[26.2]

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— Não vai comer, papai?

Despertei dos meus pensamentos com a voz fofa da minha filha, fazendo um aviãozinho com seu garfinho ao meu lado. Abri a boca e ela gargalhou quando eu comi, então dei atenção ao meu próprio jantar.

— Kevin e Joe estiveram aqui, um tempo antes de eu voltar Nicholas. Ao que entendi, tem a ver com o aniversário da Valentina.

— Ah, sim... É mesmo... É só que, às vezes parece que meus irmãos são mais presentes aqui do que eu.

Eu não tinha medo de confessar os meus sentimentos para Meg. Nós éramos a certo ponto, até parecidos. Ela era uma mulher impávida, e eu um teimoso. Meg encarava-me de frente desde que nos conhecemos, e nunca mediu palavras fossem elas, duras ou doces. Ela foi por muito tempo como uma segunda mãe para mim. E eu esperava ser um bom filho, mas sentia que não fui apesar de nunca esconder dela, nada que passasse por minha cabeça e coração. Talvez por isso, ela fosse tão dura. Meg sabia que eu amava à Annie, sabia puxar as minhas rédeas, e sem dúvidas, de todas as pessoas depois da minha família, creio ela ter sido a pessoa que eu mais decepcionei.

— Mas você vai mudar isso não é? – sua pergunta, o sorriso de canto e a sua atenção totalmente voltada ao próprio prato. Ela não me encarou, e eu soube que aquela pergunta era o fio de esperança de Meg, para que eu mantivesse o carinho dela por mim depois de tudo.

— Com certeza! Estive com a Annie hoje, e tivemos uma boa conversa sobre a rotina desta bonequinha aqui.

— Hm... – me olhou com satisfação — Isso é ótimo! Eu fico feliz. A Louis se divertiu tanto nas compras com você, ela quer mesmo ter o pai com ela.

— E eu quero estar com ela também, vou conciliar melhor o trabalho.

— Exatamente Nicholas, é o seu trabalho que deve adaptar-se à sua família. E não o contrário. Erros existem para aprendermos a não cometê-los novamente.

Concordei com Meg, sorri e entre uma garfada e outra, eu brincava de aviãozinho com a Louis.

Antes de ir embora, Meg quis me dizer algo. Eu a ajudei com a louça, coloquei a Louis para dormir, e o relógio já marcava as dez horas da noite. Priyanka não se importaria se eu não fosse aquele noite, afinal, ela estava cansada. Então eu decidi ficar com minha filha por mais um tempo, e em seguida ir para casa. Na manhã seguinte eu falaria com a Pri, começaria a busca por uma babá e depois iria a um evento social que estava agendado à noite. Se Priyanka me acompanharia, era outra história.

Já na porta da sala, à caminho do portão, Meg me abraçou em despedida e pegou meu rosto com suas mãos, ajeitando o meu cabelo. Como antigamente, como a mãe que foi para mim.

— Nick... Eu quero muito vê-lo feliz, mas eu não quero vê-lo com a Annie. Não é só pelo modo como acabou, mas justamente porque acabou. Eu me disponho a estar presente para o que você precisar, mas... É a minha filha primeiro. E sabe, eu quero muito que você siga o seu caminho, feliz, da forma certa, ao lado da sua filha e até ao lado de Annie, Toni e eu. Mas, ocupando outro espaço. Entende?

— Entendo a sua preocupação Meggie. E agradeço o seu carinho. Sei que te decepcionei, magoei a todos e eu realmente não tenho como voltar atrás. Mas, eu amo a Annie de verdade, e eu tenho o direito de tentar começar de novo. Voltar atrás não, mas recomeçar sim. E eu quero recomeçar com ela, se ela quiser e deixar.

Meggie suspirou descontente, não me olhou nos olhos, cruzou os braços e assentiu com um aceno de cabeça. Ela me conhecia, e sabia que eu não iria simplesmente desistir.

— Eu só não quero que você magoe minha filha ainda mais, e nem a minha neta.

— Eu não farei isso, pode confiar dessa vez.

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