Depois que eu tomei banho, me preparava para dormir na tentativa de me distrair com um filme qualquer, mas foi inútil. Annie não saía da minha cabeça. As palavras dos meus irmãos e pais não saiam da minha cabeça. Priyanka, e a noite que, agora posso dizer, supostamente eu traí à Annie, também não saía da minha cabeça. Pensamentos demais, para paciência de menos.
Repensei na tarde que tive com a Annie. Nós fomos muito bem, naquele convívio. E eu havia me disposto aquilo: ser um pouco menos detestável se fosse possível. Por isso, enfrentei a discussão com Priyanka sobre “eu não tenho que evitá-la, eu estou no meu lugar” com mais sensatez do que normalmente teria, e fui sincero com ela quanto a me importar que Annie não se sentisse desconfortável sem necessidade. Achei que Pri teria entendido, mas quando ela surgiu de surpresa na casa do Kev, eu senti tanta, mas tanta raiva...
FLASHBACK
— O que está fazendo aqui? – eu a perguntei surpreso e descontente.
— Ora, Nicholas! Você me disse que estava na casa do seu irmão com todos, eu não podia vir?
— De forma alguma Priyanka, imagine. – Dani sorriu sem graça e foi cumprimentá-la, assim como todos os outros.
— Tudo bem Annie?
Ela perguntou para minha ex-mulher depois de cumprimentar a todos, com seu sorriso de tranquilidade em seu rosto. Eu não sabia definir, se Pri estava a confrontando ou não, mas ao notar a expressão de Annie eu soube que ela estava tentando se fazer inatingível. Annie continuou mexendo com as lembrancinhas de aniversário que preparava, mas estendeu-lhe uma mão simpática em cumprimento. Todos os gestos de Annie demonstravam uma luta interna para não se sentir constrangida.
— Tudo ótimo, Chopra. E com você? – respondeu-a séria, mas amena.
— Não precisa dessa formalidade, pode me chamar de Pri ou Priyanka.
— Como preferir, Priyanka.
Eu não poderia esperar que a Priyanka puxasse uma cadeira e sentasse ali, a fim de forçar a convivência que eu havia dito para não forçarmos. Na verdade, eu não conseguia fazer uma leitura das intenções da Priyanka, como conseguia fazer com as intenções de Annie. Eu peguei a mão de Pri e a guiei até a sala, deixando os outros silenciosos à copa.
— Por que você veio? – perguntei impaciente.
— Por que você acha que eu vim, Nick?
Pri perguntou de volta com sua expressão de sabedoria, que eu detestava. Fazia-me sentir uma criança perto dela.
— Eu disse que não quero expor a Annie a isso agora.
— “Isso” que você diz, sou eu?
— Não começa Pri...
— Porque se for, Nick, você já a expôs a mim, e a coisas muito piores antes. E diferente do que está pensando, eu não vim para confrontar a Annie. Tivemos algumas divergências, mas acredito que ela seja muito mais madura do que você pensa, e eu também.
— Então o que está fazendo aqui, afinal? – perguntei com as mãos à cintura ainda mais impaciente.
— Vim para avisar a você que estou saindo em viagem a trabalho. Vai ser por pouco tempo. E antes que você me faça ficar mais brava por palavras usadas sem o menor cuidado, sua especialidade, aliás, eu te adianto que tentei telefonar. Mas o seu celular é para enfeite, não é?
Eu me senti tão ridículo e ainda assim bravo que fiz o que faço de melhor: ser um idiota.
— Você não precisava vir até aqui, poderia ter viajado e me ligava quando chegasse.
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Linger
Fanfiction[Concluído] Depois que ele saiu pela porta de sua casa, Annie não imaginava que as coisas tomariam destinos tão controversos. Lidar com uma separação como aquela, com as suas inseguranças femininas e tentar se refazer não é fácil, principalmente qua...