Capítulo 46

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You ever wonder what we could've been?
(Você já se perguntou o que nós poderíamos ter sido?)
You said you wouldn't and you fucking did
(Você disse que não o faria, e você fez, porra)
Lie to me, lie with me, get your fucking fix
(Mentir pra mim, depois se deitar comigo, arrume essa merda)
Now all my drinks and all my feelings
(Agora todas as minhas bebidas e todos os meus sentimentos)
Are all fucking mixed
(Estão misturados)



Narração por Nicholas

No dia seguinte, estávamos animados para o aniversário da Tina, um tanto contagiados pela alegria e empolgação da minha pequena sobrinha, que junto de sua irmã e prima, não escondiam a ansiedade. Louis e eu, ficamos grudados em todos os momentos possíveis, e eu estava orgulhoso daquilo, mesmo que no fundinho, houvesse uma felicidade porquê apesar de Daniel estar ali, era em mim que ela estava grudada. No seu "papai nindo", como dizia a minha pequena. Annie e eu, não conversamos mais a respeito de passado ou coisa alguma que envolvesse relações, mas estávamos cordiais, na medida do possível. Claro que, na hora em que o casal estava ao jardim da casa, ambos sentados à grama conversando e namorando, acidentalmente eu liguei a mangueira do jardim, destinada a aguar as plantas. Ou a baixar o fogo deles, acidentalmente, claro!

— Você fez de propósito! — Annie se aproximou de mim, com seu vestido molhado enquanto Daniel tirava a camisa, e ela estava bem nervosa.
— Claro que não! Por que eu faria isso, Annie? — Fingi cínico balançando o copo de uísque em minha mão.
— Eu sabia que o seu momento de maturidade não duraria, não é Jonas... — ela bufou ao responder negando com a cabeça e logo a mão de Rhodes em sua cintura e seu riso, nos tirou a atenção um do outro.
Má chérie, não fica brava, Nicholas nos fez um favor. — Sussurrou no ouvido dela e me lançou uma piscadela.

Os dois caminharam para dentro de casa, e eu fiquei ali com uma expressão de quem poderia ter evitado o motivo para eles tirarem a roupa. Droga, burro. Continuei fingindo que aguava as plantas e não notei que Priyanka estava sentada também próxima ao jardim, até ela se aproximar de mim, e parar ao meu lado. Seus braços cruzados e os olhos fixos nas flores de Dani, com um sorriso ladino.

— Ela tem razão. É mais forte do que você não é, Nick?
— Ah, foi só uma implicanciazinha. E eles nem devem reclamar, ouviu os planos do Rhodes, acabei ajudando. — Falei bebendo o uísque, sentindo mínimo amargor em meu humor e língua.
— Ela me disse que vocês se acertaram.
— É... Foi... O ponto final que acho que precisávamos.

Me doía admitir aquilo, e Priyanka, não acreditava.

— Será? — Então ela me encarou com a sobrancelha arqueada em dúvida: — Será mesmo que você é capaz deste ponto final?

Suspirei pesadamente. O fato de ninguém me dar o mínimo de crédito era justificável. Eu fui um tremendo idiota por tempo demais, às vezes nem eu me dava o crédito de que saberia lidar direito com aquilo.

— Eu não sei, mas eu estou decidido a isso. A fazer as coisas certas dessa vez. Errei com a Annie, traí a confiança dela, manipulei seus sentimentos para não a perder... errei com você, manipulando também os seus sentimentos para ter a segunda opção, apesar de ter um carinho genuíno por você...
— Uau, Jonas! — Ela falou com certo ressentimento na voz: — Finalmente assume que eu sou uma segunda opção.
— É, eu sou um babaca, eu sei. Mas não quero mais ser. Não quero errar com minha garotinha como errei com a mãe dela.... Não quero que a Louis cresça achando que merece qualquer sentimento de um cara medíocre. Nunca havia parado para pensar em como eu me sentiria se fosse outro cara fazendo com a minha filha o que eu fiz com vocês, mas neste fim de semana foi.... Enfim, percebi que não posso ser um babaca a vida toda.

Priyanka percorreu os olhos pelo meu rosto como se buscasse me analisar. Terminei o uísque que bebia e me abaixei fechando a torneira.

— Aliás, Pri, nós precisamos conversar. Eu te devo desculpas, por tudo. Por todo o tempo que ficamos juntos e mesmo os que não estávamos. Confesso que naquela época, não quis te afastar, porque além da minha grande amiga, você fazia bem ao meu ego. Eu sempre fui um egoísta, eu sei..., mas, agora, eu realmente quero aprender a ser melhor.
— Eu te odeio tanto, Nicholas! — Priyanka falou com humor fraco, deixando lágrimas grossas caírem em seu rosto.
— Priya... — me aproximei tocando seu rosto para limpar as lágrimas, com meu olhar solidário.
— Não! Não vem com "Priya"! Eu odeio te amar, Nicholas! Eu odeio tanto! Porque.... Porque apesar de todos os motivos nítidos para eu me afastar, para me ressentir com você, eu simplesmente não consigo parar de pensar no que teríamos sido se não fosse... tudo!

Ela se afastou com uma mão na cintura e outra sobre a boca abafando o choro que se intensificava. Tentei me aproximar para abraçá-la num sinal de amizade, mas Priyanka deu um passo para trás respirando profundamente e ainda dizendo, sem separar nossos olhares:

— Eu sei que a culpa também é minha de aceitar o tão pouco que você me ofereceu, mas.... Por quê Nicholas? Por que você me envolveu no seu amor de uma forma tão egoísta? Alguma vez você pensou no meu coração? Por que você nunca percebeu que estava me matando lentamente? Foi sua culpa! O meu descontrole, foi totalmente culpa sua...

Com todas aquelas perguntas, Priyanka secou seu rosto e saiu bagunçando os cabelos de forma desesperada, caminhando apressada para dentro de casa. Estalei meu pescoço depois de olhar para frente, e sentir uma vontade absurda de jogar o copo no chão e assim, espairecer a minha frustração. Mas, seria mais uma das minhas sujeiras para eu limpar.

— Nicholas? — A voz de minha mãe atrás de mim, me tirou dos pensamentos de culpa que eu começava a ouvir — Você quer conversar?
— Falar o quê, dona Denise? A senhora tem uma maçã bem podre entre os filhos, e o pior... é que eu não sei onde aprendi a ser este homem destrutivo.

Mamãe tocou meu ombro e sorriu, embora nitidamente estivesse preocupada.

— Nicholas, onde aprendemos a errar não é o que importa na vida, mas sim como aprendemos com os erros. Então agora que você sabe das suas falhas, apenas seja melhor. Esqueça o resto, porque segurar os cacos quebrados, só te farão criar mais feridas.
— Eu sei, só que olhar para as cicatrizes é importante, não é?
— Não quando ainda estamos sangrando. É assustador e doloroso. E você ainda não tem cicatrizes para te lembrar de como não cometer os mesmos erros, você tem feridas abertas e o que deve fazer agora, é curá-las.

Abracei minha mãe como se ainda fosse um garoto amedrontado no primeiro dia de aula. Apesar de compreender o que ela dizia, eu precisava olhar para as feridas da Priyanka antes de olhar as minhas, eu devia isso a ela.
Nós entramos juntos em casa, e eu fui até Pri, mas ela falou não estar pronta para me ouvir. Decidi que respeitar o espaço dela, era uma das coisas em que eu errei com Annie e aprenderia a não repetir.
O aniversário de Tina na parte da tarde se iniciaria, e aquela manhã de conversa conturbada entre Pri e eu passou rapidamente. Quando eu desci para o quintal dos fundos, avistei que Meggie, Miley e Toni tinham chegado. Meu ex-cunhado sorriu e acenou para mim, trazendo sua namorada com ele.

— E aí Nick!
— Toni! — Abracei-o e sorri.
— E essa agenda que nunca tem tempo para aquelas bebidas, Jonas? Ou, você cortou laços comigo e esqueceu de dizer?
— Que ironia, não é, Bernard? — Ri pelo tom sarcástico dele — Eu que não queria cortar laços com sua família, estou sendo cobrado por você.
— É, eu não tenho os lindos olhos da Annie, mas qual é! Éramos bons amigos!
— Não seja inconveniente, Antoine! — Miley falou baixinho sorrindo sem graça e então eu sorri a abraçando em cumprimento.
— Relaxa Miley, eu já sou a piada da família Bernard há muito tempo! Aposto que você deve ter escutado muitas coisas lindas sobre mim, da senhora Meggie, não é?
— Por favor, Jonas! Supere! Eu não sou mais a sua sogra para ficar falando de mim pelas costas! — Meg se aproximou com expressão de quem estava brigando, mas eu a conhecia muito bem! A abracei e sorrindo deixei um beijo estalado em seu rosto. — Você é surdo? Pare com isso! Não sou mais sua sogra!
— Você será eternamente a minha sogra, Meg. É você quem tem que superar isso.
— Onde está Denise? Ela já sabe que você está usando drogas pesadas com a sua turminha do falso rock'n'roll?

Meg falou arqueando a sobrancelha e saiu em direção ao Joseph, logo que ele despontou no lugar com uma bandeja de algum quitute.

— Meggiiiiieeeeee! — Ele gritou e ela sorriu largo correndo para abraçar Joe.
— Ele sempre será o favorito dela, supere isso também. — Toni ria ao mencionar a mãe dele que observávamos.
— Claro que sim, os dois são iguais. Irritantes igual, também.
Hey! É a minha mãe!
— Me poupe, Toni! — Rimos e então não pude evitar: — Ela gosta do Rhodes tanto quanto gostou de mim no começo?
— Quer mesmo a resposta? — Toni riu olhando para Miley com cumplicidade, e pela expressão de sua namorada decidi que era melhor não saber.
— Não. Deixa para lá.

Continuamos conversando um pouco ali, até que Priyanka surgiu arrumada com Louis no colo, as duas sorrindo e conversando sem prestar atenção em nada mais.

— Vovó! — Gritou Louis, quando viu Meg ao lado de Joe e Sophie.

Senti que Priyanka mudou completamente. Meggie a encarou com seu jeito de sempre, e não adiantava o quanto a senhora Bernard pudesse ser generosa e perdoar, no caso de Priyanka, ela não perdoava. Pri soltou Louis no chão e apenas lançou um aceno de cumprimento à Meg, que a correspondeu de igual modo. Depois olhando ao redor do ambiente, Priyanka sentiu-se perdida e eu nunca a presenciei daquele modo na minha família. Nem mesmo quando a levei para conhecê-los da primeira vez. Olhei ao redor e vi Annie e Rhodes inseparáveis, e extremamente entrosados com o ambiente e com todos. Era como se fôssemos, Priyanka e eu, as visitas ali.

— Com licença Toni, Miley! Fiquem à vontade! — Falei e me direcionei até Priyanka que já estava caminhando para retornar a parte interna da casa.
— Priya. — Chamei e ela se virou para me encarar — Onde vai?
— Eu... Só ia... sei lá. — Suspirou.
— Nada mudou entre você e nenhum deles, Pri. Todos ainda te consideram da mesma forma, então porque está se sentindo tão deslocada?

Ela lançou os olhos para a porta dos fundos atrás de nós, e pelas vidraças viu a festa de aniversário de Tina e todos os convidados familiares, interagindo e rindo... enfim, numa festa familiar como era. Olhei na mesma direção me perguntando o que ela estava vendo de diferente a mim.

— Não mudou ainda. Mas vai mudar, e na verdade, eu não acho que deveria ter vindo...
— Por que não? Por que não estamos juntos ou por causa da Annie? Ou, Meg? Ela nunca gostou de você então não deveria se importar com a senhora Bernard, Pri e...
— Por causa do que eu fiz Nicholas. É por isso que eu não deveria ter vindo. Annie sempre terá aquele espaço só dela, porque vocês têm uma filha. E eu não vou mais me importar com isso, quem tentou estar num lugar que não pertencia fui eu.
— Do que está falando?

Não tivemos tempo de continuar a conversa. Kevin chamou-a para alguma coisa da qual eu não prestei atenção, e ela o seguiu, ainda nervosa e deslocada. A festa então começou e nós tentamos todos driblar qualquer sensação ruim uns com os outros, afinal, Tina era a estrela da tarde ao lado de Alena, Louis, e todas as outras crianças que os pais deixavam na festa.


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