Capítulo 86

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CAMILA NARRANDO...

Eu bebi demais. Eu não faço isso a mais de 15 anos. Eu dormi sem jantar, sem falar com a minha mulher ou qualquer outra pessoa. Meu celular tinha inúmeras mensagens do meu pai, da minha irmã e da Normani. Eu não atendi ninguém. Eu não conseguia falar, eu não conseguia pensar, eu não conseguia sentir nada. Eu só queria dormir. Dormi até o dia seguinte e quando acordei não tinha mais ninguém em casa. Tomei café da manhã sozinha, dei uma volta com o Fred voltei tomei banho e fui para empresa. Meu pai logo chegou.

Pai: Hija?

Eu: Oi papa... Entra...

Pai: Bom dia – me deu um beijo e sentou.

Eu: Bom dia... Quer um café?

Pai: Quero – o servi e me servi também. – Fechei o negócio com o Fernando Malheiros vai ser um grande negócio para nós e pra ele também.

Eu: Que bom pai.

Pai: Ele é uma ótima pessoa. Bem equilibrado, centrado, gentil, inteligente.

Eu: Fala logo o que quer falar pai. Vai ficar aqui elogiando ele pra mim, porque?

Pai: Sabe melhor do que eu o quanto sofrendo quando sua mãe fez tudo o que nos fez. Ela foi cruel principalmente com você com tudo que ela falou a você. Ela se mudou daqui, mudou de vida, e depois de anos encontrou o Fernando e depois de mais algum tempo decidiram oficializar o relacionamento deles. Quando ele me procurou a algum tempo atras, eu não sabia de nada disso. Ele me falou do shopping de como ele queria tudo e disse que começaria a planejar e se estávamos dispostos a trabalhar com ele. Antes dessa reunião de ontem, ele me procurou há duas semanas e me contou tudo, desde quando conheceu sua mãe, até a indicação dela e a descoberta do câncer. Então eu falei com a Sofia primeiro já que nos falamos em Miami e viemos pra cá marcar essa reunião com você. Sua mãe pode estar morrendo filha. Então eu quero que pense em tudo isso, e que abra seu coração. Ela quer ver você, e sua irmã.

Eu: Pai, isso é loucura.

Pai: Se ela morrer, vocês vão carregar isso pra sempre. Escuta o que ela tem pra dizer. Ela só quer ver vocês, quer conhecer os netos.

Eu: Você falou com ela?

Pai: Sim. Ela está no NY Presbyterian – Columbia/Cornell...

Eu: É o hospital que pertence...

Pai: A universidade que a Alice estuda. Ela está em tratamento lá, vai ficar internada por 20 dias por causa da radioterapia. Só escuta o que ela tem pra dizer e depois tome as decisões que quiser filha.

Eu: Eu vou pensar pai. Vou conversar com a minha mulher que a essa hora tá sem entender nada.

Pai: Tudo bem amor... – conversamos sobre trabalho e ele saiu. Trabalhei o dia todo, e quando saia fui tomar um café com meu pai, ele ia embora pra Miami então tomamos um belo café da tarde e eu fui pra casa. Cheguei cumprimentei minha mulher e fui tomar um banho. Precisava contar tudo isso pra ela. Sai do banho e ela entrou no quarto.

Lau: A Alice tá louca da vida com o estrago que você fez na pintura do carro dela. Disse que tá pensando até em te pedir um carro novo – riu.

Eu: Por um arranhão? Ela tá querendo me levar a falência. Ela tem um carro zero e lindo, ela está querendo se aproveitar de mim – fiz bico e ri. – Senta aqui amor – Subimos na cama. – Primeiro quero te pedir perdão, por tudo que aconteceu ontem. Por ter bebido daquele jeito e ter dirigido, por ter batido no carro da Alice, por ter te deixado sem entender nada.

Lau: Me assustou, fiquei sem entender nada mesmo.

Eu: Lembra da reunião importante que teria com meu pai e um empresário ontem?

Lau: Sim.

Eu: Fernando Malheiros. Multi milionário dono de rede de shoppings e quer construir um shopping bem futurista aqui em Nova York e indicaram nossa construtora como empreiteira pra tudo, desde o projeto a execução da obra. Um projeto de mais de um bilhão de dólares. Ele foi indicado pela minha mãe. – ela assustou.

Lau: A Sinu?

Eu: Sim... Minha mãe é casada com ele a cinco anos, estão juntos a mais de cinco anos, mas oficialmente são casados nesse período.

Lau: Meu Deus... – ela tava chocada.

Eu: E, eles estão residindo aqui em Nova York agora, porque... – respirei fundo – Ela está com câncer em estágio 3. Estava no útero e ela retirou só que agora está no seio e no cérebro. Ela está fazendo um tratamento bem agressivo, com quimio e radio além da interliocina 2. Ela tem chances de ser curada de mais ou menos 20%. E ela quer me ver, quer ver minha irmã, quer ver os netos. Mas... Eu não sei o que fazer. – comecei a chorar e ela me abraçou.

Lau: Amor... Meu Deus que situação. Você quer fazer isso? Quer encontra-la?

Eu: Sinceramente? Não... Ela tentou matar você e minha filha. Ela desde o começo foi contra nosso casamento, quis nosso mal, foi horrível. Por que vou expor minhas filhas a isso agora amor? Não quero minha mãe perto delas. Não quero nada disso.

Lau: Tudo bem eu te entendo. Mas e você e a Sofi? Vocês duas vão falar com ela? Ela pode morrer a qualquer momento. Eu sei que ela foi horrível, mas ela é mãe de você, sendo boa ou ruim amor. As vezes ela quer pedir perdão por tudo.

Eu: Eu não sei. Eu não sei o que eu quero. Eu não sei o que fazer. Eu não sei o que eu quero, eu não sei o que fazer amor. Eu não sei... Dói. Eu me sinto perdida. Ela me disse coisas horríveis, ela nunca me quis de verdade. Ela me destruiu como pessoa, eu fiquei doente por causa dela. Porque agora que ela tá morrendo, ela vai querer pedir perdão pra ir em paz e eu tenho que passar por cima de todas as feridas que ela abriu em mim? Eu posso estar sendo um monstro, mas eu na acho justo.

Lau: Não amor, você não tá sendo um monstro. Eu te entendo e eu apoio a decisão que você quiser tomar tá bom? – me abraçou.

Eu: Desculpa amor eu nem perguntei ontem da consulta. Vamos ter dois bebês mesmo?

Lau: Sim... vamos amor – sorriu tímida.

Eu: A gente tá meio velha pra isso, mas vamos tirar de letra...

Lau: Ai amor... 42 anos e você 41 e dois bebezinhos.

Eu: Pois é... – olhei pra parede. – As meninas vão surtar.

Lau: Sem dúvida. Será que vamos ter que nos mudar?

Eu: Ah amor, acho que não. Esse apartamento é enorme, ainda temos 3 quartos vazios, ainda poderemos ter mais um bebê se quisermos ou transformar o outro quarto em brinquedoteca.

Lau: Tá maluca? Outro filho? Não tava preparada nem pra esses dois. – falou assustada.

Eu: Eu to brincando amor. – ri e a beijei. – Mas vamos ter dois bebês, eles ficarão juntos e quando crescerem um pouco poderemos separá-los de quarto e o ultimo quarto poderemos fazer uma brinquedoteca ou deixar como quarto de hospedes mesmo.

Lau: É... É sim... – falou meio triste.

Eu: Tá acontecendo alguma coisa que eu não sei?

Lau: Não amor, tá tudo bem... – me deu um beijo. – Vou descer pra ver o que a Cindy deixou para o jantar.

CAMREN: QUANDO VOCÊ FOI EMBORA...Onde histórias criam vida. Descubra agora