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Entramos no carro, e enquanto eu colocava o cinto de segurança em Louis, ela começou a cantar uma música infantil da escolinha. Assim que Rhodes e eu nos ajeitamos ao carro, ela sussurrou para mim se eu poderia colocar uma música no rádio do carro.

Louis amava música, e andava comigo e com o pai, sempre com algo tocando. Rhodes percebeu e sorriu para mim antes que eu a respondesse, e ligou o aparelho.

Louis ficou quietinha assim que as músicas que Rhodes ouvia começaram a tocar.

O que há dentro do meu coração

Eu tenho guardado pra te dar

E todas as horas que o tempo

Tem pra me conceder

São tuas até morrer

Eu não conhecia aquela música, mas a sua melodia era incrível. Daniel escutava-a concentrado e sorridente. Olhei para Louis pelo retrovisor, seus olhinhos começavam a cair. E sua expressão serena me deixava feliz. Minha filha tivera uma tarde muito feliz, aquele dia.

Divertiu-se, e comeu o que podia sem que suas restrições atrapalhassem a sua alegria. A figura de Rhodes naquele passeio até o momento, para a Louis foi importante. Eu sabia por simplesmente conhecer minha filha. Ela sorria como sorria para o pai. Ela animou-se como se animava com o pai. Ela brincou como brincava com o pai. E aquilo não só apertava meu coração, mas me preocupava.

Não era a primeira vez que eu percebia o apego de Louis ao médico. Mas, não era também, como se ela estivesse colocando-o no lugar de Nicholas. Na verdade, eu já havia conversado com a psicóloga sobre aquilo, e ela me garantiu que a figura do médico para Louis, não era nada mais do que a figura de um amigo, como ela tinha pelos tios. Mas, a Dr.ª Grace também já havia me alertado para manter Louis próxima ao pai. Ela percebia no tratamento da menina, cada vez menos a presença de Nicholas nos desenhos, histórias, ou conversas.

Ao passo que eu me alegrava pela maneira carinhosa como Daniel tratava minha filha, eu também me preocupava. Contudo, eu sabia que a Louis não teria nada para confundi-la se tudo fosse muito claro. Como Grace havia me explicado em consulta, quando nos encontramos.

FLASHBACK

— Annie, a Louis não vai criar fantasias com o Rhodes porque ela ainda não está nesse estágio de desenvolvimento psíquico. Ela na verdade, está no momento em que toda criança começa a perceber a realidade e tentar compreender minimamente o que lhe cerca. Ou seja, a ausência do pai será evidente nas reações dela à medida que ele se fizer ausente.

— Quer dizer, doutora, que não corro o risco da minha filha confundir o que é real ou não?

— Não nesse momento, tanto que ela tem aceitado muito bem ao divórcio, porque Louis psicologicamente recebe as informações de seu cotidiano e as transcreve como elas são recebidas. Por isso, é tão importante que ela viva em ambiente saudável, longe de brigas.

— Certo. Nicholas e eu temos nossas divergências, mas na frente dela somos sempre o mais amorosos com ela, e sociáveis entre nós que pudermos.

— Isso, isso é muito bom. Assim ela cresce livre de traumas. E Annie... Quando acontecer de algum de vocês se envolverem com outras pessoas, é preciso que a Louis entenda isso. Não esconda isso dela, porque, como eu disse, ela compreende as informações como as recebe.

— Nicholas está namorando, mas ela já sabe e inclusive, já esteve em eventos do pai com a namorada. Isso é saudável né?

— Sim. Ainda mais se ela perceber que vocês lidam com isso naturalmente. E você, está namorando?

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