Capítulo 1

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"If you... If you could return?" (Linger - The Cranberries)


Seis meses tinham se passado desde que ele saiu pela porta com sua mala, e não mais voltou. Três meses foi o tempo que levou para que Louis entendesse que o pai não voltaria para casa. Dois meses foi o que ele precisou para colocá-la em meu lugar. 


Denise, minha ex-sogra, me telefonou várias vezes e embora a ideia do divórcio fosse contra seus princípios moralistas, ela tentou me apoiar e me convencer a voltar atrás. Mas, não foi uma decisão minha. Foi um cansaço nosso. Foi o extremo de anos com o copo gotejando. Uma hora, não dá mais. E quando eu vi a foto de Priyanka deitada ao lado dele naquela cama, no que deveria ser uma viagem de negócios, eu estava exausta. Eu estava tão exausta de tudo!


Pode ser que Nicholas não me dera motivos. Pode ser que eu tenha exagerado nas 99 vezes que o acusei. Mas, naquela única fotografia havia toda a razão para eu surtar outras 99. Eu não havia de fato o acusado 99 vezes, mas... Foram muitas declaradas. As acusações não declaradas, os surtos mentais que eu sofri em silêncio, estes se não chegaram a tal número foram até superiores.


Minha mãe passou um mês em minha casa. Eu não tinha forças para seguir em frente, nem mesmo por Louis, minha menininha de três anos. O divórcio é como um luto por alguém que se foi. Realmente, literalmente, é uma morte. Uma perda. O fim, onde só restarão as memórias. As minhas memórias com Nicholas haviam sido turbulentas.

Quando nos conhecemos e nos envolvemos, numa situação casual de dois estranhos se conhecendo, jamais pensei que chegaria onde estou. Eu, uma mulher simples. Apenas uma microempresária, cujo pequeno bistrô não chegara a três estrelas. Ele, um cantor internacional.
Eu estava há dois anos nos Estados Unidos com um negócio recém-aberto. Francesa e formada na Le Cordon Bleu, aventuras eram a meta que eu buscava. E não sei por quê, naquela época, eu julgava que não as encontraria na França. Talvez, porque a grama do vizinho é sempre a mais verde. 


Era mais um dia ameno de poucos clientes, porém fiéis. A caneta no canto da minha boca, com a ponta já estragada era sinal de um mau hábito que eu tinha quando estava estudando. Alex estava atendendo as mesas, e eu concentrada nas anotações de uma nova receita. Quando ele interrompeu-me dizendo que "um famoso entrou no restaurante", eu imediatamente pulei da cadeira e corri para a cozinha. Vesti meu avental, me ajeitei e caminhei até a mesa para receber Nicholas Jonas.

Ele não deu importância à chef presente, mas não foi mal educado em momento nenhum. Estava acompanhado com outras pessoas, das quais eu só saberia mais tarde, serem companheiros de trabalho. Fez os pedidos e a partir dali, sua figura era visita constante em meu bistrô.

Assim, nos envolvemos pouco a pouco.
Na época, ele estava noivo de Priyanka Chopra. Ele estava cansado de ser Nicholas Jonas, embora amasse seu trabalho. Ele estava no auge e na corda bamba. No auge da carreira. No auge da mídia. No auge da popularidade. Lembro-me de Priyanka entrar ao bistrô num dia, em que eu e ele apenas conversávamos enquanto ele aguardava o seu pedido, e a mulher fora extremamente simpática comigo. Então eu saí dali, deixando-os a sós e olhei discretamente para os dois antes de entrar à cozinha. Ele me encarava.

Eu sabia que algo estava estranho no meu coração, e sabia que algo estava estranho entre eles. Nicholas estava no auge de muitas mulheres também, e os rumores constantes vieram após o fim do noivado. Meu coração doía, porque aquele não era um cara comum. E eu era uma mulher comum que não saberia lidar com nada daquilo. Nicholas Jonas estava na corda bamba do amor, na corda bamba das certezas de sua vida, na corda bamba da mídia e tudo em sua vida era muito. Era intenso.

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