Capítulo 31

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* Capítulo narrado por Daniel Rhodes

Eu estava estacionado à porta da casa de Annie e telefonava ao seu celular várias vezes desde que saí de casa. Alguma coisa teria acontecido? Pelas luzes acesas eu soube que ela estava em casa... Ou ao menos alguém estava. Olhando mais uma vez para o visor do meu telefone, que mostrava a caixa postal da chamada, desisti de tentar e guardei-o na jaqueta. Certamente, Annie me avisaria caso tivesse desistido ou estivesse em outro lugar.

Bati a porta do carro trancando-o com o alarme automático, e segui ao portão alto de grades brancas e interfonei. E não foi difícil pensar que Annie não escutava ao meu telefonema, quando ouvi vozes confusas e uma música tocando alta, embora distante para mim que ainda estava na calçada. A demora em liberar o acesso ao interior da casa também era estranha, mas antes que eu tocasse novamente a campainha alguém destravou o portão. E não foi Annie, pois, com certeza o sorriso lindo dela já estaria na porta da sala me esperando.

Caminhei pela calçada de pedras de jardim e subi os dois degraus baixos da varandinha e esperei. Ela ainda não vinha, então toquei de novo a campainha, confuso em não ouvir mais a música tão alta, – parecia que haviam abaixado – e estranhando o fato de que, ainda não tivessem aberto a porta. Será que não era Annie a estar em casa, mas talvez Meg que dava uma festinha?

Meu pensamento foi interrompido quando a porta se abriu e com ela, eu pude me deparar com o maior susto da minha vida: Annie Bernard. A minha primeira visão foram os sapatos brancos de bico arredondado, em seguida, subindo aos poucos o meu olhar... As pernas. As lindas pernas que eu ainda não havia reparado tão bem quanto naquele momento, e quando vi os joelhos percebi que o vestido era curto, pois um pouco mais de suas coxas estavam bastante perceptíveis. Ok. Aquilo estava ficando bem, bem estranho. O vestido era azul marinho, ao menos não era vermelho, pois, eu poderia entender errado... Com certeza, ela não estava vestida daquele jeito, por e para mim, então... Menos mal, ou eu não seria capaz de ficar por perto com o mínimo de sanidade depois de ver aquelas pernas.

Meus olhos não subiram em câmera lenta, por mais que eu sentisse-me como se o tempo houvesse parado, mas degustei aquela bela visão com muita calma. O decote era discreto, e por mais que eu não pudesse ver muito, aquilo que deveria ser perfeito, eu pude ver o colar fininho que se perdia como uma gota escorrendo no meio dos seios dela, e tivesse a sensação de morrer quando cheguei ao seu lindo sorriso vermelho. Annie Bernard tinha péssimas intenções naquela noite. Ou as melhores eu devo dizer, já que alguém poderia tirar aquela grande sorte.

Ela parecia fazer o caminho inverso ao meu olhar, e quando nossos olhos se cruzaram, eu soltei o ar que nem havia notado prender. Ela sorria sem graça e, ou a maquiagem estava deixando-a propositalmente sexy com aquele rubor falso, ou ela realmente estava ruborizada. Ao invés de sorrir e desejar uma boa noite, ou falar qualquer coisa que eu diria normalmente a ela, eu perdi a noção.

— Uau...

Levei meu indicador flexionado à boca e o mordi entredentes, tentando fugir os olhos da visão de Annie e dos meus pensamentos nada apropriados. E lógico que a Annie percebeu que eu estava tendo um piripaque, mas eu não poderia surtar ali, não é? Mas surtei. Abaixei a mão e a encarei com a minha respiração descompassada e sorri como um paciente de AVC, no sorriso mais torto possível antes de sair correndo:

— Eu... Eu esqueci meu celular no carro... Já volto!

Annie não teve tempo de me responder. Dei-lhe as costas e caminhei em direção ao meu carro, batendo em minha testa como o idiota que eu estava sendo e entrei eufórico. No momento que meus dedos apertavam o volante, eu respirei como se a atmosfera não estivesse mais tão densa. Olhei pelo retrovisor e Annie estava parada à porta da sua sala, bastante confusa. Fez sinal de ombros para alguém que deveria estar a perguntando: “O que houve?”, e na mesma hora me indaguei se eu deveria ter levado flores. Não estávamos num encontro, não é? Era só uma saída... Entre amigos... E eu estava demorando naquele carro, enquanto ela olhava na minha direção, confusa. Eu precisava de uma desculpa melhor. Minha cabeça raciocinou direito, mas meu corpo não me obedeceu. Girei a chave e acelerei o carro saindo dali, rumo a qualquer lugar que eu pudesse lhe comprar um buquê, ou seja, lá o que eu estava indo atrás.

— Daniel Rhodes, não seja ridículo! Volte logo ou ela vai achar que você desistiu, seu idiota!

A minha própria voz ecoou na minha mente, e graças a Deus era a minha sã consciência. Retornei bruscamente com o carro e parei de novo em frente à casa dela, mas ao lado da calçada do portão. Annie falava com alguém dentro da sua casa, ainda parada e boquiaberta na porta da sala. Ela certamente estava pensando se deveria me deixar para trás e ir se divertir, sem o grosseiro do Daniel que tinha acabado de sair correndo.

Assim que desliguei o motor e bati a porta do carro, ajeitei minha postura e me coloquei a caminhar altivo em sua direção. Ela me notou e sorriu novamente, agora com uma expressão de “o que você está fazendo?”. Com passos firmes me encaminhei até ela, e percebi que meus batimentos cardíacos já estavam normais de novo. Pronto, surto controlado. Tudo sobre controle.

— Me desculpe Annie! De repente eu achei que deveria ter trazido flores, mas aí... Foi estranho pra caramba eu sair daquele jeito, não é? – perguntei sorrindo com as mãos à frente do meu corpo como se quisesse acalmá-la.

— É! – ela riu divertida — Eu pensei que você estava desistindo... Sei lá... O que aconteceu?

— Eu morri por um minuto quando você abriu a porta.

Novamente o rubor na sua face surgiu com um sorriso meigo e tímido.

— Ah Daniel, para com isso... Eu só... Vesti alguma coisa diferente...

— É eu percebi... Quantas versões incríveis de você eu ainda vou conhecer?

Ok, nada sobre controle. De repente eu estava flertando com a Annie na cara dura e sem o menor motivo. Ela iria desistir de mim depois daquele dia, eu tinha certeza! Annie sorriu novamente sem graça, e fugindo da minha pergunta me puxou pela mão para dentro de sua casa.

— As meninas estão aqui. – ela falou risonha antes que eu surgisse no campo de visão de todos — É o Daniel, meninas. Ele chegou.

 Ele chegou

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