[27.2]

62 6 1
                                    

— Você quer pegar a Louis hoje? 

O barulho da cozinha mostrava que ela estava a todo vapor, aquele não era o melhor momento de telefonar para a Annie visto que, ela estava muito ocupada até para entender o que eu havia dito. 

O barulho da chuva caindo ao lado de fora do meu carro também não ajudava a ligação ser nítida. Eu estava estacionado ao sinal de trânsito, a caminho da minha casa quando decidi telefonar e perguntar se poderia passar o final de semana com a Louis.

— Não Annie... Amanhã cedo! Hoje à noite eu tenho um evento, não posso... 

— Nick! Eu não estou entendendo bem, a ligação está cortando! E eu estou muito ocupada aqui, tudo bem me mandar mensagem?

— Ok! Ok, eu vou desligar! – falei um pouco mais alto.

   

Aquilo era incomum demais, o fato do sinal telefônico falhar em Los Angeles... Mas a chuva estava cada vez mais forte e eu já me preocupava em como seria mais tarde. O semáforo abriu e os carros aceleraram, assim como eu. 

Embora quisesse muito ouvir a voz da Annie, eu não telefonei de novo. Joguei as chaves do carro na mesa central da sala de estar, me joguei no sofá e puxei meu celular enviando a mensagem.

Nick: “Eu tenho um evento esta noite, e não posso pegar a Louis hoje, por não ter quem fique com ela, então queria saber se tudo bem ela passar o final de semana comigo. Eu passo amanhã cedo na sua casa para buscá-la. Responda quando estiver mais livre, vou aguardar. Beijos...”

Encarei o final da mensagem, e não poder dizer “te amo, ma vie*” como fazia quando éramos casados, me dilacerou. Mordi os lábios ainda preso às reflexões da conversa de mais cedo com Priyanka, observei aquela casa enorme, vazia, fria e silenciosa demais até para um dia de chuva forte. Embora soubesse que a minha vida pessoal afundava numa areia movediça de perdas, eu estava satisfeito. Às vezes precisamos perder tudo para realmente ter tudo. 

Meu estômago roncou e eu me lembrei de que não havia nada preparado para almoçar, e também não queria comer fora. Levantei-me e caminhei até a cozinha, vasculhei as possibilidades e achei melhor preparar uma salada com alguma carne. Não gostava de comer muito, e nem poderia abusar depois do café da manhã farto de carboidratos e frutoses. Estava sedentário há algum tempo, e aquele era outro ponto a resolver após a babá. A babá! Num estalo mental, eu me lembrei de que precisava resolver aquilo. E sabia exatamente quem me ajudaria.

*ma vie: minha vida

I miss you when I can't sleep

(Eu sinto sua falta quando não consigo dormir)

Or right after coffee

(Ou logo depois do café)

Or right when I can't eat

(Ou quando eu não consigo comer)

Depois de tomar banho, vestir agasalhos confortáveis e começar o preparo do meu almoço, eu decidi ligar para a Dani. Mas, lembrei que as meninas também deveriam estar almoçando, então a ligação poderia aguardar. Só depois que eu saboreei sozinho, um filé ao ponto com salada de folhas, tomate cerejas regados a azeite e vinagre balsâmico, eu telefonei à Dani. Mas antes, fui obrigado a me alimentar, na maior onda de solidão possível. 

A salada estava tão bonita! Eu me lembrava dos toques e dicas que Annie me ensinou ao prepará-la, mas eu não a achei gostosa. O filé estava grelhado ao ponto certo, com temperos saborosos, mas eu não sentia sabor. As refeições, sozinho, sempre eram chatas e entediantes, por isso eu sempre estava acompanhado para comer, com amigos, alguém da equipe, ou com a minha família. Mas, eu estava comendo sozinho há algum tempo, e ir aos restaurantes era sempre a melhor maneira de burlar isso. 

LingerOnde histórias criam vida. Descubra agora