Capítulo 44

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"Eu sabia que te amava, mas você nunca soube porque eu finji estar tranquilo, quando eu estava com medo de deixar pra lá. Eu sabia que eu precisava de você, mas eu nunca mostrei..."

(Say You Won't Let Go - James Arthur)


O primeiro dia na casa de Kev, foi muito tranquilo. Nós almoçamos todos juntos com uma aura de paz, familiaridade e felicidade. Mas, Nicholas destoava um pouco na última. Apesar de interagir com todos nós, de rir, brincar com as meninas, se sentir à vontade com seus irmãos, com sua família afinal, ele ainda parecia um pouco "discreto" demais. Nicholas não era de ficar fora do foco de luz, mas naquele dia estava. Concentrou maior parte de sua atenção à Louis, em todas as vezes possíveis em que ela não estava comigo ou Rhodes. E em relação a diálogos, ele não conversava comigo ou com Daniel, nem sós, tampouco juntos. Estava bem nítido para mim, que Nicholas estava delimitando uma linha de distância, e no final, era melhor. Por poucas vezes em todo aquele tempo eu me deparei com uma atitude tão sensata por parte dele.
Os preparativos para a festa de Tina estavam quase todos finalizados. Seriam apenas nós familiares, e alguns amigos de Kevin, Dani e das meninas. Apesar de familiar, Dani não abriu mão de uma festinha bem feita, com decoração e tudo o mais que vinha preparando naqueles meses. E lógico, ainda tinham algumas coisas a serem colocadas no lugar, Dani notou que faltariam bexigas de aniversário e que precisaríamos de mais, porém, já era noite e não daria para comprar nada. Terminamos o que foi possível na noite de sexta, e aproveitamos para curtir a presença uns dos outros no jardim, antes de dormir. Joseph cismou que queria fazer uma fogueira para comer marshmallows com as meninas, o que gerou diversão geral com Frankie e ele torrando as lenhas da lareira, Danielle e Denise os bronqueando pela bagunça, e claro... Todo mundo adorando a ideia no final, o que deixava Joe um tanto quanto convencido.
Na hora de dormir, finalmente Daniel e eu ficamos a sós, porque Louis ainda queria dormir com o pai, e assim nós pudemos conversar um pouco sobre a recepção.

— Como foi o seu primeiro dia na casa dos Jonas?
— Adorável! — ele respondeu — O que é também, estranho... A família Jonas é mesmo uma família muito amorosa.
— Por que achou estranho? — perguntei preocupada em algo ter sido dito a ele que eu não tenha presenciado, e apoiei-me em seu tronco para me erguer ficando cara a cara com Daniel.
— Tire esse olhar preocupado do seu lindo rosto, má chérie. — Dan falou percebendo minha preocupação e me fazendo sorrir — Eu quis dizer que é estranho o Nicholas agir tão diferente, quero dizer... Até que no meio da família ele é um cara legal. Eu o observei, mas também, não é como se eu confiasse nele.
— O Nick é um cara legal, Daniel. — suspirei defendendo meu ex-marido — Eu não teria me apaixonado se não fosse, mas... Sei lá, aconteceu algo no meio do caminho. Ou talvez eu que não tenha visto toda a insegurança dele. Lembro que uma vez, nós viajamos para uma cabana de inverno... Foi nossa primeira viagem juntos. E ele me mostrou mais vulnerabilidades do que gostaria. Eu que não percebi. Só me dei conta disso depois...

Daniel observava minhas palavras atento. Tinha algo de curioso em seus olhos, mas também, algo de compreensivo. Sacudi a cabeça afastando as memórias e me aproximei mais de meu novo namorado, selando nossos lábios num beijo.

— Eu estou feliz que você está aqui.
— E eu estou feliz em estar aqui, Annie. Agora... Seu ex-marido estar arredio tem a ver com o fato de que Priyanka não estar aqui?

Encarei Daniel, surpresa. Eu não tinha dado falta dela ali, mas fazia sentido. Nick dissera-me tempo atrás de que eles iriam terminar ou algo do tipo, então talvez fosse aquilo... Nicholas estava sozinho? Me aninhei ainda mais em Rhodes e sorri desconversando:

— Não faço ideia, mas vamos dormir. Amanhã será um dia e tanto! Dormimos rapidamente, e no dia seguinte, eu acordei primeiro. Deixei Daniel descansar mais um pouco pela viagem, e me arrumei para descer, quando cheguei na sala, vi que Paul assistia televisão. Caminhei até ele o abraçando e cumprimentando, e logo fui à cozinha, onde ele Denise e Danielle estavam reunidas segundo Paul.
— Bom dia! — falei animada, vendo as duas afoitas em anotações e conversas.
— Bom dia, Annie! — Denise soltou tudo e veio abraçar-me — Passaram bem a noite?
— Maravilhosamente. Mas, deixei Daniel descansando mais um pouco. — Imagino que por ser médico, boas noites de sono para ele sejam raras, não é? — Dani falou me abraçando em seguida.
— É, somos um casal de pessoas que não dormem direito. — falei e ri em seguida.
— Mas, com Meg aqui as coisas estão aliviando, não é?
— Estão sim, Dê! Mamãe está ajudando demais!
— Ela vai vir, não é? Não aceito essa desfeita! — Danielle já adiantou-se.
— Vem sim, junto com Tony e Miley.

Antes que elas respondessem, Nicholas entrou à cozinha sem camisa, com uma bermuda esportiva e um tênis de corrida, boné na cabeça e sua carteira nas mãos. E pelo tempo sem vê-lo daquela forma tão folgada em casa, eu me senti um tanto mexida. Mais até do que gostaria de admitir.

— Pronto mamãe! Só pegar as chaves agora e o meu telefone. Vocês querem que eu traga... – ele parou de falar ao me ver na cozinha e ficou me observando, certamente notou que eu estava constrangida:— Annie? Bom dia, tudo bem?
— Bom dia Nicholas. Tudo sim.
— Ande logo Nick! Você tem que ir no Westgate Plaza! É o único lugar que vai encontrar tudo o que falta, sem ficar rodando por aí! — Danielle falou pegando a lista de coisas a serem compradas e entregando a mim.
— O que é isso? – perguntei.
— Sabe que eu não confio no Nicholas para comprar nada. Ele é sem noção.

Denise observou a situação um pouco mais sensível do que Danielle, que parecia ter se esquecido que nós não éramos mais casados.

— Mas está mais do que na hora de Nicholas aprender que não pode gastar três mil dólares em mercado a cada compra! Ele já não tem mais a Annie para fazer isso. — Denise falou e só então Dani notou que poderia ser estranha aquela situação.

Olhei para Nicholas que suspirou e olhou para o chão contrariado por sua mãe dizer aquilo, daquela forma que eu sei, deve tê-lo magoado. Então decidi que era uma oportunidade perfeita para ressignificar qualquer coisa que envolvesse nós dois.

— Não, Dê! Tudo bem! Eu só vou avisar ao Daniel que estou saindo. Acho que uma ida ao mercado com o Nick fará bem a nós dois, porque agora, temos que tentar ser ao menos amigos. Temos uma filha, e entre nós agora, é ela quem importa. Vamos aprender a conviver com isso, não é Nick?

Ele apenas me olhou com os mesmos olhos castanho-esverdeados que me encararam chegar no dia anterior. Um tanto quanto tristes e desmotivados.

— Vou ligar o carro.

Nicholas saiu puxando uma camiseta que estava no sofá e a vestindo, troquei olhares com as outras duas que pareciam entender a minha intenção. Coloquei a lista no bolso do meu shorts e subi para avisar Daniel. Apesar de acordar um pouco assustado ele entendeu o recado e não se abalou com o fato de eu ir fazer compras com meu ex. Rhodes não tinha um terço da insegurança de Nicholas e eu não me sentia menos amada por aquilo, pelo contrário.
Dentro do carro, Nicholas ligou o rádio e eu observava a paisagem através da janela. Estar em Jersey com ele a caminho de um super mercado não era estranho, era familiar. Foram muitas as vezes que fizemos aquele percurso juntos. Olhei para o banco de trás onde estava a cadeirinha de Louis e não evitei pensar em como éramos felizes em pequenos momentos como aquele. Nicholas pareceu entender meus pensamentos e nós trocamos olhares naquele instante ao som de Shalow Now tocando no carro, e eu percebi que foi uma péssima ideia fazer aquilo. Tanto ligar o rádio quanto estar ali. Nicholas parou no sinal e nós continuamos nos olhando, enquanto a merda do lindo e romântico refrão ecoava. Até que ele desligou o rádio sem esperar a música acabar, e eu vi uma lágrima descendo em seu rosto. E odiei que ele tenha permitido-a descer, porque a lágrima dele puxou as minhas.

— Que droga Nicholas! — reclamei desviando o olhar e enxugando a minha lágrima.
— Até meu choro é proibido? Eu não sou um monstro e você sabe disso! Tem um coração ferido no meu peito e você não pode me impedir de estar arrasado com tudo isso, Annie.
— Eu sei... Desculpe... — o olhei e segurei a voz embargada — Não estou dizendo que não possa, mas... Que droga!
— Eu sei. É mesmo uma droga.

Nicholas ia falar mais alguma coisa, mas o semáforo abriu e então ele seguiu. Durante todo o trajeto não conversamos, e quando chegamos no mercado, o foco nas compras nos ajudou a não pensar em como parecíamos tão feridos no meio daquela atmosfera. Entre uma prateleira e outra dos itens decorativos, Nicholas realmente parecia não ligar para o que Danielle tinha escrito, e queria levar as coisas mais extravagantes e brilhantes para Tina sentir-se uma princesa. Mas a sorte de Dani é que eu estava ali e pude o impedir.

— Não vamos levar este quantidade de coisas em dourado! A festa é rosa com tons sutis de dourado e prateado, tema de unicórnio, não viaje Nick! Sem falar no preço! Nicholas olha a diferença de preços nesses itens!
— Se é mais caro é melhor! Essas bexigas vão estourar nos seus lindos beiços enquanto as enche, Annie!

Discutíamos no corredor e só notamos que tinha gente prestando atenção quando uma senhorinha passou por nós rindo.

— Olha aí, você fazendo escândalo.... – sussurrei.
— Você nunca me deixa fazer escândalo sozinho, pare com essa pose! Ele riu e eu não aguentei, ri também. Era verdade. Eu sempre alimentava as brigas que ele começava. Nicholas riscava o fósforo, e eu geralmente assoprava a brasa, então fazia sentido. Começamos a rir e ele devolveu as coisas que havia pego me deixando fazer tudo do meu jeito.

Foi um momento calmo e felizmente depois daquilo, conseguimos esquecer o ocorrido dentro do carro. Caminhamos lado a lado risonhos no estacionamento, e então Nicholas disse, enquanto colocávamos as compras no porta-malas:

— Aceita dar uma volta rápida?
— Uma volta?
— É, só uma volta.
— Ok.

Nick sorriu e então entramos no carro novamente. Nicholas dirigiu até Lakewood, por onde pudemos caminhar em torno do lago. Descemos do carro e sorrimos um para o outro, e observamos o lago que não vínhamos juntos há tempos.

— Kevin sempre esteve certo em não sair de Jersey, sabe? A gente cresceu aqui. Sempre teve essa atmosfera de porto seguro para nós. Criar as meninas aqui é uma escolha sábia.
— Kevin é o mais inteligente entre vocês quatro.

Nicholas me olhou surpreso e gargalhou.

— Joe vai te odiar quando souber que você pensa assim.
— Ele sabe. No fundo Joe sabe que eu o acho o mais divertido, Frankie o mais fofo e você... — Nicholas me encarou com a sobrancelha arqueada e um sorriso de dúvida — Você sabe o que eu penso.
— É... O mais caótico.

Ele sorriu e então bati em seu braço com o meu.

— Pare de drama! Eu ia dizer o mais sexy! Esse era o seu posto entre seus irmãos. Foi isso que me fez casar com você e te suportar tanto. — respondi e Nick riu.
— Ora, ora! Então eu fui só um rostinho bonito para você! Que coisa feia, Bernard!

A brincadeira pareceu tão leve que foi quase como voltar ao início de tudo aquilo. Parei de caminhar e me virei para o lago, com os braços cruzados olhando aquela natureza bonita ao redor. Nicholas viu que eu não estava mais ao lado dele e retornou parando ao meu lado também.

— Você sente falta de alguma coisa? – perguntou no nosso silêncio.
— Eu senti. Senti muita falta de várias coisas Nick. Mas... Se tem algo que eu sinto falta atualmente é disso. – apontei para nós dois — Da gente, desse jeito. A nossa amizade começou com tudo, seria importante pra mim, se tudo acabasse no mesmo jeito.
— Eu te amo. – ele disse com o rosto novamente transformado — Eu te amo mesmo, e eu não vou conseguir terminar em amizade, pelo menos não agora Annie. Mas, entendo o que você diz... A gente era divertidos juntos, não é? Tão opostos e tão iguais...
— É.. A gente era... Uma coisa meio única.
— Intensos.
— É... Intensos. – falei e senti que as lágrimas poderiam vir de novo.
— Annie, eu sei que ser amigos é só o que dá para ser agora. E sei que isso é o mais importante por causa da Louis então... Eu queria poder te dizer que... — suspirou e tomou fôlego dizendo firme: — Ainda dói, ainda estou dilacerado, mas eu sempre vou estar para vocês duas como nunca estive, porque eu estou definitivamente decidido a apagar todas as nossas memórias juntos como um casal. Eu vou te apagar da minha cabeça e do meu coração Annie, porque assim eu posso preencher com uma nova versão sua. E é pela Louis que eu vou fazer isso, porque te apagar de mim vai ser a maior prova de amor que eu posso dar a vocês duas.

As palavras de Nicholas pesaram tanto, pesaram tanto em meu peito que eu não consegui controlar o choro de novo. Eu entendia cada palavra. Quando se ama tanto alguém e os olhos permanecem tendo que ver este amor, a única forma de sobreviver é cortar a parte do coração em que este amor faz morada. Mutilar o peito é a única forma de se libertar de um grande amor, para assim como as estrelas do mar fazem, outro pedaço novo crescer, pronto para preencher-se com outro alguém. Não se planta uma nova e grandiosa colheita em cima de um terreno que já está plantado e com pouco espaço.

— Eu te entendo. E eu só quero que você seja feliz Nick. Por favor, antes de me dilacerar de você, pode ao menos se lembrar dessa promessa que me fez?

Nicholas então chorou. Na primeira vez que nós percebemos que as coisas não estavam dando certo entre nós, eu pedi a Nick que me prometesse, que apesar do que viesse entre nós no futuro, que ele se faria feliz. Que ele buscaria a própria felicidade nele, e não em ninguém.

— Eu vou ser. E você, já está num bom caminho, então... Por favor, seja feliz também.

Se eu não o abraçasse naquele momento, eu seria muito cruel. Cruel comigo, porque eu queria muito o abraçar. Então sem esperar que ele me pedisse ou saísse, eu o puxei para um abraço. E ficamos ali, abraçados um no outro chorando em uma despedida que era a nossa despedida definitiva, sabíamos, por mais minutos do que achávamos que seria. E depois de nos soltarmos e respirarmos fundo, Nicholas limpou meu rosto com suas mãos e beijou minha testa.

— Obrigada por tudo Annie. Eu precisava vir aqui e te dizer, que eu estou oficialmente desistindo de você. – falou e apontou o outro lado do lago.

Tão longe que eu quase não poderia ver, havia um píer do outro lado. Olhei para Nick, sem entender.

— Estamos em Lakewood. Não se lembra? Viemos só uma vez aqui, mas foi onde tudo realmente começou.

E então mais lágrimas desceram em meus olhos. A cabana de inverno. A cabana onde Nick e eu viajamos juntos pela primeira vez. A cabana onde fizemos amor pela primeira vez e profetizamos que ficaríamos juntos por toda a nossa vida. Estávamos no mesmo lago, e do outro lado dele, onde eu não poderia enxergar direito, estava a cabana de Nick.

— Você... Você devia ter me dito! – reclamei sentindo as lágrimas escorrerem mais pesadas.
— Talvez agora, eu possa vendê-la. Não sei se faz sentido continuar sendo o meu esconderijo...

Olhei novamente para o lago e suspirei pesado. Esperei tanto por aquele momento em que Nicholas se libertaria de mim e assim, me deixaria livre também, que eu não estava sabendo lidar com o fato agora. Não estava sendo menos doloroso só porque eu estava há mais tempo pronta para superar.

— Vamos embora! Danielle é capaz de me matar se alguma coisa atrasar ou der errada!

Nick riu e me puxou pela mão para o caminho de volta. Eu não conseguia dizer mais nada, queria muito chorar, mas não podia fazer aquilo na frente dele. Então, retornamos o caminho calados e concentrados cada um no próprio luto. Eu não sabia dizer o motivo pelo qual Nicholas tivera aquele insight, ou porque justo agora, mas uma hora teria que acontecer. Uma hora ele diria adeus, e eu já esperava por isso, só não imaginei que seria naquele momento.
Chegamos em casa com as compras e todos já estavam acordados e risonhos. Daniel estava cozinhando e uma gritaria de mulheres na cozinha me deixaram preocupada, então ao entrar, vi os homens de um lado da bancada, com suas respectivas companheiras e Daniel ao fogão jogando alguma coisa numa panela.

— O que está acontecendo aqui? – perguntei rindo e Nicholas também olhou a tudo, surpreso.
— Chegou a chef! Literalmente A chef! – Joe falou rindo e dando ênfase.
— Fui desafiado amor! Eles disseram que ser namorado de uma chef três estrelas me obrigava a saber ao menos fazer boas panquecas americanas, já que eu não poderia saber por ser britânico! Mexeram no meu ego, má chérie! – Daniel explicou fazendo a todos nós rirmos.

E eu iria defendê-lo, mas Nicholas se adiantou e o fez. Eu fiquei surpresa, todos ficaram surpresos e Daniel olhou para Nick e em seguida para mim, ele soube que algo aconteceu pelo modo como Nicholas bateu em seu ombro.

— Não caia nessa pilha Rhodes! Eu fui casado com ela por oito anos e não sei fritar bacons decentes, e piora por que eu sou americano. Eles só querem te explorar.

Observei Daniel e Nicholas sorrirem amenos um para o outro e ao mesmo tempo em que eu estava feliz, eu estava bagunçada. Nicholas como sempre era um turbilhão em minha vida, ele não me preparou nem mesmo para lidar com aquele novo modelo de homem que estava superando.

— Ora Nicholas, seria muito bom ter você como um consultor de todas as coisas que eu preciso aprender aqui. Posso encarar seu conselho como um novo início entre nós?

Daniel não era de fazer cera. Ele entendeu a aproximação de Nicholas, tal como entendeu que não era o momento de exigir muito, mas talvez, estender uma bandeira branca sutil.

— Um novo início. É, podemos dizer isso.

Os dois trocaram um aperto de mão e Denise sorriu para Paul emotiva. E quando a vi chorando, eu não consegui não chorar, então saí para a sala, e Daniel notou. Quando conseguiu ficar livre das panquecas, ele veio até mim. Eu estava sentada na varanda da frente, acariciando o pêlo de Elvis, quando meu namorado sentou-se ao meu lado me puxando num abraço pelos ombros.

— Se despediram bem?

Era incrível como Daniel era perspicaz e sensível.

— Sim. Ele jogou a toalha, e... Eu acho que agora sim, acabou.
— E como você está se sentindo?
— Eu estou feliz por isso, mas ao mesmo tempo, é... Esquisito. Nicholas vem sendo imprevisível desde o início, mas hoje... Eu só acho que não esperava que seria nessa viagem, nessa ocasião que ele assumiria o fim, sabe? Sei lá... Acho que eu mais vim preparada para uma novela mexicana do que um final de filme clichê.
— Ei... – Rhodes puxou meu queixo para me olhar: — Tudo bem não se sentir tão bem quanto achou que seria, eu entendo a pressão emocional que é estar nesse lugar, nessas circunstâncias e com ele e sua filha ainda... Não ache que sou ingênuo, eu sei que isso mexe com você. Mas, eu estou aqui, e sempre estarei, ok? Não precisa ter medo de me contar nada.

Olhei para Daniel e não evitei o riso. Apesar de seu olhar compreensivo e seu sorriso gentil, eu notei que ele estava tenso. E imaginei bem o motivo, então decidi ser direta, sincera e até sorri com aquilo:

— Nós não nos beijamos, Daniel.
— Graças a Deus! – ele fez um falso drama levando a mão ao peito e me fazendo rir, até que explicou: — Brincadeira, só queria te fazer sorrir.
— E conseguiu. Mas, nós fomos até Lakewood caminhar juntos e conversar, e rolou um abraço. Um abraço de despedida oficial.
— Eu sei. Vocês foram fotografados e a notícia já chegou no Kevin.
— O quê?!

Daniel sorriu dando de ombros e quando olhei para a frente da casa de Kevin, que era uma típica casa sem muros, grades ou cercas, observei um carro parado do outro lado da rua.

— Aquilo é...?
— Um paparazzi. O Kevin sabia, pelo visto, que ele estaria aqui. Só que ele não avisou a Danielle, eu acho... Enfim, talvez ele te explique melhor. Sorte sua não ter o beijado, Annie, eu ficaria ofendido de verdade!

Daniel me encarou com um semblante sério enquanto eu ainda estava chocada.

— Não por beijar ele, claro. Meu beijo é bem melhor, eu aposto. Mas eu ficaria ofendido de você me colocar chifres na mídia, e nem me avisar para eu ao menos treinar umas poses bonitas.
— Você é inacreditável, Rhodes! – falei gargalhando — Vou consertar qualquer problema, vem aqui...

E enquanto ele ainda ria, o puxei para um beijo. Pronto, mais material para os paparazzi. Em seguida Nicholas chegou na varanda, enquanto a gente se beijava, e parecia ciente do carro ali, já que nos serviu bebidas e sorrindo falou qualquer coisa que não fazia sentido para nós.

— Ele beija tão bem quanto atua? – Daniel me perguntou depois que ele saiu.
— Isso não é pergunta que se faça, Daniel! – desconversei e o puxei pela mão até dentro de casa.

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