Capítulo 12

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:: Narrado por Nicholas ::


"Tenho medo de ficar só, sem um bem não se vive. Desvive. Eu não suporto ser quem sou quando estou sem ninguém. Tudo é feito de ausência, carência. Conheço esse estado. Todos os lados. Nada me faz feliz. E vivo sob um céu que nada me diz."(Djavan - Tenho medo de ficar só)


Meses atrás, quando cheguei de mais uma viagem de trabalho em minha casa, eu mal podia saber o que me aguardava.

Eu peguei aquela mala e saí arrastando-a pela casa abaixo de lágrimas. Eu havia sido o culpado por tudo ter acabado daquela maneira. Eu não deveria ter deixado brechas para que Priyanka e eu continuássemos nos aproximando ao ponto dos meus sentimentos se confundirem com o passado que tivemos.

Eu era tão apaixonado por Annie. Ela me salvou de tantas coisas, e principalmente, com sua simplicidade ela me fez reencontrar o homem por trás do astro da música. Tínhamos uma história conturbada, que pouco a pouco nos apontava onde estavam nossos erros. E eles estavam novamente no fato de eu querer exigir de alguém, uma compreensão pela minha vida cheia de holofotes, e até mais do que compreensão: eu estava sempre querendo enquadrar tudo e todos que eu amo nas minhas noções de realidade e necessidade. Mas, aquilo que é imprescindível para mim, pode não ser para todo mundo.

Lembro-me daquele dia como se fosse ontem. Eu chegando de viagem, cheio de amor e saudade por minha filha e esposa, e encontrando apenas uma delas, com um prenúncio de fim.

A expressão de Annie era a mesma de quando eu a conheci, aquela mulher que estava cansada lutando por seu restaurante e que não me reconhecia por não ser ligada às notícias do mundo célebre que me rodeava. O corpo de Annie, ao sair do banho me encarando em casa, surpresa, demonstrava a clara mensagem de uma mulher exausta e triste. Até mesmo assustada, numa lembrança que eu tinha de sua expressão, quando retornou da França após perder o seu padrasto. Tão assustada e triste que na época, ela havia largado tudo.

Ela. A mulher por quem me apaixonei não mais me reconhecia, mas eu reconhecia a ela.

Começamos com nosso amor entre um jantar e outro. Ainda na época, eu era quase noivo de Priyanka. E tudo estava muito confuso para mim... A falta da banda, meu recém-lançamento numa carreira-solo, e toda a busca por um espaço onde minha criatividade seria aceita sem a sombra do "menino Jonas". E ainda tinha o meu irmão Joe batalhando, perdido ainda, pela sua carreira também. Eu me sentia tão culpado, por fazê-los passar por uma confusão mental e profissional daquelas. Ao menos, Kev estava com a vida mais encaminhada, e se lançando em estudos de produtor musical.

Eu queria realmente um tempo de tudo, um tempo de mim, um tempo de Priyanka exaltando nossa diferença de idade e a emergência de firmarmos algo mais sólido do que um "namoro entre cantor e modelo". Eu estava a ponto de explodir, quando Annie chegou.

Primeiro, o ambiente do restaurante tornou-se agradável. Depois a comida me prendeu de uma forma ímpar. E em seguida, a dona. Ela sempre estava por ali, entre um passar do salão à cozinha, entre cumprimentos aos clientes e ordens sempre sutis acompanhadas de um largo sorriso, aos seus funcionários. Em todos os meus momentos ali, eu me perdia em olhares discretos a observar Annie quando ela surgia. Até o dia em que pedi para cumprimentá-la.

Eu estava com Priyanka jantando, mas quando meus olhos encontraram os de Annie, eu sabia que havia algo neles que me ensinariam a viver de uma forma melhor. Eu passei a vibrar internamente por aqueles olhos, por aquele sorriso. E Priyanka percebeu. Ela começou a desconfiar do meu interesse no restaurante, no dia que um crítico gastronômico estava presente jantando, e ela me ligou. Ao saber que eu dizia precisar desligar porque estava observando as reações do crítico, e queria torcer por Annie, Priyanka não entendeu minha empolgação. E ela passou a desconfiar mais e mais, quando eu passei a conversar com Annie, entre balcões e mesas do restaurante, em seus horários menos movimentados.

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