Narração por Nicholas Jonas
Quando eu apertei a mão de Daniel na cozinha, e minha mãe e meu pai trocaram olhares orgulhosos e emotivos entre si, notei que estava no caminho certo. Apesar de ser difícil e doloroso. Mas antes que eu pudesse falar com mamãe, Kevin apontou para que eu o seguisse até o quintal dos fundos.
— O que houve?
— Reparou no carro te seguindo? – Kevin perguntou direto, mas baixinho.
— Não... Não vi nada, o que houve?
— Eu tive que concordar com um paparazzo na porta de casa, e fiz um acordo com a emissora para ele não ficar aqui amanhã durante a festa, poderia fazer campana hoje, mas você saiu antes de eu acordar e te avisar. Danielle não sabe ainda, porque eu não queria deixar ela preocupada.
— Hm... Então tem um carro aí na frente e ele me seguiu? O que já saiu na mídia? – perguntei pegando meu telefone no bolso, e Kevin estendeu o aparelho dele aberto na foto.
— Vai sair. Ele me mandou antes, só para aviso. Não é como se eu tivesse conseguido um acordo para bloquear isso também, eles sabiam que você viria, que Annie viria, e o fato de Priyanka não estar aqui ainda é mais especulação. Desculpe Nick.
A foto era do momento em que Annie e eu estávamos abraçados no lago. Passei para o lado, e pude ver outra, de nós saindo do mercado juntos e risonhos.
— Merda... Eu pedi a Pri para vir antes, mas eu não posso exigir nada...
— Acalme-se Nick. – Kevin sorriu — Não fica preocupado, você não tem culpa. Você e a Annie não fizeram nada errado, e o jeito é a gente mostrar que não tem nada demais acontecendo. Eu não sei o que rolou entre vocês, mas eu já falei com o Daniel e ele deve estar conversando com a Annie agora.
— Ele reagiu bem a isso? – perguntei surpreso apontando a foto no celular em minha mão.
— Ele disse que não viu nada de mais nisso. Que ela explicaria o que aconteceu quando quisesse. Ele é seguro, Nicholas.
Revirei os olhos. Era óbvio que Kevin começaria a dizer qualquer coisa para me menosprezar, mas, meu irmão me surpreendeu ao dizer:
— Estou orgulhoso e feliz por você Nick. – então o encarei e ele me puxou para um abraço: — Sempre serei o seu irmão mais velho, e sempre estarei aqui para te ajudar a ver o melhor caminho, ok?
— Obrigado. – suspirei — E agora? O que eu faço com isso?
Kevin olhou para a foto e então pensou e disse:
— Mostre a eles que você aceitou o fim. E uma boa forma de fazer isso, é ser gentil com os dois.
Ponderei sobre aquilo e ele estava certo. Então entrei junto ao Kevin, peguei dois copos de suco e levei até a varanda, onde Sophie disse que o casal estava. Deparei-me com os dois se beijando apaixonadamente e pensei que eu realmente deveria ter jogado pedra em Cristo.
— Um pouco de suco para aplacar essa sede de vocês, casal. – olhei para frente e lá estava o carro, provavelmente nos fotografando, então sorri e falei fazendo piada: — Apesar de tudo, estarei com a mangueira do jardim por perto, ouviram?
Annie e Rhodes pegaram o suco me olhando estranhos e eu entrei. Joe me esperava do lado de dentro com uma expressão de orgulho sarcástico e batia palmas. Bati em sua cabeça e fomos rindo para o fundo da casa, e eu realmente falei sério. Eles não achavam que eu fosse aceitar cenas de romance explícito entre os dois na minha frente, não é? Louis correu até mim, logo que acordou e disse que sentiu o cheiro de panquecas e estava faminta.
— Foi o tio Rhodes que fez filha! Será que está bom? – perguntei a sentando na bancada da cozinha.
— Tá sim papai! Ele faz mingau gostoso! – Louis falou convicta e atacamos juntos a uma panqueca.
Quando Annie entrou na cozinha, nossa filha a chamou e então eu fui atender meu telefone um pouco distante de todos. A ligação de Priyanka não poderia ser mais providencial, e também, uma surpresa para mim.
— Pri?
— Oi Nicholas... Eu, só estou ligando para dizer que estou chegando à casa de Kevin. Na verdade, eu estou estacionada na rua, mas notei um paparazzo, então fiquei na dúvida do que eu deveria fazer...
— Ainda bem que veio Pri! Achei que recusaria e só fosse chegar amanhã e... – comecei a justificar, mas ela me interrompeu de forma ansiosa.
— Nick, podemos conversar depois sobre isso, agora, eu preciso saber o que fazer. Ele vai notar o meu carro parado aqui.
— Certo. Certo! Venha, pode vir! Eu te explico depois o que está rolando, mas teremos que encenar na frente dele, tudo bem?
— Claro. Não é muito diferente do que acordamos entre nossos agentes. Me receba na entrada.
Priyanka desligou e eu suspirei. Estava me sentindo esquisito por aquela situação, ela chegaria e eu teria que fingir externamente com ela, e quando entrasse em casa tudo seria como antes. Só que, com o casal do momento se agarrando pelos cantos da casa. Os sentimentos tóxicos que eu vinha nutrindo por todo aquele tempo ainda reverberavam em mim. Não poderia ser diferente, ninguém supera seus defeitos no momento em que se dá conta deles, eu ainda teria um tempo doloroso de solidão e culpa. Mas, por Louis, eu faria o meu melhor.
— Filho? Está tudo bem? – minha mãe apareceu ao meu lado, enquanto eu ainda encarava o aparelho telefônico em minhas mãos, pensativo.
— Sim mãe. A Pri chegou, preciso recebê-la.
Mamãe assentiu e eu fui em direção à entrada da casa. Quando desci as escadas da varanda, vi Priyanka estacionando em frente ao gramado. Caminhei apressado até ela, mas não por fingir demonstrar saudade, porque eu realmente sentia a falta dela. Priyanka era minha amiga, apesar de tudo. Ela descia do carro e dava a volta pela frente dele, quando fui a sua direção de repente, pegando-a desprevenida ao mexer em sua própria bolsa, e a abracei, nos rodopiando.
— Nicholas? – a voz dela demonstrava que Pri não esperava por uma demonstração daquela, e eu ansiava para que ela não me odiasse pelo o que eu faria.
Quando a coloquei de volta ao chão, ela ainda ria pelo momento, então a beijei sem aviso prévio. Ao contrário do que imaginei, não foi um beijo estranho, foi exatamente o beijo que sempre tivemos.
— Você adora um palco, não é? – Priyanka sussurrou depois que nos separamos.
— Desculpe te deixar desconfortável.
Trocamos aquelas palavras com sorrisos e trocas de carinho em encenação à frente dos cliques que já sentíamos atrás de nós, do outro lado da calçada. Subimos o gramado de mãos dadas e naquele momento, eu pude explicar a ela o que acontecia. Ao entrarmos na casa, Sophie e Joseph estavam brincando de alguma coisa em que um perseguia ao outro, e ao verem-na chegar, calorosamente a cumprimentaram.
— O que todos sabem? – Priyanka perguntou a nós três sem cerimônia.
— Acho que com exceção das crianças, todo mundo sabe que você chutou o Nick. – Sophie falou debochando.
— Você está a cada dia pior, e o que me chateia é saber que o Joe te ensina essas coisas! – brinquei.
— Não fala assim com a minha futura esposa, Jonas número 3!
Pri e Sophie riram apertando as bochechas de Joe como se ele fosse um bom homem. Um cretino! Porque tanto como Kevin, ele realmente era.
— Bem, todos sabem. – respondi à Priyanka — Eu vou estacionar o seu carro na garagem e trazer as suas coisas para dentro, me dê sua chave, por favor.
Ela assentiu entregando e eu saí. Não sei o que ela conversou com meu irmão e Sophie, como foi recebida por todos, embora... Ninguém faria nada de errado, é óbvio! Mas, me preocupava como Priyanka e Annie reagiriam. As duas sempre foram cordiais e educadas, um tanto pacientes também, eu confesso. Mas, era diferente naquele momento. Pri e eu não éramos mais um casal. Annie e eu, tampouco. Estar entre as duas como parte de um triângulo que não existia mais era algo novo. Para minha surpresa, ao retornar, lá estava Priyanka cheia de sorrisos conversando com Annie e Rhodes, no quintal dos fundos onde todos se reuniam em organizar os preparativos.
— Annie! Pode pegar os painéis para mim, por favor? Estão no meu quarto! – Danielle gritou de um ponto onde armaria a tenda do bolo, na área externa interrompendo as duas mulheres.
E eu que me aproximava consegui escutar Priyanka a dizer:
— Eu te ajudo!
As duas passaram por mim, em silêncio, mas sem sinal de tensão. Talvez fosse só eu que estivesse esquisito com aquilo. E talvez minha expressão de desespero fosse muito clara, porque um copo com algo alcoólico surgiu em minha frente à altura do meu rosto, quando eu ainda encarava o lugar por onde as duas saíram.
— Sei que conhece a Annie suficientemente bem para saber que ela não vai indispor com a Priyanka. E pelo pouco que conheci a Priyanka, não tem motivos para ficar com essa cara de assustado.
Era o Daniel. Sorrindo e me estendo uma bebida, com um conselho que eu não pedi. Mas, vamos lá Nick, você é melhor do que isso. Respire, sorria e beba.
— Obrigado.
— Nicholas. Eu não quero que esta situação de ter vindo com a Annie se torne um incômodo para ninguém, sei que você também não quer. Fico realmente feliz de vocês dois terem conversado, a sua filha precisa muito dessa parceria entre vocês. Você sabe disso, não preciso dizer. Mas, eu também compreendo que você não gosta de mim. Não vou forçar uma situação entre a gente, ok? Espero que nós possamos com o tempo, nos aceitar.
— Eu te odeio de verdade Daniel. – respondi bebendo o que me parecia Gin, e eu detestava Gin, e o encarei de modo sério ao dizer: — Você me tirou todas as chances de consertar qualquer coisa. Mas, eu também compreendo que não seja sua culpa. Quando ela se foi da minha vida, já era definitivo, eu que não notei. Então eu te odeio, não por culpa, mas por inveja. Você é tudo o que eu deveria ter sido com ela.
— Não. Não sou não. – Daniel respondeu no mesmo tom e seriedade: — Eu e ela de longe não teremos nada do que vocês dois viveram juntos. Cada história é uma história, e eu sei que tiveram bons momentos. Do contrário não teriam se amado. Apesar de tudo, observo a sua família e seu modo de agir com eles, e sei que tem algo que valha a pena em você. Mesmo que no mais oculto do seu interior. Deve ter algo que preste aí dentro, Jonas. – ele riu ao zombar.
— Agora você se sente confortável para zombar da minha cara dentro da casa da minha família? – devolvi o deboche com ar de brincadeira. Quase pacífica.
— Eu te zombo há muito tempo. Desde a minha vizinha adolescente até mesmo na cozinha do bistrô.
— AH... Claro... Você deve ter virado muitas noites no trabalho com ela, se não como se aproximariam, não é?
— Quer mesmo saber o que ela e eu fizemos juntos neste tempo todo, Nick? – a voz de Rhodes era ainda mais debochada e sarcástica.
— Não, eu quero saber dessa sua vizinha. Que história é essa?
— Sei que está solteiro, mas não tenha esperanças! Ela é uma adolescente apaixonada por você.
Ergui a sobrancelha estranhando a informação e vi Daniel rir batendo em meu ombro:
— Vamos recomeçar de verdade, certo?
— Estou disposto a isso, mas não teste a minha paciência, Rhodes.
E a partir daquele momento, nós andamos lado a lado até umas cadeiras, onde conversamos de jeito ameno. Rhodes me contava sobre a tal Stella e o motivo para ele nutrir certa implicância comigo, antes mesmo da existência de Annie em sua vida.
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Linger
Fanfiction[Concluído] Depois que ele saiu pela porta de sua casa, Annie não imaginava que as coisas tomariam destinos tão controversos. Lidar com uma separação como aquela, com as suas inseguranças femininas e tentar se refazer não é fácil, principalmente qua...