"Well life has a funny way of sneaking up on you, when you think everything's okay and everything's going right...
And life has a funny way of helping you out, when you think everything's gone wrong and everything blows up in your face..."
(Ironic – Alanis Morissette)
Acordei de manhã com um pouco de dor de cabeça e a campainha de casa não parava de soar. Ergui-me pelo sofá, lenta e confusa. A garrafa de vinho estava vazia e derramada ao tapete, o aparelho de som ligado e nenhuma música a ecoar. Encarei o relógio de parede constatando que eu estava atrasada para o trabalho daquela manhã, mas ainda eram apenas oito e meia. A campainha ainda soava de forma a denunciar alguém aflito do outro lado então me levantei atrapalhada e fui até a porta de entrada, revelando um Daniel Rhodes aflito a andar pela calçada mexendo no celular. Sorri, mas quando ele me encarou percebi meu estado e fechei a porta praguejando mentalmente.
— Annie!? Annie! Abra para mim, meu amor!
Ele gritava do portão e então eu passei a mão nos cabelos que começavam a crescer em um tamanho channel a fim de disfarçar o despenteado. Sacudi minha roupa e limpei os cantos dos olhos, então abri novamente sorrindo.
— Amor! – ele exclamou preocupado a me ver abrindo o portão pelo botão automático ao lado da minha porta, e entrou me observando atentamente: — O que houve? Eu estou te ligando há uma hora...
— Ah, bem, me desculpe! – eu falei o sentindo se aproximar e vindo em minha direção para me beijar, e então virei o rosto.
O beijo de Rhodes pegou em minha bochecha e ele sem entender me indagou com o olhar, até eu explicá-lo:
— Acabei de acordar! – dei passagem para ele entrar e Rhodes, ainda confuso, observou ao nosso redor — Eu acabei abrindo um vinho ontem à noite e adormeci no sofá! Como pode ver, perdi a hora, e meu telefone descarregou!
Daniel me observava enquanto eu me apressava em ajeitar o sofá e repousar a garrafa de vinho sobre a mesa de centro. Ele então pegou a garrafa vazia encarou-a e se aproximou de mim. Enquanto eu ajeitava a almofada do sofá, senti uma de suas mãos em minha cintura a fim de virar-me para ele, então Daniel encarou a garrafa novamente, e encarou meu rosto. Colocou-a de volta à mesa e com a mão livre tocou-me pela nuca.
— E chorou a noite toda, pelo visto.
Mantive-me em silêncio pensando em qualquer desculpa que não deixasse nítida a verdadeira razão por eu ter chorado. Não queria magoar Daniel com a minha insegurança.
— Eu não conseguia parar de pensar na Louis... Eu... Meio que surtei de saudade ontem... – ele me analisou meticuloso — Eu sei! Eu sei que é bobeira, e ela está com o pai, mas...
— Annie... – Daniel me interrompeu fazendo-me encarar seus olhos de forma contundente com aquela mão que segurava minha nuca: — Sabe por que eu estava preocupado igual a um louco lá fora, apesar de serem apenas oito horas da manhã e saber que você ainda poderia estar dormindo?
Neguei silenciosa e Daniel suspirou continuando:
— Por que eu vi como você estava abalada com algo ontem. Telefonei ao bistrô, você ainda não havia chegado. E antes de ligar à Meg para saber se estava tudo bem, eu tentei falar com você e não consegui, mas sei que você não deixaria seu telefone desligado com a Louis longe. Então eu só conseguia pensar em você bebendo sozinha e sofrendo por alguma coisa que eu não sei o que é, mas tenho uma suspeita...
Engoli seco e mordi os lábios, preocupada em como sair daquela situação. Eu não queria mentir para ele, então na hora apenas pedi para ele me aguardar enquanto eu escovava os dentes. Daniel silenciou afirmando positivamente com a cabeça e me deixando sair para meu quarto.
Ouvi alguns barulhos na cozinha enquanto adentrava à minha suíte. Lavei o rosto, escovei os dentes e respirei profundamente. Quão infantil eu estava sendo? Aquele não era o Nicholas. Aquele não era qualquer outra pessoa estranha! Era o Rhodes! O Daniel! Meu namorado a quem eu deveria ser sincera e contar tudo, inclusive sobre a bobeira de ciúme que eu senti. Por mais que as marcas daquela bobeira, em minha alma, ainda fossem algo sério a se tratar. Quando abri a porta do quarto para sair, Daniel estava parado lá e me observou com placidez em sua face.
— Está apresentável agora? – ele perguntou rolando os olhos com um sorriso fraco.
— Você não sabia que uma mulher deve se levantar antes do namorado e ao menos lavar o rosto antes que ele a veja? – brinquei.
— Entenda uma coisa: eu não ligo a mínima se o seu cabelo está desarrumado, se a sua boca não tem hálito de hortelã pela manhã, se os seus olhos tem remela ou qualquer coisa humana do tipo, Annie... Desde que você seja você, eu quero estar contigo em cada momento possível. – ele falou encostado à soleira da porta e eu sorri agradecida, mas sem me dar tempo de dizer qualquer coisa, Daniel retornou a perguntar: — E então, está apresentável ao seu namorado agora, senhorita Bernard?
— Sim, estou. – sorri tocando o pescoço dele para o que seria um abraço, mas Daniel me puxou para si de repente.
— Ótimo, porque você virou o rosto para o meu beijo e eu não posso achar que está tudo bem com isso!
A mão firme de Daniel era ao mesmo tempo delicada ao tocar meu rosto, e seus lábios carinhosos tocaram os meus com vontade enquanto ele pedia passagem para sua língua, que eu prontamente concedi. Seu braço apertava-me ainda mais em seu corpo, Daniel deu passos à frente e com o pé fechou a porta do quarto me arrastando para a minha cama de um modo certeiro. Senti seus dedos puxando meu cabelo curto e seus lábios ganharem espaço em meu pescoço e lentamente caíamos sobre a cama, com nossos corpos ainda mais próximos. Enquanto Daniel beijava com desejo meu colo, eu passeava as mãos a bagunçar seus cabelos e enlaçava a sua cintura com minhas pernas puxando seus quadris ainda mais de encontro ao meu, e Daniel sorriu mordiscando o meu queixo. Aquilo iria finalizar de um jeito ótimo se...
— ANNIE! ESTÁ EM CASA? MEU DEUS, ANNIE! É MELHOR QUE ESTEJA! VOCÊ DEIXOU A CAFETEIRA LIGADA SEM ÁGUA, GAROTA! QUER POR FOGO NA CASA?
A voz de mamãe quebrou todo o clima do momento, fazendo com que Daniel resmungasse insatisfeito e se culpando por ter ligado a cafeteira para me fazer um café.
— Sim mamãe... Estávamos prontos para incendiar tudo aqui... – murmurei encarando os olhos brilhantes de Daniel e seu sorriso de dor — Prometo que continuaremos isso depois.
— Tudo bem... – ele sorriu beijando-me de novo e nos levantamos para ir de encontro à mamãe que xingava em francês, fazendo Daniel me perguntar: — O que ela está dizendo?
— Palavrões. Ela morre de medo de incêndios. – sussurrei, e então ela deu-se conta de nossa presença.
— Daniel?! Oh! Agora sei por que a cafeteira estava ligada e sem água... – sorriu como quem entendesse tudo: — Mas da próxima vez, deixem para fazer o café quando realmente já tiverem acabado meninos! E se vocês incendeiam a casa?
— Mamãe, não exagere! – sorri a abraçando.
— Um alívio eu ter a cópia da chave, não é? Pude evitar um incêndio!
— Dois. – Daniel murmurou ao abraçá-la.
— Oh, me desculpe por isso Daniel, mas... Eu só passei para ver se estava tudo bem, Annie não atendia as minhas chamadas e não foi trabalhar, então fiquei preocupada.
— Desculpa mamãe, eu perdi a hora!
— Bem, então eu vou deixar vocês terminarem o que quer que fossem começar. Não quero Isaac reclamando que eu sou "empata foda" de vocês dois!
— Mãe! – repreendi e Daniel gargalhou servindo-nos xícaras do café que mamãe já havia começado a fazer na cafeteira — Isso é coisa que se diga? Onde ouviu isso?
— Acorda Annie, eu tenho mais anos de vida do que você! – ela disse como se fosse comum dizer aquele termo à sua época.
— Meu pai não diria algo assim, exatamente nestes termos, Meg. – Daniel falou risonho e beijando novamente o rosto dela.
— Ah com certeza não, mas ele diria algo como "Meggie querida, não deves atrapalhar os momentos a dois dos meninos quando estes estão a consolidar sua intimidade"... – mamãe revirou os olhos nos fazendo rir e abanou a mão no ar dizendo: — Eu estou indo! Só passei para saber se você estava bem filha, me desculpem!
— Imagine mamãe, eu que peço desculpas por preocupá-la.
— Certo! – ela beijou nossos rostos e saiu caminhando para fora da cozinha parando na copa e se virando a mim para dizer: — Ah propósito! Nicholas me telefonou! Disse que também não conseguia falar com você, mas não se preocupe, não era nada! Louis queria falar com você para contar sei lá o que, que o vovô Paul fez... – mamãe revirou os olhos: — Ou era só conversa do Jonas, sabe como é! Seu ex adora ouvir a minha voz!
Nós rimos do deboche de mamãe com Nicholas.
— O que importa é que a Louis está ótima! Eu falei com ela rapidamente, e estava brincando com as primas e colocando a casa de Danielle abaixo às plenas sete da manhã! Depois ligue para ela.
— Claro. Obrigada mamãe.
Ela acenou e saiu, Daniel sentou-se à bancada da cozinha e tornava a me observar e então eu me aproximei dele, me colocando entre suas pernas e o abraçando dei-lhe um beijo íntimo, de lar.
— Desculpe pela mamãe.
— Não tem o que desculpar, eu amo a autenticidade dela, você sabe!
— Vou preparar algo para nós dois, o que quer comer?
— Qualquer coisa que você faça já é um banquete, meu amor.
Sorri e me afastei indo até a geladeira. Enquanto eu pegava os ingredientes pela cozinha notei que Daniel possivelmente me observava, e em silêncio.
— O que houve Dan?
— Eu quem pergunto Annie... Quer conversar sobre ontem?
— Ah... – virei-me rapidamente para o olhar: — Eu já disse, foi só uma neura de mãe.
— Não estou falando da garrafa de vinho seca na sala, amor. Estou falando de Rosalyn.
Na mesma hora senti que a caixa de leite escorregaria da minha mão, e a segurei firme depositando-a sobre a pia.
— Rosalyn?
— Annie... – Daniel se levantou e veio até mim, pegou em minha mão enquanto falava comigo: — Você a viu no hospital, não é?
— Eu... – sibilei e então mordisquei o lábio, ciente de que era melhor estabelecer a sinceridade como o maior ponto de confiança entre nós: — É, eu a vi. Quando cheguei vocês conversavam... Mas, Daniel, por favor, eu não quero que você pense que...
— Annie. – ele me interrompeu de novo segurando em meu rosto: — Eu não estou pensando em nada. Não se culpe por sentir o que quer que seja, ok? Eu sei o quanto ainda existe algumas coisas aí dentro de você que não estão acertadas, então... Não se preocupe mesmo com o que eu vou pensar! Eu não pretendo esconder nada de você também, porque acredito que a maior forma de ajudar você a se resolver consigo, é sendo sincero também.
Concordei e me sentia uma idiota. Passei a mão pelos cabelos de um modo nervoso, e Daniel me abraçou sorrindo.
— Eu não posso mentir para você Annie, porque eu não quero mentir. E sabe, isso inclui ser sincero em dizer que eu fiquei um pouco soberbo até, com a ideia de você sentir ciúme, então não se culpe. Essa coisa de acharmos que o ciúme é uma consolidação do sentimento do outro para nós, é uma das coisas inúteis que a sociedade patriarcal incutiu aos homens e mulheres e... – ele fez uma pausa e riu ao dizer: — Nossa, minha mãe ficaria orgulhosa de mim agora.
Afastei-me para observá-lo e assenti:
— Com certeza ela sente orgulho onde quer que esteja, mon cher.
— Má chérie... Pergunte-me sempre o que quiser ok? Sem medos! Antes de qualquer coisa, somos amigos, lembra?
Rhodes soltou-se de mim e por mais que eu quisesse ficar em seus braços pelo tempo que fosse, voltei a preparar waffles para o nosso café. Daniel me deixava segura. Ele me deixava confortável até mesmo para falhar, e... Céus, de onde aquele homem havia saído?! Eu queria tanto ter conhecido a senhora Amy Rhodes... Aquela mulher certamente poderia ensinar muitas coisas a mim. Suspirei aliviada, e mais calma de entrar naquele assunto com o Daniel.
— Então tá... Por que ela está aqui? – perguntei com coragem.
— Acredita que ela foi transferida para o hospital junto com o meu primo?
— Seu primo? – observei surpresa à imagem risonha de Daniel escorado à ilha da cozinha.
— Ele é o novo chefe da ala ortopédica, e a Rose precisou se transferir por que o marido dela agora trabalha em LA, então ela falou com o Tulio. Eles trabalhavam juntos em Berkshire também, e conseguiram que ela ocupasse uma oportunidade aqui.
— An... Entendo! – me senti idiota ao perceber que a mulher nada queria com o Daniel, e tudo não passava de coincidências e networking em comum, então desconversei antes que Rhodes notasse meu estado de vergonha alheia: — Bem... Falando em chefia... Você já tem novidades?
Daniel então sorriu largamente, me fazendo sorrir também. Larguei o que fazia para virar-me total em atenção a ele.
— Eu fui chamado esta manhã antes de largar o meu plantão junto ao Karev na sala da direção. E bem, não foi uma decisão fácil para o diretor geral... Karev é ótimo, e claro, eu também tenho meus pontos... E aquela discussão com o Nicholas surgiu na pauta...
— Ai não, Dan! – exclamei sentindo já uma vontade de afundar a cara do Nick em um soco se Daniel tivesse perdido a oportunidade por causa dele.
— Calma, má chérie... – Rhodes riu fraco se aproximando e me abraçando: — Acredita que o Karev também se envolveu em uma briga com o ex da atual namorada dele, só que no estacionamento do hospital? Foi aí que ele esclareceu que ambos estamos em pontos parecidos, mas no caso o paciente dele é um garotinho chamado Andrew!
— Ok, então...?
— Tivemos ambos o mesmo esporro sobre ética profissional e etc., mas... O Dr. Carroll não é o tipo que não saiba quem Karev e eu, somos, e segundo ele "suas vidas particulares não interferirão nas decisões da direção, e este é o ponto". Então depois de pontuar os prós e contras de cada um de nós... Ele decidiu que Karev é o chefe dos pediatras residentes.
— Droga, Daniel! Eu não entendo nada disso! O que isso significa? Ele por acaso fica na mesma? Ele...? – falei me sacudindo ansiosa em seus braços.
— Ele é um cargo abaixo do meu, por enquanto. Eu sou o novo diretor da ala pediátrica!
Daniel contou a novidade com um brilho que eu nunca havia visto em seus olhos e a mim restou gritar de alegria pulando no colo dele, sem ter real noção do que aquilo significava, Eu só sabia que ele estava feliz, e isso é o que importava. Rhodes me rodopiava na cozinha em nosso abraço comemorativo, e eu sentia que nada, absolutamente nada na minha vida iria se repetir quando se tratava de Daniel Rhodes e eu. Tudo parecia certo. Exatamente do jeito certo.
Nós tomamos café, e depois compartilhamos um banho juntos, afinal eu ainda tinha que ir rapidamente ao bistrô e Rhodes iria para casa. Naquela tarde, eu iria finalmente conhecer o apartamento de Daniel, e iria também passar a noite de quinta feira lá, para em seguida viajarmos.
O bistrô estava como sempre agitado, e isso era ótimo! As coisas não poderiam seguir melhores! Os planos de mudança nele estavam acontecendo aos poucos, as reformulações dos pratos, com Jackson no segundo comando assim como Jane e Austin, e eu no comando geral de sempre na minha cozinha. As noites dançantes que Alex estava planejando, com a ajuda dos palpites musicais de Daniel agora também eram um projeto que contava com a ação de Marianne. Ela e Alex não haviam me dito se estavam ou não juntos, mas certamente algo estava caminhando para aquilo. A nossa cafeteria reformulada também estava fazendo sucesso, com o novo funcionário da equipe indicado por Jack. Enfim, as coisas seguiam calmas e eficazes! Eu conseguia observar o controle do meu restaurante voltando cada vez mais para as minhas mãos, e dessa vez eu não precisava me dividir entre casa, trabalho, filha e marido... Tudo estava girando harmonicamente na minha vida. Ainda havia percalços? Claro que sim! Eu ainda não havia chego à metade do que era necessário para, como dizia Daniel: "o meu redescobrir". Mas, dia a dia eu sentia as pequenas mudanças. E a conversa com ele aquela manhã, falando abertamente para mim que eu não precisava sentir que estaria pisando em ovos com ele, ao dividir minhas inseguranças e os cacos quebrados da minha personalidade... Aquilo foi importante!
Saí do bistrô por volta de uma hora da tarde, e não almocei porque prometi ao Daniel que iríamos almoçar juntos em seu apart. Passei em casa, preparei as malas de roupas para não apenas, ir dormir no apart de Rhodes, mas também para Jersey. Mamãe não queria ir conosco, decidiu que iria com ) e Miley. Então também me despedi brevemente dela e segui com meu carro para o endereço que Daniel havia me passado. Para minha surpresa, quando cheguei ao condomínio, não era exatamente o que eu achava. Era um condomínio ao estilo inglês, bem no meio de LA! Então o "prédio" onde Daniel morava, se parecia por fora com um daqueles antigos sobrados ingleses. Havia um estacionamento ao lado de cada bloco, que eu teimaria em dizer "sobrados".
Eu o vi sentado nas escadas de seu bloco, um tanto quanto ansioso, me parecia. Buzinei e o sorriso de Daniel logo veio de encontro ao meu, ele indicou uma entrada para eu estacionar, e desceu em seguida ao meu carro no subsolo e não demorou a se aproximar assim quem eu desliguei o automóvel, pegando as malas.
— Bem vinda, má chérie! – disse animado com um sorriso incapaz de comedir.
— Eu fico empolgada por ver que você está tão feliz por me receber!
— Teria como eu ficar diferente? Imaginei esse momento tantas vezes, e em todos eles, você não era ainda a minha namorada, então... – ele dizia eufórico, até se interromper para dizer: — Certo... Eu estou sendo patético não é?
— Está sendo romântico, e fofo como sempre! E eu estou adorando. – falei e o beijei.
Daniel realmente parecia um garoto adolescente recebendo a melhor amiga, por quem esconde uma paixão platônica, pela primeira vez em casa. Era adorável! Olhei o estacionamento subsolo e era normal, como todo outro. Daniel indicou o elevador que havia ali para seguirmos ao térreo e pegar o real elevador para seu andar. Dentro do térreo notei que o prédio do apartamento não tinha nada de absolutamente igual a um sobrado. Era um prédio comum, e Dan me explicou que por ser projetado por ingleses, os blocos ao lado de fora davam o ar de "vizinhança londrina", mas eram extremamente americanos por dentro.
— Senhor Peterson!
Ele acenou com um sorriso largo para o porteiro, assim que surgimos no térreo e pegou minha mão, enquanto se desdobrava para arrastar e segurar as malas na outra. Apressou-se comigo em direção ao senhor que largamente me encarava feliz e gentil.
— Ah! Ela chegou! – o porteiro disse risonho para Daniel.
— Sim! Eu não disse que ela era linda?
Daniel dizia orgulhoso e pude notar que o porteiro já devia saber sobre algo da nossa história há algum tempo, ou fosse apenas a partir do momento em que o médico polido, agiu como um menino, sentado à portaria aguardando uma garota:
— Esta é a Annie! Ela tem passagem livre para o meu apartamento, certo?
— Como não teria, não é mesmo? Se ela já ocupou todo o seu coração! – o porteiro brincou e estendeu a mão para cumprimentar-me, e eu estava ruborizando igualmente como uma adolescente: — Seja bem vinda senhorita Annie! Fico muito feliz de conhecê-la!
— Obrigada senhor Peterson, é um prazer para mim também!
— Quer ajuda com as bagagens, pequeno Rhodes?
— Não, tudo bem senhor Peterson! Obrigado!
Acenamos risonhos de volta e nos dirigimos ao elevador. Eu estava segurando o riso e as perguntas. Daniel parecia afoito demais, e aquilo era tão incomum para mim! Entramos no elevador e eu iria perguntá-lo sobre o fato de o porteiro parecer íntimo, quando uma adolescente entrou no elevador com a camiseta escrita "I love Nick Jonas". Encarei Daniel que revirou os olhos para a figura da menina e segurei a minha gargalhada. Era a situação mais impagável que eu poderia imaginar. Então me lembrei dele falando sobre a menina tempos atrás.
A garota que olhava para o chão, ao entrar encarou as pessoas no elevador, e bateu os olhos em Daniel e bufou.
— Boa tarde. – disse numa educação a contragosto parando ao meu lado.
— Boa tarde Stella. Deveria vestir-se melhor antes de sair de casa.
— Toma conta da sua vida, 402.
— Tsc... Talvez eu precise falar de novo com Michael sobre o seu péssimo hábito de fugir de madrugada. – Daniel iniciou uma rixa com a garota.
— Hey Rhodes! Qual é? – ela falou encarando-o emburrada, sem se preocupar com a minha presença: — Toma conta da sua vida! Eu já nem posso mais ouvir música na minha casa! Você é o típico inglês metido à besta!
Arregalei os olhos e ouvi Daniel se remexer ao meu lado envergonhado pela discussão infantil com a adolescente e tentar sessar a briga:
— Eu só acho que você precisa ter cuidado Stella! Seu pai é um bom pai, um cara legal! Ele fica preocupado com as suas escapadas noturnas para perseguir um astro pop! E olha só, você já é grandinha, suficiente para saber o quanto é perigoso, andar de madrugada sozinha!
— Nossa, 402, você é tão ingênuo! – ela disse revirando os olhos mencionando algo que Daniel não entendeu — Da próxima vez eu te peço para me acompanhar então, ok?
— Nós poderíamos ser amigos, 401.
— Você declarou guerra ao Jonas, não tem bandeira branca entre nós. Declarar guerra a ele é declarar a mim também.
— Eu só estava implicando com você, 401...
Daniel falou emburrado, e claro, envergonhado pela situação e eu, então ri baixinho decidindo puxar assunto com a garota. Olhei para o lado e ela mexia no telefone e como o Rhodes havia dito, tinha mesmo uma foto do Nicholas estampada ali. Percebi que ela conversava com um garoto, marcando um encontro de madrugada, então entendi tudo.
— Eu o conheço. – falei.
A menina me encarou finalmente e Daniel suspirou como se dissesse para eu evitar confusão com a garota.
— Não é amor? – falei para Daniel — O Daniel também o conhece!
A garota ficou me observando atentamente, parecia tentar descobrir o que estava perdendo.
— Espera... Você está falando do Jonas? Nick Jonas? – perguntou e eu apenas assenti sorrindo: — E o, 402 aí, conhece o Nick Jonas?!
A menina soltou um riso descrente e debochado para nós, então Daniel provocou:
— Tsc... Você que é a ingênua aqui... – sorriu vitorioso me apontando com o olhar para a menina que continuou nos encarando confusa: — Vem Annie, chegamos.
As portas do elevador se abriram e Daniel me deu a mão puxando-me para fora e enfatizando o meu nome. A garota também saiu e quando caminhamos sorridentes pela falta de noção da adolescente sobre quem eu era, a garota deu grito:
— VOCÊ É ANNIE BERNARD JONAS!
— Correção! Ela é Annie Bernard! Sem Jonas, 401! – Daniel provocou ao colocar a chave na maçaneta.
— ESPERA AÍ! – a menina se aproximou eufórica e me segurou urgente pelo punho esquerdo: — VOCÊ É A MÃE DA LOUIS? A EX-MULHER DO MEU NICK? ESPERA! ESPERA! VOCÊ... – ela apontou para mim e em seguida para Rhodes: — E O 402 ESTÃO SAINDO?!
— Hey Stella! Minha vida particular não te interessa... – Daniel provocou novamente como um adolescente, abrindo a porta para eu entrar.
— É POR ISSO QUE VOCÊ NÃO GOSTA DO NICK! VOCÊ ROUBOU A MULHER DELE, 402! NOSSA RHODES, COMO VOCÊ É BAIXO! – ela dizia em tom esganiçado e eu ria.
— Stella, não é? – falei e finalmente a menina respirou calma a me observar totalmente ruborizada: — O Daniel não me roubou do Nicholas, ok? Eu e ele estávamos separados há algum tempo e você deve saber disso, não é?
— Claro! Claro, me desculpe! Puxa vida! Mas eu gostava tanto de você com o Nick! Eu torcia tanto para vocês voltarem e... Ai cara, seu estilo é perfeito! Você é perfeita! Você fazia todas as fãs se sentirem um pouco realizadas também, sabe? Você veio de um lugar comum como todas nós e...
Ela falava sem controle algum, até um tanto emocionada, e Daniel estranhava a situação. Ele achava que Stella iria me odiar por ser a ex-esposa do Jonas, mas o efeito foi contrário, então ao notar que ela torcia lealmente para o Nicholas, Daniel deixou as malas dentro de casa e retornou passando o braço pelo meu ombro a fim de me fazer entrar.
— Stella, você não tinha que perseguir o Nicholas agora não?
— Espera Dan... – falei rindo e olhando de novo para a garota: — Stella, eu agradeço, mas temos que ir agora. E só pra constar: avisa ao fandom, que Daniel Rhodes não me roubou de ninguém ok? Ele e eu nos apaixonamos, e eu estou muito feliz agora.
— Mas, mas... Você não era feliz com o Nick? Como pode o, 402 ser melhor do que o Nick e...
Rhodes me direcionava para dentro de casa enquanto eu ria, embora estivesse interessada em conversar com Stella sobre aquelas suposições dela. A menina veio nos seguindo e antes que entrasse, Daniel fechou a porta na cara dela.
— Dan! – repreendi rindo.
— Eu deveria ter fingido que ela não estava no elevador! – ele falou como se estivesse cansado, com as mãos à cintura: — Não dou um minuto para ela infernizar na campainha e...
Assim que disse aquilo, o soar estridente da campainha se fez ouvir em incontáveis "ding dongs".
— Deixa que eu falo com ela. – avisei indo até a porta.
— Annie! Desculpa, mas eu... – a menina disparou quando eu apareci, e então toquei ao ombro dela e sorri.
— Está tudo bem Stella! Por que não passa aqui depois para nós conversarmos?
— Sério!?
— Sim! Que tal na hora do jantar você vir comer com a gente?
— Ah! Nossa você é incrível, Annie! – ela disse com os olhos brilhando: — Isso vai super vir a calhar, é sério!
— Você está namorando escondido não é? – perguntei sorrindo e ela ruborizou acenando afirmativamente: — Entendo... Olha, conta a verdade para o seu pai, sabe? Às vezes a gente acha que uma mentirinha não faz mal, ou que esconder uma coisa ou outra é melhor para não magoar quem amamos, mas a verdade é sempre o melhor caminho! Tenho certeza que seu pai vai entender, pode não entender na hora, mas depois ele vai entender...
— Puxa vida! Você é mesmo muito legal Annie! Como pode estar namorando o, 402?
— Sabe... Se você der uma chance para conhecer o Daniel, vai se tornar uma fã dele também. – disse e pisquei.
A menina sorria de orelha a orelha admirada, eu acenei em despedida e ela saiu devagar. Fechei a porta e Daniel estava escorado ao sofá de braços cruzados.
— E aí?
— Espero que não se importe, mas chamei-a para o jantar! – falei de repente me dando conta do que havia feito.
— Nah... – Daniel alargou um sorriso vindo até mim com calma e me abraçando debochou: — Precisamos mesmo salvar essa garota!
Eu ri e o beijei rapidamente, logo dando atenção ao apartamento de Rhodes e percebendo o cheiro incrível que vinha da cozinha.
— Então temos um novo chef?
— Eu juro por Deus, que eu nunca fiquei tão nervoso para cozinhar para alguém, má chérie!
— De novo isso? Da outra vez foi a mesma coisa indo me levar naquele pub! Aliás, podíamos retornar lá com o Toni e a Miley!
— Com certeza! Mas amor... Você é uma chef Le Cordon Bleu, então... Dê-me um desconto, ok?
— Tenho certeza que tudo vai estar incrível!
Daniel me apresentou seu apartamento, e claro o primeiro lugar que eu quis conhecer foi o seu quarto. O que gerou algumas piadinhas entre nós. Depois fomos almoçar e ele havia ido ao clássico: preparou uma massa italiana deliciosa, abriu um vinho para não ter erros e poderia estar horrível a comida, que eu não me sentiria ofendida. Afinal, eu estava com ele, no mundinho dele.
Depois do almoço, arrumamos tudo em conjunto, e nos direcionamos ao sofá para conversar. Telefonei para a casa de Dani a fim de falar com minha pimpolha que mal sentia saudades de mim, já que estava se divertindo tanto com o pai, tios, tias, primas e avós. Louis falou um pouco com Daniel também e ficou eufórica ao saber que ele também iria. Eu só queria imaginar como Nicholas estaria reagindo àquilo. Rhodes e eu decidimos assistir algumas coisas na TV, mas acabamos por ficar agarradinhos no sofá nos beijando, namorando e conversando sobre várias coisas. Ele falou da rotina do hospital naquela semana, e eu do bistrô. Eu dei um toque nele sobre Stella estar namorando e por isso fugia, e ele ficou chocado em como não havia percebido nada. Depois contei a ele sobre Alex estar apaixonado por Marianne e ele me contou que seu pai também parecia cada vez mais interessado na senhora Florence. Ficamos um bom tempo ali, nos curtindo, curtindo a nossa folga e só saímos um pouco antes do jantar, já que tínhamos certeza que teríamos visita.
• Plágio é crime. Denuncie. •
Nota de autora: Eu não tenho palavras para expressar o quanto eu estava ansiosa pelo momento em que a Stella apareceria! Eu estou desde o capítulo 21 quando Daniel contou da menina, ansiosa por este momento! E finalmente, viram que a Rosalyn não é do mal e a ideia não era impor rivalidade feminina aqui, não é? Annie não está "curada" de suas inseguranças todas, mas esse é o tipo de situação que vai ser sanada dia após dia, devagar. Como é na vida!
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Linger
Fanfiction[Concluído] Depois que ele saiu pela porta de sua casa, Annie não imaginava que as coisas tomariam destinos tão controversos. Lidar com uma separação como aquela, com as suas inseguranças femininas e tentar se refazer não é fácil, principalmente qua...