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Nicholas se apressou a alcançar a filha e abraçá-la. Cumprimentou Daniel com o olhar e um leve cabeceio, e se levantou puxando-me para um abraço. Eu fiquei assustada pela aproximação incomum desde que nos separamos, e percebi o espanto no rosto de Nicholas, como alguém confuso tentando entender o ocorrido.

Daniel me olhou com um sorriso cúmplice de quem entendia a situação estranha, e eu, na verdade ainda o olhei com a mesma expressão de dúvida.

— Bem. Pais, o que aconteceu é que Louis provavelmente comeu a mais do que o possível, e certamente ingeriu algo fora da dieta, algum alimento rico em açúcar. A glicose subiu mais rápido do que a insulina poderia agir, e teve um quadro brando de hiperglicemia. Vamos manter a observação por algumas horas aqui, e...

Daniel se abaixou à altura do rosto de Louis, e falou sorrindo a ela, sem perder a postura de médico:

— Mocinha, eu sei que às vezes dá uma vontade grandona de comer doces. Mas, seja lá o que você queira comer Louis, é só pedir ao papai e à mamãe. Não é preciso comer escondido, porque você pode comer o que quiser, só que antes deve tomar o remedinho. Por isso, papai e mamãe tem que saber tudo o que você come, está bem?

— Tá bom tio Daniel. Eu não vou mais comer nada sem falar com eles.

— Ou com quem estiver cuidando de você, filha. – alertei.

— Tá bom mamãe.

— E o caderninho que o tio deu para você? – Daniel perguntou.

— Eu desenhei tudo!

Louis falou animada. Daniel deu a ela um caderno para que ela desenhasse tudo o que come, como uma forma de incentivar nela o hábito de fazer o recordatório alimentar diário. Louis ainda não sabe escrever, por isso, ela desenha tudo o que come, ou melhor, tudo o que lembra. É só uma brincadeira, mas ela acha que faz parte do tratamento, e é bom criar o hábito.

— Muito bem! Eu vou ver as outras crianças e mais tarde retorno para te ver, tudo bem?

— Quando a gente vai no parque? – Louis perguntou ansiosa.

Nicholas olhou para nós dois de um modo desconfortável.

— Quando a mamãe estiver menos ocupada. – respondi e sorri para Daniel, que piscou sorrindo em minha direção e saiu.

Nicholas esperou o médico sair para só então conversar com Louis. Ficou um tempo sentado à cama dela, abraçado a ela, brincando e conversando. Não direcionou muitas palavras a mim. Eu fui ao canto do quarto telefonar para Alex, informar a ele para segurar as pontas no bistrô. Quando me reaproximei foi que Nicholas falou comigo.

— Seu cabelo... Por que fez isso?

— Porque eu quis. Que tipo de pergunta é essa? Foi bem grosseiro. – falei incrédula, mas calma.

— Desculpe, não quis o ser. Eu só... Fiquei surpreso.

— A mamãe está linda. – Louis disse mexendo no telefone do pai.

— A mamãe não está filha, ela é linda. – ele respondeu sorrindo para a menina que sorriu junto.

Mantive-me em silêncio sem ver motivos para adentrar a conversa, respondê-lo ou render aquele tipo de assunto.

— Pode ir para o restaurante, Annie. Eu levo a Louis para minha casa.

— Não é preciso.

— Mas, e se ela quiser? – ele perguntou um pouco reticente.

— Então pergunte a ela. – eu respondi óbvia e começando a me irritar.

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