida pelo Youtube, revirou em seu íntimo uma inquietação gritante. Desde o ataque à USJ, o ataque juntamente com o incidente de Stain, entre outros, nada o havia deixado com esse gosto amargo permanente na boca, exceto o sequestro de Bakugo. Mesmo que tivesse defendido as crianças do hospital com tudo o que tinha, ainda sentia como se tivesse destruído seus braços no processo e estivesse com eles presos em talas, como no fim do acampamento de verão.
E no meio disso tudo ainda haviam as obrigações como aluno, o cuidado com sua mãe (pra ela não ter um treco, ele tinha prometido), os deveres como sucessor do One for All e os problemas de um adolescente comum. E naquele momento não havia como dizer o que era mais chato de lidar.
Ele lembrou de quando os curiosos da escola se amontoaram na sala antes do festival desportivo, depois do ataque à USJ. E sentiu as mesmas vibrações naquela quarta-feira, quando um bando de gente se aglomerou na frente da sala, procurando pela "matadora de Nomu". Quem teria espalhado aquilo? E pra que? Por que não deixavam a garota em paz?! Naquele dia, ele sentiu que foi tomado por uma raiva difícil de controlar, e se permitiu ficar quieto, para evitar maiores problemas.
Aquela raiva não era apenas raiva. Era um misto dela com frustração e coisas engasgadas dentro dele. E aquilo o surpreendeu, porque depois da briga com Kacchan, ele e Pandora haviam se aproximado muito, mas depois que dormiu mais que a cama no quarto de Kirishima, eles se tornaram praticamente inseparáveis.
Era como se fossem amigos de muito tempo, conversavam horas a fio sobre tudo e nada. Compartilhavam anotações sobre os heróis em seus cadernos, viam séries, jogavam, riam a toa. Mas nos dias depois do ataque, algo havia ficado... estranho. Na segunda e na terça, eles haviam se encontrado para conversar e jogar Kingdomino. Foi divertido, a brasileira sempre debochada e risonha, mas algo parecia... fora do lugar. E por mais que perguntasse, "tá tudo bem" era só o que ouvia.
Naquela quarta, All Might mandou mensagem um pouco depois de terem se encontrado, dizendo que Aizawa não tinha treinos agendados para aquela semana (ele ia dar uma folga para a estrangeira). Pediu que o garoto colocasse seu uniforme e fosse para o ginásio.
Passaram umas boas três horas ali, tentando ver como a individualidade se manifestava. Midoriya estava começando a pegar o jeito com a individualidade, e não foi difícil para ele manifestar a "Float"... a cinco centímetros do solo, sem equilíbrio algum. Decidiram continuar no dia seguinte depois da quinta vez que o garoto deu com a cara no chão.
Na quinta-feira, Midoriya já estava dentro do ginásio há uma hora e parecia que estava num daqueles simuladores que usam na NASA, completamente desequilibrado, instável e quase colado ao chão. All Might coçou a cabeça e disse pro garoto, esticando a garrafa de água pra ele.
- Midoriya shonen... estou sentindo que não serei o melhor professor pra isso, também. Acha que poderíamos usar alguma ajuda?
- ... AH! - disse ele, soltando, a boca da garrafa - Pode ser uma boa ideia, All Might.
- Me dê uns minutos então.
Os olhos verdes observaram o ídolo de infância saindo de perto, e falando muito educadamente ao telefone, gesticulando com entusiasmo. Voltou pra perto dele, com um sorriso de satisfação que acentuava suas olheiras de um jeito divertido, e disse:
- A qualquer momento, agora.
A pequena garota apareceu diante deles depois de uns cinco minutos, e o peito de Midoriya se revirou em um mix de sensações diferentes. A calça legging preta brilhosa contrastava com o tênis e moletom rosa choque, fazendo com que ela parecesse mais doce e menos durona.
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CAIXA DE PANDORA - 1º TOMO
Fanfiction[NOVOS CAPÍTULOS: quarta-feira, antes do meio-dia] Link para o 2º Tomo: https://www.wattpad.com/story/253126274-caixa-de-pandora-2%C2%BA-tomo Shinso finalmente começa na turma 1-A na Academia de Heróis e vê a chance de seu sonho se tornar realidade...