"A Mão que Aponta" - PARTE 3

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Na noite daquele mesmo domingo, Bakugo andava em círculos dentro do seu quarto na última meia hora. Olhava sua escrivaninha, o relógio, e voltava pra frente da porta. Se sentia estranho, nunca tinha feito aquilo, e tinha confiado na olhos de guaxinim, na orelhas e na vudu para que as coisas dessem certo.

As sessões de terapia tinham ensinado muito. Demorou um tempo até se abrir com a psicóloga e falar dos acontecimentos daquele primeiro ano da UA, que eram de conhecimento de todos, e muito mais pra falar de coisas que nunca tinha conversado com ninguém, como por exemplo como sua mãe se comunicava com ele e como aquilo fez com que o ideal dele de personalidade fosse o de quem grita mais.

Ao longo desse tempo de tratamento, ele entendeu que terapia é algo que é bom pra muita gente. Começou a se comunicar melhor, a controlar sua raiva e estava dando passos largos para deixá-la cada vez menos evidente. Era difícil demais ainda lidar com ciúmes, mas sabia que era uma questão de tempo. Ele estava aprendendo também que não doía admitir que as pessoas estavam certas, e era o que ele ia fazer quando visse a cara de morta de novo.

Ouviu as batidas na porta e olhou pra ela com sobressalto. Passou a mão pelo cabelo, deu uma rosnada, respirou fundo e foi abrir. Ali, do outro lado, o cabelo baixo do ruivo era a segunda coisa que denunciava a saída recente do banho. A primeira era o perfume, amadeirado com notas de âmbar, que fazia o loiro tremer nas bases.

— E aí Bakubro? - disse ele, num sorriso mostrando os dentes afiados.

— Entra, Kirishima.

Kirishima. Enquanto passava pela porta, o adolescente lembrava de ter sido a primeira pessoa que o outro chamou propriamente pelo nome na escola, e não por algum apelido que ele tinha tirado da própria cabeça. Sentia um misto de orgulho e confusão, porque não entendia se o fato se devia ao crush se achar melhor que os outros o suficiente para não decorar nomes quando começou o ano letivo ou se era porque a memória dele era horrível mesmo. De qualquer forma, ouvi-lo falando seu nome era música para seus ouvidos.

— Uhm... brigado por ter me chamado! Cê disse que... queria passar um tempo juntos mas... não me disse o que tinha em mente. - falou, um pouco sem jeito.

— Senta aí. - disse o dono do quarto, apontando pra cama.

O ruivo se jogou na cama, e ajeitou-se como pedido. Bakugo parecia tenso quando lhe deu as costas, para pegar algo em cima da escrivaninha:

— Nossa, que cheiro bom! Você tá sentindo, bro?

O loiro pensou que Kirishima quase nunca sabia quando calar a boca. Ele ter gostado do cheiro era um bom sinal, pelo menos. Alcançou a bandeja, e se virou andando na direção da cama, colocando o suporte em cima do colo do ruivo, que olhava pra ele como uma pessoa que acha uma nota de dinheiro perdida no bolso.

— Fiz carne. Pra você.

— BAKUBROOOO É MINHA COMIDA FAVORITA!! - disse, visivelmente emocionado.

— Tch, eu sei. - resmungou - Eu não sabia o que você ia gostar de assistir, mas... me disseram que você gosta disso aqui.

— WOAAAAH, É UM EPISÓDIO DE WRESTLING???! BROOO!

— Eu acho estúpido, mas não vai doer assistir um ou outro.

O garoto de dentes pontudos sorriu de novo e o outro deu um sorrisinho de lado, o melhor que conseguia dar no momento. Passou os dedos pelos cabelos loiros e, depois de algum tempo, disse:

— Senta do meu lado então. Vamos assistir e comer juntos.

Bakugo concordou com a cabeça, e puxou as cobertas para cima das pernas dos dois. Kirishima já mastigava com gosto, enquanto ele colocava o episódio pra tocar. O ruivo não sabia o que tinha sido feito com aqueles espetos de carne bovina e vegetais, mas aquilo estava divino e se não tivesse bastante, era capaz de ele comer os espetos e a bandeja.

CAIXA DE PANDORA - 1º TOMOOnde histórias criam vida. Descubra agora