[17.2]

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Quando chegamos, Rhodes prontificou-se a pegar as minhas ecobags e o carrinho de caixas. Caminhamos pelo início do mercado com ele empurrando o carrinho, e nós dois conversando animados enquanto eu mostrava um ou outro ingrediente inusitado para Daniel.

Rhodes reagia como criança descobrindo sabores, cheiros e um mundo totalmente novo. Paramos em um stand, e enquanto eu negociava alguns brotos e condimentos, Rhodes estava experimentando tudo quanto era, pequenos frutos decorativos que o vendedor lhe empurrava. Observei a cena pelo canto dos meus olhos, e sorri.

Rhodes estava extremamente empolgado. O vi pegando um cogumelo, que eu sabia que era de cozer, então não deu tempo de alertá-lo do amargor do sabor. Rhodes fez uma cara feia como criança e nós rimos, e o vendedor mal percebeu o que ele havia feito.

Caminhamos mais um pouco e eu estava ocupada com a compra de uma remessa de queijos, quando Rhodes, ao lado do vendedor da barraca vizinha estava pedindo água e abanando a língua. O vendedor coreano falava com ele, divertidamente algo embolado como "esse não, esse é pimenta", mas aparentemente tarde demais. Pedi licença ao vendedor que me atendia e fui até Rhodes acudi-lo.

— Você não pode sair experimentando tudo que te oferecem seu maluco. Ainda mais alimentos estrangeiros. – eu gargalhava.
— Ele apontava o negócio vermelho e repetia "kimchi, kimchi", eu só peguei.
— Aquilo não era Kimchi, você pegou errado Rhodes. Chega, não é? Faça como a Louis e me pergunte antes se você pode comer.

Enquanto eu fazia piada com a cara dele e ria, Daniel mostrou-se irritado com o coreano, mas logo que me viu segurando um pouco o riso, ele começou a rir também.

— Este lugar é incrível. – ele admitiu.
— Eu também adoro vir aqui. Mas, agora vamos ali pegar alguns azeites, e aí levamos as caixas para o carro, tudo bem?
— Pode deixar que eu levo, Annie.

Depois que efetuei o pagamento, Rhodes já pegou a caixa pesada a colocando no carrinho e saiu empurrando-o pelo caminho para o carro, e então, observei de longe algo que eu ainda não havia me dado conta: como ele era forte e aparentemente atlético.

O sorriso de canto que eu não sabia estar em meu rosto foi descoberto pelo vendedor que soltou um risinho para mim. Eu agradeci constrangida me despedindo e saí sacudindo a cabeça negativamente para espantar os meus pensamentos.
Um pouco depois, Rhodes retornou e estava um pouco perdido, mas como eu o aguardava, logo o vi.

— Imaginei que se perderia. – peguei sua mão.
— Mais caixas para levar?
— Sim. Mais duas.
— Como você faz quando está sozinha, com essas caixas?
— Alguns vendedores levam para mim, mas quando eu quero, eu mesma levo. Estou acostumada, Rhodes. – encarei-o entre um riscar de minha lista e outro.
— Certo. Vou levar para o carro e te encontro aonde?
— Eu vou com você porque agora é sua vez de comprar os ingredientes do Wellington Beef do seu pai.
— Você sabe os ingredientes, eu sei que sabe.
— Do jeito que Isaac falou deve ter algo a mais na receita da sua mãe.
— Tinha amor. E isso, você também já tem, não é?

Daniel falou nostálgico, e sorriu piscando para mim. Caminhamos de volta para o carro e eu descobri que a mãe de Daniel faleceu mais ou menos na mesma época em que o meu padrasto. Foi num acidente onde o ônibus de excursão em que ela e o pai dele estavam, bateu na estrada. Seu pai ficou com a sequela de caminhar puxando um pouco a perna e sua mãe infelizmente faleceu.

Compramos tudo o que era necessário para a receita, e em seguida fomos embora. Eu precisaria buscar a Louis na escolinha, então Daniel não se importou de ir comigo, uma vez que estava com o dia livre.

— Tio Dan! – Louis gritou ao vê-lo na porta da escolinha.
— É o seu papai Louis? – um coleguinha perguntou para ela.
— Não, meu papai é o Nick. Esse é o tio Dan. – ela sussurrou como um segredo para o coleguinha.

Eu sorri para a funcionária da escola que acompanhava a saída das crianças, e Louis despediu-se do amiguinho novato com um abraço e um aceno de mãozinhas. Ela pulou no meu colo, e depois foi para o colo de Rhodes que a rodopiou do jeito que ela gostava.

— Ei princesa! O que você aprendeu na escola hoje?
— Os números!
— Os números?! – Rhodes fingiu surpresa: — Vamos contar juntos então, quero ver se você aprendeu direitinho!

Enquanto caminhávamos de volta ao carro, eles contavam os números animados e eu ria com o modo agradável como aqueles dois se entendiam.

Fomos para o bistrô e Rhodes telefonou ao seu pai, que pegou um táxi de volta ao restaurante para almoçar conosco. Depois que chegamos higienizei as mãos de Louis, ela pediu para ficar com Daniel no salão e ele afirmou que não havia problema.

Antes que eu entrasse à cozinha descarreguei as compras, com a ajuda de funcionários, na área de higienização antes de levá-las à dispensa. Arrumei-me e preparei alguns pratos do almoço, assim como os de meus convidados e me juntei a eles.

— Ora, ora, mas se a senhorita vir um elefante rosa andando pelas ruas, pode saber que fui eu que mandei para você!
— É mentira vovô Isaac, você não é mágico!
— Mas, por que você não acredita em mim? Não viu que eu peguei o seu nariz?
— Vi.
— E então?
— Tá bom, mas eu não gosto de elefante rosa... – Louis murmurou tristinha e convencida.
Hm... Então... Eu vou te dar um elefante de outra cor, que cor você gosta?
— Amarelo!
— Tudo bem!

Quando me sentei à mesa com eles, percebi que a Louis e o senhor Isaac não paravam de falar. Rhodes encarava aos dois, sorrindo, enquanto bebia o seu suco.

— Mas que história é essa de elefantes? – eu perguntei ao me aproximar.
— Mamãe! O vovô Isaac é papai do tio Dan! – Louis falou animada apontando ao senhor à minha frente — E ele faz mágica!
— Mágica?
— É! Ele tirou o meu nariz! – minha filha dizia animada e surpresa apontando ao próprio nariz.
— Minha nossa! Mas como ele colocou o seu nariz de volta?
— Eu não sei mamãe! Ele disse que tem um elefante rosa amigo dele, que é mágico.
Hm, é mesmo senhor Isaac? – o pai de Rhodes ria divertido para mim, pela euforia de Louis: — Mas, agora vamos todos comer?
— Vovô Isaac! A comidinha da mamãe é muito gostosa, tá?
— Eu acredito!

Almoçamos tranquilamente, e um pouco depois, Rhodes e seu pai se despediram de Louis e eu. Eu organizei algumas questões no restaurante, e fui embora às uma hora da tarde para minha casa. Louis teria aula de natação às três horas, então eu não poderia atrasar e com aquela história do jantar, eu também teria que sair mais cedo do restaurante à noite.
Chegamos em casa, e Louis estava mais falante do que o habitual. Abri a porta do carro, na garagem, para que ela descesse, e Toni apareceu na porta da sala de minha casa.

— Toni?
— Tio! – ela correu até ele.
— Oi boneca do tio!
— Eu deixei a chave com você? – perguntei o cumprimentando.
— Eu me esqueci de te entregar no domingo, mas foi bom, porque você não vai fazer ideia de quem...
— VOVÓ!

O grito de Louis interrompeu Toni.

— Mãe!?

Encarei ao meu irmão e minha mãe abraçada à neta, com a total surpresa que a situação me permitia.

— Mãe!?Encarei ao meu irmão e minha mãe abraçada à neta, com a total surpresa que a situação me permitia

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