Capítulo 98

1K 60 1
                                    

LAUREN NARRANDO...

Um tempo se passou, e decidimos passar o natal em Orlando. Meus pais e meus irmãos foram para lá, meu sogro com a esposa e minha cunhada com o marido e as crianças também. Ally com a família não foram, eles foram para San Antônio família dela no Texas e Dinah com Normani foram para Santa Ana na California e passariam o ano novo com a família da Normani no Texas também. Voltamos para NY no dia 10 de Janeiro. Eu estou com sete meses e meio de gravidez, esperamos duas meninas. Meu sogro falou que só fazemos mulheres, que ele vai enlouquecer. O procedimento foi eficaz, mas não como era pra ser. Minha gravidez ainda era de alto risco e tinha uma chance muito grande das bebês nascerem prematuros. No dia 15 de janeiro, tinha um evento voltado para a saúde da criança e do adolescente e a Megan foi convidada a participar e palestrar sobre Anorexia e Bulimia e o convite foi extendido a nossa filha que aceitou e estava uma pilha de nervos, mas estava confiante. O evento era o dia todo e a palestra era no fim da tarde. Chegamos lá e a Alice já estava lá com a Megan. Nicole, Ally, Troy, Jaiden, Mani, DJ, Lily e Nina também foram, e a Mel foi com a gente. Iamos filmar para enviar para os nossos pais. Logo chegou uma mensagem dela.

"Mamãe, vem até aqui atrás dos bastidores. Segunda porta da lateral direita, fim do corredor. Alice"

Eu: A Alice me mandou mensagem. Vou até lá.

Camz: Quer que eu vá?

Eu: Não precisa, já volto – levantei e fui até lá. – Hei o que houve? – ela me abraçou.

Alice: Acho que não consigo – ela tremia.

Eu: Claro que consegue filha. Você já fez isso lá no centro comunitário naquele evento lembra?

Alice: Mas lá eu não contei a minha experiência. Eu ainda era uma paciente em recuperação, e eu falei pra 200 pessoas, e aqui tem umas 700...

Eu: 950...

Alice: PIOROU... – ops, piorei.

Eu: Filha, vai dar tudo certo, abra seu coração e fale. Você vai ser advogada, você é ótima discursando, arguindo. Vai dar tudo certo... – a abracei – Eu te amo.

Alice: Te amo... – voltei pra lá. Logo a Megan entrou e foi um show de palestra. Em seguida ela chamou a Alice.

Megan: Temos uma convidada muito especial aqui. E ela vai falar um pouco sobre ela. Alice Cabello Jauregui... – todos aplaudiram. Ela entrou acenou para todos, abraçou a Megan e se sentou no sofá no banco ao lado dela.

Alice: Boa tarde pessoal – todos responderam. – Meu nome é Alice Cabello Jauregui, eu tenho 19 anos. Não falarei de dados de quantos adolescentes e jovens existem passando pela bulimia e a anorexia no mundo, porque isso a Megan já falou, mas quero dar um testemunho do que eu vivi. A 1 ano eu conheci um garoto e me apaixonei. O conheci na faculdade e em pouco tempo começamos a namorar. Com um mês de namoro, quando saímos para almoçar, até mesmo na cantina da faculdade, ele controlava o que eu comia, dizendo que era pra eu não engordar. Mas eu não via isso como um abuso e sim como um cuidado, afinal, eu estava apaixonada. Duas semanas depois eu fazia academia obsessivamente 2 vezes ao dia por quase 2 horas. Um mês mais tarde fomos a uma festa e fomos servidos e eu comi os salgadinhos da festa normalmente e quando íamos embora ele estava muito nervoso e eu não entendia nada, até que perguntei porque ele estava assim e ele disse que eu comi como uma baleia desesperada – era a primeira vez que eu ouvia aquilo tudo, assim como a Camila, Dinah, Ally e Mani, mas as meninas não pareciam espantadas. – E nesse dia eu cheguei em casa e vomitei. Pela primeira vez eu induzi o vômito. E a partir disso eu comia pouco e vomitava, ou fazia dietas malucas, e malhava muito e vomitava também. Fiquei 3 dias sem comer nada, só tomando água ou suco e mesmo assim vomitava. Com 5 meses de namoro, ele me humilhava dependendo da roupa que eu estava dizendo que tal roupa me deixava gorda. Me comparava com modelos, dizendo que aquilo era mulher de verdade e o resto era lixo – tive até um enjoo ouvindo aquilo. – E depois desse comentário eu terminei com ele. Ele disse que eu me ofendia a toa e que ele falava aquelas coisas para me ajudar e eu o deixei falando sozinho. Dois dias depois eu estava apresentando um trabalho e comecei a passar mal até que eu desmaiei e acordei no hospital. 10 quilos abaixo do peso ideal, com uma anemia muito forte e muito deprimida. Eu acordei me sentindo a pior pessoa do mundo. Minha outra mãe não sabia de nada do meu namoro. Já pensei até " não morri depois desse desmaio, mas a mama vai me matar" – todos riram e a Camila riu sem graça. – Eu tenho duas mães pessoal pra quem não está entendendo, eu sou filha de duas mulheres. – esclareceu. – Comecei a fazer tratamento psicológico e psiquiátrico, mas não estava ajudando porque as pessoas que tentavam me ajudar não estavam conseguindo me compreender e eu me sentia frustrada por não conseguir ficar bem e ainda assim induzir o vômito. Um dia eu tive um surto. Eu estava tão saturada, tão desesperada que eu chorei muito, minhas mães ficaram loucas comigo e eu tive que ser sedada por elas. Na manhã seguinte acordei muito cedo me sentindo a pior pessoa do mundo, sai de casa de pijama, roupão, com minha carteira na mão o celular e o carro. Passei um dia inteiro num parque que eu ia sempre que precisava pensar. Eu estava muito mal. A frustração das minhas mães por não conseguirem me ajudar me deixava muito pior. Minha madrinha Dinah Jane, um dos amores da minha vida me encontrou lá e me levou pra casa. No dia seguinte eu conheci a Megan. Ela me contou a historia dela assim como estou contando a minha. Pela primeira vez eu verbalizei que eu estava doente, tinha anorexia e precisava de ajuda. Eu senti uma dor, tremenda – se emocionou – E eu topei conhecer o grupo de apoio que ela ajudava e é onde estou até hoje e tem um trabalho espetacular. Eu não melhorei da noite para o dia, nem em um mês, ou dois, ou três. Nesse meio tempo eu ainda fui internada com uma anemia extremamente forte e tive uma parada cardíaca, precisei fazer transfusão de sangue, porque eu por pouco não virou uma leucemia. Eu demorei alguns meses, pra me recuperar e eu me recuperei. A cada vez que eu saia das reuniões do grupo de apoio ou da psicóloga eu voltava um pouco mais para a minha realidade. Eu falava para mim mesma... Eu sou a Alice, tenho duas mães lindas e sou muito abençoada por elas serem minhas mães, Camila e Lauren, duas mulheres guerreiras. Uma é empresária e a outra é juíza. Tenho uma irmã que me enlouquece as vezes mas é muito minha parceira e eu a amo muito chamada Melissa, tenho madrinhas incríveis, tias maravilhosas e um tio incrível, avós incríveis. Eu faço faculdade de Direito, estou no quarto período. Eu estudo na Columbia, uma das melhores universidades do país. Moro em Manhattan, no Upper East Side. Tenho amigos maravilhosos, fiz mais amigos incríveis. Sou privilegiada. Muito privilegiada, mais até do que eu mereço. Eu achei que não teria mais jeito que nunca me recuperaria, mas me recuperei. Eu estou aqui, saudável, feliz e uma única pessoa quase me fez perder tudo isso. Não vale a pena... não importa se você se sente mal agora, você vai ficar bem se você quiser ficar bem. Estamos aqui para ajudar você. Conte com a gente. Dê o primeiro passo que a gente vai caminhar com você. – todos levantaram e a aplaudiram. Eu chorava orgulhosa da minha menina e aliviada de saber que ela estava tão bem. Alguém da plateia gritou.

CAMREN: QUANDO VOCÊ FOI EMBORA...Onde histórias criam vida. Descubra agora