Capítulo 79

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De manhã me troquei fiz minha higiene. A Alice acordou cedo tomou café escovou os dentes e deitou no sofá. Logo a campainha tocou, era a pessoa que eu convidei. Deixei a porta aberta para as meninas entrarem... – Oi entra... Obrigada por ter vindo.

XX: Imagina...

Eu: Alice... Essa é a Megan, ela tem 20 anos e Megan essa é minha afilhada Alice.

Alice: Oi, muito prazer, desculpa to de pijama – apertou a mão dela.

Megan: Imagina. Não se preocupe. – elas se sentaram de frente uma pra outra. – Você não deve estar entendendo nada né?

Alice: Não mesmo – riu sem graça.

Megan: Eu tive anorexia, aos 15 anos – ela tremeu ao ouvir me olhou rapidamente e voltou a olhar para a Megan. – E eu sofri muito por isso – eu toquei a campainha das meninas e fiquei em pé ouvindo. As meninas chegaram e ficaram num canto em silêncio ouvindo a história. – Eu comecei com a bulimia, eu comia tudo que eu queria depois vomitava e achava que conseguiria parar. Um ano depois eu ficava quase uma semana sem comer, só bebia água, e depois comia tudo que via pela frente. Minutos depois eu sentia culpa e eu vomitava. Minha mãe era modelo, e eu achava que deveria ter o corpo perfeito como o dela pra chamar a atenção dela. Ela me teve muito cedo e parou de fazer o que mais amava que era desfilar. Depois que eu nasci ela cuidou muito do corpo dela, mas nunca mais desfilou e inúmeras vezes ela jogou isso na minha cara quando brigávamos. Que eu acabei com os sonhos dela. Eu fiquei com isso na cabeça e que eu deveria ser modelo porque ela projetaria em mim o que ela perdeu por minha causa – ela ouvia tudo com atenção. – Meses depois eu estava 25 quilos abaixo do meu peso e eu não via que minha mãe estava sofrendo, que meu pai estava sofrendo. Eu obrigava minha mãe a tirar duas fotos minhas por dia, pra poder ver as mudanças, se eu tinha engordado muito se eu tinha perdido peso e se eu achasse que engordei era terrível. Um dia eu desmaiei e acordei no hospital 20 dias depois desesperada e perguntando quantas calorias tinha o soro. Eu estava obcecada. Eu cheguei no limite extremo pra alcançar a perfeição e quase me matei por isso. Eu fiz terapia, tomei inúmeros remédios, nada funcionava, meus pais batiam cabeça porque não sabiam me ajudar e eu surtei até que eu sumi e tentei me matar. Fiquei em coma por 10 dias. Eu precisei de internação numa clinica de reabilitação e eu me senti a pior pessoa do mundo. Eu vi minha mãe chorar desesperada porque eu fiz isso por ela sendo que ela nunca me pediu isso, ela nunca quis isso. Depois do meu tratamento eu fiz um curso de choque para evitar futuras internações de meninas como você.

Alice: Eu... – deixava as lágrimas caírem livremente – Eu me sinto impotente. Eu passo o dia muito bem e quando chega a noite eu como e eu quero vomitar, eu não consigo me olhar no espelho, eu não consigo evitar isso.

Megan: Eu sei... Eu sei exatamente como é esse sentimento, mas você precisa dizer a você mesma que está doente e precisa de ajuda. Você precisa verbalizar isso. Eu só cai na real quando eu bati de frente comigo mesma. – ela levantou pegou na mão da Alice e a levou para a parte espelhada da minha parede. Ela pegava de corpo inteiro. – Pode tirar sua blusa? Só tem mulheres aqui... – ela tirou. Vi a Lauren e a Camila colocarem as mãos na boca, elas não viam o corpo da Alice, como ela estava magra, porque ela não se vestia mais na frente delas.

Megan: Se olha – ela balançou a cabeça negativamente e soluçou olhando para o chão. – Alice, olha pra você. Olha para o seu corpo. – ela olhou e soluçou ainda mais. – Esse corpo não é seu. Você não é magra e abaixo do peso assim. Eu recebi sua foto – mostrou o celular. - Olha como seu corpo era lindo e olha agora... Essa não é você, essa não é a Alice Cabello Jauregui encantadora, divertida, inteligente que tem duas mães incríveis, e as melhores tias do mundo. Traz essa Alice de volta... Queira essa Alice de volta. Não importa quem tem colocou onde você está agora, o que importa nesse momento é que você vai superar, mas primeiro precisa admitir que está doente. Só saber não é o suficiente as vezes. As vezes a gente precisa dizer para nós mesmas, verbaliza isso... – o silêncio se formou e só ouvíamos o choro dela e a gente se controlava para não chorar alto.

Alice: Eu... – suspirou – Eu tenho anorexia e – soluçou – Eu preciso de ajuda – saiu como num grito de socorro e ela foi caindo e a Megan a pegou se sentando no chão e a acolhendo. O choro dela era desesperador, mas parecia de libertação. Eu fui me aproximar num ato desesperado e a Lauren também e a Megan fez um sinal com a mão e pediu para ficarmos onde estávamos.

Megan: Vai ficar tudo bem... – parou a mão no ar – Não... Ela precisa disso... Faz parte da cura dela. – eu me ajoelhei ali e um filme passou na minha cabeça, vi a Alice nascendo, nascendo dentinhos, dando o primeiro passo, a vida dela toda passou diante dos meus olhos. Era a minha menina. Doia muito ve-la naquela situação. – Você vai ficar bem. – saímos da sala e fomos para o meu quarto. A Lauren desabou no choro e a Camila a abraçou.

Lauren: Ela... Ela está muito magra eu não tinha notado. Meu Deus a minha filha...Eu vou pedir uma licença vou parar de trabalhar. – começou a desesperar. Normalmente a Mila que surta, mas ela tava tão em choque que ela não conseguia se expressar naquela loucura dela como ela sempre fazia.

Eu: Lauren calma – a segurei. – Não é disso que ela precisa. Ela precisa de normalidade, o máximo possível.

Mila: Onde conheceu a Megan? Como ela chegou até aqui? – se sentou e eu me sentei também.

Eu: Eu fui advogada da mãe dela num processo de herança familiar a alguns anos e após uma audiência eu dei carona pra ela, porque ela tava sem carro nesse dia, e esse dia foi quando a Megan tentou se matar. Eu a levei ao hospital e fiquei lá até que alguém da família chegasse para ficar com ela. Enquanto esperávamos, ela me contou a historia dela. Depois eu conheci a Megan ela é uma menina incrível e ela aprendeu muito com tudo que ela viveu. Ela já ajudou mais de 100 meninas com a anorexia. Eu fiz uma doação ao centro comunitário que ela apoia que ajuda adolescentes com distúrbios alimentares e fiquei próxima dela por isso então quando a Alice começou a passar por isso eu pensei nela, conversei com ela pra saber lidar com isso e ajudar vocês, e agora chegou o momento dela entrar em ação. Como viram, ela tá mais preparada que muita gente.

Lauren: E agora... Como vai ser?

Eu: Ela vai levar a Alice para um grupo de apoio e vocês terão o mesmo suporte no grupo de pais, para saberem lidar com as crises. – conversávamos e ela bateu na porta.

Megan: Oi... Ela dormiu. Chorou muito, falou bastante – se sentou.

Eu: Essa é a Lauren e essa é a Camila mães da Alice. – se cumprimentaram.

Megan: Ela vai segunda no grupo de apoio comigo. É a noite e no mesmo horário tem o grupo de apoio aos pais. Seria bom se vocês fossem. Não vai ser fácil, ela ainda vai vomitar, ela não vai parar imediatamente. Ela vai ter momentos de depressão, de profunda tristeza, de raiva. Temos psicólogos preparados para lidar com isso tanto para conversar com paciente quanto com os pais. Ela faz terapia ela me disse, mas a terapia sem um profissional capacitado pra esse tipo de caso não é muito eficaz. A compreensão não é a mesma entende? – conversamos por uma hora e ela foi embora. Eu as acompanharia no grupo. 

CAMREN: QUANDO VOCÊ FOI EMBORA...Onde histórias criam vida. Descubra agora