Capítulo 49

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Narração por Daniel



Annie chegou mais tarde do que calculei. Vestia-se de um vestido florido em estilo havaiano e eu pude apostar que não eram as roupas que ela teria ido encontrar-se com Nicholas.

— O que houve meu amor? — perguntei quando abri a porta dando passagem para ela.

— Fomos perseguidos pelos paparazzi e tivemos que recorrer a um velho amigo.

— Velho amigo?

— Sim, dono de uma loja de surfe que nos abrigou para fugirmos despercebidos... Enfim...

Annie não me parecia muito bem, algo abalava os seus pensamentos e por isso, ela sentou-se cansada no sofá. Sentei-me ao lado dela a puxando para um abraço que pude comprovar, era necessário. Ela me abraçou de volta apertadamente.

— Certo... Parece que o encontro de vocês não foi bom...

— Não é isso... — murmurou suspirosa: — Eu descobri mais coisas em relação aos feitos da Priyanka, que foram cruciais para o andamento das coisas, sabe?

— A manipulação da Priyanka, de fato, atrapalhou o casamento de vocês mais do que os pequenos problemas que poderiam ser resolvidos?

— Talvez... Silêncio e um suspiro. Eu não estava tão ansioso com tudo aquilo até aquele momento. Agora sim, parecia que eu deveria sentir alguma ameaça por conta do passado. Annie estava mexida com a ideia de que a sua história poderia ter sido outra, seja lá o que ela tenha descoberto acerca das ações de Priyanka, as quais pareciam ser bem maiores do que a ponta daquele iceberg que havíamos presenciado.

— Você quer tomar banho enquanto eu preparo um chá ou algo para você comer? — perguntei com a voz um tanto tensa.

— Eu só quero ficar com você aqui, coladinha, mon chér.

— Me conta como foi... Se estiver bem para isso, é claro.

— Bem, Nicholas e eu fomos à praia de Santa Mônica...

— Stella... — murmurei como um pensamento que escapou em voz alta.

— O quê?

— Ela estava certa. Disse que lá era "o lugar" de vocês dois.

Annie se afastou do meu abraço para me olhar com atenção, e eu apenas mantive meu sorriso de canto, enciumado por saber que a pirralha da minha vizinha tinha alguma razão sobre aquilo, e amedrontado que ela estivesse correta sobre outras coisas também.

— Stella veio aqui? Por quê? — Annie tentava entender o contexto da minha história.

— Encontrei-a no elevador, ela me fez perguntas sobre tudo isso sempre deixando muito claro, o quanto torce por você voltar com ele, e comentou sobre a simbologia dessa praia para vocês dois...

— Daniel...

Annie se ergueu no sofá, com a voz de quem previa ser necessária uma justificativa por mais que eu não a tivesse pedido, embora, com certeza, minha expressão mostrasse claramente o que eu sentia, já que cinismo não é a minha:

— Não pense que fomos até lá por conta de qualquer sentimento, que não fosse o desejo de ficar confortáveis para tocar num assunto que se tornou ainda mais doloroso, ok?

— Eu não pensei nada, má chérie. Na verdade, eu compreendo que vocês tenham ido até lá para colocar o ponto final de vez, não é?

Minha voz não saiu tão tranquila quanto deveria, e Annie estava de olhos arregalados, em surpresa, e um sorriso bobo tomou seus lábios enquanto ela tentava disfarçar que não tinha massageado o próprio ego com a minha fragilidade.

— Está com ciúme do Nick!

— Eu... — suspirei e fugi ao olhar dela, depois a encarei envergonhado confirmando: — Eu não sou uma mosca morta, Annie, e embora as pessoas possam achar que sim, eu também não tenho sangue de barata... Este tipo de sentimento frustrante e irracional também me atinge e é lógico que eu sinto ciúme do Nicholas! A estrada de vocês é bem maior e com mais frutos do que a nossa!

Annie riu baixinho e engatinhou do sofá até mim, sentando em meu colo, agarrando-se ao meu corpo como se não quisesse me soltar ou me deixar respirar. Sua cabeça encostada em meu ombro, com a face afundada na curva do meu pescoço me fizeram arrepiar ao sentir o hálito dela batendo ali. Parecia uma adolescente emocionada.

— Tão adorável saber que você não é uma mosca morta, Dan!

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