[14.1]

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Depois que levei a Louis para casa, nós jantamos juntos. Fiz questão de cozinhar uma sopa para minha filha, como quando eu fazia antes de tudo acabar e de me distanciar dela. Depois nós brincamos de todas as brincadeiras que ela quis, e por fim, Louis pediu para assistir desenho no meu colo.

Aninhei minha filha em meus braços, como meu maior tesouro ali. Ela adormeceu, e eu a coloquei em sua cama. Em seguida, percebi que ainda era cedo, e Annie ia demorar a chegar, então, fui até nosso antigo quarto.

Até ali tudo estava diferente. Ela realmente havia tirado tudo o que pudesse fazê-la se lembrar de mim. Mas quando abri seu closet, algumas roupas minhas ainda estavam ali, numa gaveta que já foi minha. Eu não me lembrava de ter deixado aquelas roupas, mas eu soube exatamente que Annie sabia daquela gaveta, quando notei que dentro dela estava todo o resto de coisas que me pertenciam.

Esfreguei os olhos cansado e triste, mas puxei uma calça de moletom e fui tomar banho. Quando terminei de me vestir, eu andei um pouco mais pelo quarto, mexendo nas coisas dela, e sentindo seu perfume. Ainda era o mesmo.

Fui tomado de uma vontade tão grande de chorar, como chorei da última vez que estive naquele quarto, que sentei à cama e deixei as lágrimas rolarem. A cena da nossa última discussão, Annie me mostrando a foto, eu a beijando tentando desmentir a traição que nem eu sabia e tudo... Tudo veio à minha mente de novo. Aquela maldita foto. Aquele maldito ato impensado que eu havia dado. E aquela maldita sensação de fracasso que eu teria que levar no peito dali por diante.

Levantei-me rápido e decidido a parar de chorar. Eu não deveria estar daquele jeito agora. Que espécie de depressão atrasada era aquela? Peguei um uísque na sala e comecei a beber, apenas para me aliviar, mas de repente, eu me sentia corajoso o suficiente para que na hora que Annie entrasse por aquela porta, eu pudesse falar tudo o que estava engasgado.

Quando ouvi o som do motor do carro dela, fui até a porta da sala a abrindo. Vi Annie descer do carro, na garagem, cansada.

— Chegou cedo.

— Deixei Alex finalizar o movimento da madrugada.

— Que bom que você tem o Alex em sua equipe.

— Realmente.

Ela respondeu jogando sua bolsa no sofá e finalmente me olhando. Encarou-me da cabeça aos pés analisando o modo como eu estava vestido, então eu sorri explicando:

— Ainda têm algumas coisas minhas aqui.

— Eu não havia reparado. Junto para você depois tudo que ainda estiver aqui. – ela mentiu se fazendo de sonsa só para não dar o braço a torcer, mesmo ciente de que eu sabia a verdade.

— Não precisa. É bom para que em situações como esta eu possa ficar mais à vontade.

Joguei-me no sofá encarando-a nos olhos e bebericando meu uísque servido.

— Isso não faz o menor sentido. Enfim... Vou ver a Louis.

Percebi Annie se apressar para ir ao quarto da Louis, talvez não só por preocupação, mas também por vontade de se afastar de mim. Então, continuei ali no sofá bebendo e pensando nas várias coisas que eu teria a dizer.

Quando ela retornou, eu virei o uísque numa golada. Ela iria falar algo e eu deveria dizer tudo antes que ela me enxotasse. Por que, eu sabia que ela faria isso cedo ou tarde, com ou sem uma discussão.

— O que Daniel disse sobre o quadro dela?

— Pergunte você ao seu namoradinho.

Mas, eu realmente achei que ela não iria me perguntar sobre Daniel. Achei que fosse querer saber como foi a minha noite com a Louis em nossa casa, o que foi que fizemos ou o que ela comeu. Qualquer coisa onde não citasse o nome do doutorzinho. Mas, ela não ia evitar não é? Era como eu já disse, muito intenso, lidarmos Annie e eu um com o outro.

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