[19.2]

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Ela estava absolutamente deslumbrante, dentro de um simples vestido florido, e uma maquiagem leve. Seus cabelos estavam mais arrumadinhos do que o normal. Annie gosta de seu pixie bagunçado propositalmente. E havia inclusive uma tiara singela em sua cabeça aquela noite.


Eu olhei-a de cima a baixo, e sorri largo. Não queria, não poderia, e nem deveria evitar demonstrar a quão meiga ela estava. E ela, assim que percebeu meu sorriso, fez um sinal abobalhado com as mãos de "deixa disso", deu uma voltinha rápida e sorriu simpática.

— Senhor Isaac! – ela falou finalmente, e direcionou o olhar sobre meu pai que se adiantou a cumprimentá-la.
— Está maravilhosa, mademoiselle. – meu pai disse num tom gentil e galanteador que a fizera sorrir ainda mais largo.
— Por favor, entre.

Ela disse, e assim que papai deu passos para dentro de sua casa, ela pegou minha mão puxando-me para perto num abraço simples e um beijo amigo ao rosto.

— Tudo bem? – me perguntou.
Uhum. – murmurei como um bobo — Eu trouxe vinho.
— Ah! Obrigada, não precisava Dan.

Papai permanecia parado ao nosso lado, nos observando quando entreguei o vinho às mãos dela.

— Eu trouxe estes gerânios para você, e este embrulho para uma pequena você. – ele disse.
— Oh! – ela sorriu maravilhada e grata — Senhor Rhodes... Não precisava se incomodar!
— É apenas um gesto grato pela excelente noite, que sei que teremos.
— Com certeza teremos. – ela sorriu.

Annie nos encaminhou singelamente pelo pequeno vão que saía da porta de sua casa para a sala. Algumas pessoas estavam sentadas ali, e reconheci como sendo o irmão e a cunhada dela, mas não reconheci de imediato, a uma senhora. Annie logo nos apresentou quando viu que todos se levantaram.

— Pessoal, eles chegaram. – ela falou e foi interrompida por uma criança.
— Tio Dan! Vovô Isaac!

A pequenina menina de quase quatro anos – como ela se referia a mim – ergueu-se do sofá, onde estava aparentemente deitada e veio correndo em nossa direção.
Abaixei-me para abraçá-la, e senti seus braços pequenos, mas fortes em torno do meu pescoço. Em seguida ela abraçou ao meu pai, que foi logo lhe entregando o presente.

— O vovô trouxe uma coisa para você.
— O que é? – ela perguntou olhando-o com um sorriso tímido.
— Um e... Ele... – ele balbuciava tentando fazê-la se lembrar.
— Elefante! – ela falou alto e feliz fazendo a todos nós sorrirmos.

Meu pai entregou o presente e ajudou a Louis a abrir o embrulho, que logo desvendou um elefante amarelo médio, de pelúcia e que pelo visto, a menina amou. Abraçava ao bichinho muito feliz. Papai disse outras coisas sobre o elefante ser mágico, mas eu não pude prestar atenção, já que Annie se aproximou de mim sorrindo e sussurrando.

— Rhodes, seu pai não precisava se incomodar, por que deixou?
— Annie, quando algum Rhodes promete algo ele não deixa de cumprir. Agora, quando algum Rhodes promete algo a uma criança, a primeira coisa que ele tem que fazer é cumprir. – constatei para ela que me olhou contrariada.

Annie não pôde continuar porque um pigarro foi ouvido, e percebi seu irmão se aproximando, então papai se levantou, e Annie continuou as apresentações.

— Senhor Isaac, estes são o meu irmão Antoine, a minha cunhada Miley e a minha mãe Meggie.

Os familiares dela se aproximaram sorridentes, e ela continuou:

— E família... Estes são Isaac Rhodes, um novo amigo e pai do Daniel, que é o médico da nossa pequena Louis e meu... – ela hesitou após olhar ao irmão, tão imperceptível que eu quase não notei, e continuou enfática: — Meu grande amigo.

A mãe dela estava ali, e de repente eu me senti abafado. Não esperava que Annie deixaria de me dizer que eu conheceria a sua mãe. Na verdade, ela não era obrigada a me informar aquilo, mas por alguma razão eu me senti nervoso. E parece que foi perceptível, já que ela me olhou com uma expressão preocupada.
Seus familiares vieram em minha direção, e Toni me abraçou amigável.

— Relaxa Rhodes, mamãe assusta, mas não morde. – ele sussurrou ao meu ouvido.

Com certeza eu estava corado. Sorri sem jeito ao Toni e Miley, que deram atenção ao meu pai e em seguida, a mãe dela se aproximou. Uma senhora bem bonita, mais jovem que o meu pai, elegante e com ares franceses de uma sensualidade a meu ver, comum à família Bernard.

— Meggie Durand Bernard. – ela estendeu-me à mão de modo cortês: — É um prazer conhecê-lo.
— Senhora Meggie, o prazer é meu. Creio que a tenha visto, em uma das primeiras consultas da Louis.
— É possível! Eu me recordo de você rapaz. Acho que foi... Na primeira consulta com ela. Eu estava acompanhando Annie, mas não entrei ao consultório.
— Entendo. Perdão por não me recordar tão bem. Certamente um grande equívoco, pois vejo de onde vem a simpatia da família.
Hm... – a mãe dela enviesou um sorriso à filha e disse-nos antes de ir cumprimentar ao meu pai: — Gostei dele.

Abaixei meu rosto de modo discreto sorrindo, e quando olhei para Annie, ela estava visivelmente incomodada.

— Toni, Miley vocês podem direcionar o senhor Isaac e servi-lo um aperitivo enquanto eu vou à cozinha deixar as flores e o vinho? – Annie perguntou discreta.

Àquela altura, a senhora Bernard havia guiado o meu pai e Louis até à sala, e o irmão da Annie e sua namorada os seguiram indo atender ao seu pedido. Annie me olhou discreta fazendo um sinal com a cabeça para que eu a acompanhasse à cozinha.

— Ah... – peguei o vinho de sua mão para disfarçar: — Deixe que eu lhe ajudo.
— Obrigada, Daniel.

Atravessei ao encalço dela a sala e após passar por uma copa americana, entramos no cômodo certo. Annie deixou as flores numa bancada, eu coloquei o vinho também, e parados lado a lado nos viramos de frente um para o outro. Foi ali que me vi desprendendo o ar, e ela também, que logo soltamos numa risada conjunta e discreta.

— Céus Daniel! Me perdoe! Eu não quis fazê-lo sentir-se numa armadilha! – ela dizia rindo e eu mais calmo, a acompanhava.
— De forma alguma Annie, eu só... – a encarei sem palavras e ela riu ainda mais.
— Você só não esperava ser apresentado à minha mãe neste jantar com atmosfera de "conhecendo os pais dos namorados".
— Pelo amor de Deus! Não é?! – eu falei alarmado concordando: — Por que raios o clima é este?
— Acho que é porque de fato, as coisas se tornaram um jantar de apresentação.
— Como?
— Eu fui pega de surpresa!

Ela falou indo até a geladeira e pegando uma travessa de porcelana com queijos e frios, e diferentes molhos e começou a arrumar enquanto me explicava:

— Toni nunca falou ou apresentou Miley à mamãe, e bem, mamãe chegou de surpresa esta tarde! Eu não poderia cancelar nosso jantar e nem queria, então falei para ele trazê-la e já tornar o jantar uma apresentação formal.
— Entendo... Então, quer dizer que seu irmão nos deve uma? – perguntei divertido.
— É! – ela pôs o vinho para resfriar e constatou como se não tivesse pensado naquilo: — Exatamente Rhodes! Toni nos deve uma! Ah, vamos logo... Pegue o arranjo de seu pai, por favor, e coloque na mesa de jantar da copa. Eu quero prestigiar o presente.
— Claro... Mas Annie... – a chamei discreto fazendo-a se virar delicadamente com a travessa em mãos e me olhar: — Não acho que devemos baixar a nossa guarda, há de fato alguma atmosfera aqui.
— É claro que não, minha mãe ainda vai constranger nós dois. Céus... – ela sorriu revirando os olhos: — Essa atmosfera de um mundo nos fazendo parecer um casal não nos abandona!

Eu apenas ri divertido, deixei o arranjo onde ela pediu e a segui discreto, logo a notando deixar os aperitivos sobre a mesa de centro de sua sala.
Quando me aproximei, papai estava numa poltrona sozinho, a mãe dela na outra ponta, em outra poltrona. Toni e Miley no sofá próximo à mãe deles, e restou-me o lugar entre Annie e seu irmão.

— Posso chamá-lo de Daniel, ou prefere Dr. Rhodes? – Meggie me perguntou.
— Como preferir senhora Bernard.
— Meg. Me chame de Meg, cher.
Cher é "querido" em francês... Ela tem esse hábito de... Enfim... – Annie sussurrou ao meu ouvido enquanto sua mãe falava.
— Eu vou igualmente romper as formalidades com você, tudo bem? – Meg perguntou-me.
— Ah... Claro, Meg.
— Ótimo! Daniel, eu dizia aqui antes de vocês retornarem da cozinha que seu pai, o senhor Isaac – ela encarou ao papai com um sorriso muito acolhedor e educado: — É um elegante e distinto homem, ao qual vejo de onde você herdou tanta graça.
— Oh... Obrigada Meg. Annie... – falei e de repente todos, sem exceções nem mesmo de Louis, me encaravam curiosos.

Engoli meu nervosismo com o que poderia soar a frase e ouvi a risada presa de Annie, que ia escapar-lhe se eu não dissesse algo logo.

— Annie também diz que eu tenho... Essa... Este... A coisa dos hábitos britânicos.

Então Annie riu, não conseguindo se controlar, mas de uma forma muito discreta.

— Ora... Com licença... Eu preciso dizer que estamos sentido uma atmosfera um pouco constrangedora aqui... – Annie pronunciava-se: — E acredito que seja por minha culpa. Perdão senhor Isaac...

Ela virou-se ao meu pai que olhou-a sem entender, mas mantinha sua expressão leve e amena.

— Eu me esqueci de avisar ao Daniel, que em última hora decidi aproveitar o jantar para que meu irmão apresentasse sua namorada à minha mãe, que chegou nesta tarde da França. E Rhodes está se sentindo constrangido com a possibilidade de atrapalhar, mas me perdoem! Eu deveria tê-los avisado, que hoje além do maravilhoso jantar inglês que teremos, nós também iremos comemorar as boas novas em minha família.

Encarei Antoine que estava vermelho de vergonha por sua irmã ter jogado a bola para ele, e parece que sua mãe recordou-se do propósito do jantar, onde sorriu e pegou de modo carinhoso, a mão de Miley. Annie havia sido ótima devolvendo os holofotes a quem deveria.
Papai sorriu e num aceno gracioso de negação com sua cabeça, tranquilizou Annie.

— Não há o quê desculpar, mademoiselle. De forma alguma. Eu quem peço desculpa pela nossa intromissão a um momento íntimo.
— Não é intromissão alguma, Senhor Isaac. Nós achamos agradável receber os amigos neste momento. – Miley proferiu dando reforço à Annie.
— Bem, antes de tudo, assim como a senhora Bernard... Eu vos peço que rompamos as formalidades e me chamem de Isaac, sem o "senhor".
— Ah com certeza! – Meg reforçou: — Sem senhores e senhoras entre nós, que tal?

Logo sorrimos sentindo a atmosfera amenizar e eu troquei olhares rápidos e divertidos com Annie ao meu lado.

— Então, parabéns Antoine e Miley, pelo momento comemorativo. – meu pai disse e os demais agradeciam.
— De que lugar da Inglaterra, vocês são Isaac? – Meg perguntou.
— Berkshire. A senhora veio recentemente da França, não é?
— Sim, eu cheguei hoje para ficar. Meu esposo faleceu há alguns anos e desde que os meninos vieram para cá, tenho estado em Lyon com minhas irmãs. Mas, decidi vir à Los Angeles, ajudar Annie e estar próxima dos meus filhos.

Meg e papai engataram numa conversa amena onde todos participavam e logo, Miley se tornou a bola da vez. Meg queria conhecê-la, estava curiosa, e papai muito comunicativo conduzia os diálogos como um mediador entre "sogra" e "nova namorada do Toni", de um modo que deixava a todos nós confortáveis.

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