Capítulo 83

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BEATRICE NARRANDO...

Um dos sentimentos mais difíceis pra mim, foi o de ver minha mãe tão fragilizada. Eu sabia dos efeitos do tratamento do câncer numa pessoa e eu já a vi passar mal muitas vezes, mas aquele dia foi o mais difícil... Eu entendi o sentimento de dor de uma mãe quando um filho adoece, quando eu tive que dar banho nela. Céus... Era horrível... A fragilidade dolorosa dela, o corpo trêmulo, os gemidos de dor. Eu cuidei dela como quem cuida de uma criança. Eu quis chorar, mas não podia fazer isso na frente dela. Ela já estava frágil demais. Quando entrei no meu quarto para me secar e me trocar eu chorei muito e senti um medo absurdo de perde-la. Eu a amo tanto que dói. Minhas mães sempre fizeram tudo por mim e meus irmãos, sempre nos deram tudo de material, mas nunca deixaram faltar o essencial e o mais importante que é o amor, a atenção, o carinho, os conselhos. Minha mãe Priscilla é mais brava, mais enérgica digamos assim. Ela costuma dizer que ela tem que ser o lado mau da nossa educação porque a mamãe não consegue ser assim então ela fica com a parte mais difícil. Ela é um tanto ciumenta, um tanto protetora, mas também um tanto rápida para resolver certas coisas. A minha mãe Natalie é mais paciente, mais ouvinte, mais calma e quase não é de demonstrar ciúmes. Ela tende a ser mais compreensiva. Mas uma coisa que as duas tem em comum, é o amor por mim e meus irmãos. Eu sou tão grata por tê-las, tão feliz por saber que elas são minhas mães e no menor sentimento de perda de uma delas é uma dor angustiante no peito. Quase desisti da minha viagem vendo minha mãe daquele jeito, mas a mãe Pri não deixou. Alguns dias depois a mamãe estava bem, parecia outra pessoa e meu coração ficou mais aliviado com isso. Fiz minha mala, minha mãe a refez porque eu fiz tudo errado e ela deu risada, e a viagem chegou. Chegamos em Cancun 4h30 depois. Pegamos um voo direto. O hotel era incrível, a vista do nosso quarto era incrível e tínhamos 15 dias para desfrutarmos de uma viagem incrível entre amigas. Ficamos no quarto até a hora do jantar, tomamos banho e descemos e quando ouvi uma voz conhecida meu corpo todo arrepiou.

Jade: Ai meu Deus... – falou pausadamente.

Eu: Não é quem eu estou pensando não né?

Jade: É...

Hailey: O que ele está fazendo aqui? Isso não é coincidência.

Aideen: Oi Beatrice, a gente pode conversar?

Eu: Não... – respondi sem olhar pra ele e sai andando e as meninas vieram atrás.

Julie: Ele deve ter visto no instagram que viríamos pra cá. Ele tenta falar com você faz tempo, desde aquele fato.

Eu: Eu vou falar com a minha mãe, vamos mudar de hotel.

Jade: Bia, a gente o vê no colégio todos os dias, que diferença faz aqui? Só não falar com ele. Para... Estamos tão felizes, nós planejamos tanto essa viagem, não vamos estragar tudo por causa dele.

Eu: Não quero mais jantar. Vou subir... – eu subi para o meu quarto. Eu estava dividindo quarto com a Hailey e na porta que dividia nosso quarto estava Jade e Julie. Peguei o ipad e liguei pra minha mãe.

Mãe Nat: Oi filha tudo bem? – sorriu.

Eu: O Aideen está aqui.

Mãe Nat: O que? Como assim?

Eu: Ele está aqui com os amigos dele. Ele me viu e veio falar comigo perguntando se podemos conversar eu falei que não e sai de perto e voltei para o quarto perdi até a fome.

Mãe Nat: Vamos mudar você de hotel ok?

Eu: As meninas não querem mudar mãe, e não é justo com elas também. Eu só não quero que ele chegue perto de mim, ele nem deveria chegar perto de mim.

Mãe Pri: O que houve? – ouvi a voz da minha mãe.

Mãe Nat: O Aideen está lá e no mesmo hotel e tentou falar com ela.

Mãe Pri: Beatrice, ele não pode chegar perto de você ouviu? – falou nervosa. - Vou falar com o doutor Braverman agora vamos pedir uma medida contra ele. – eu já comecei a chorar. – Fica calma, vamos resolver.

Eu: Tá... – o Aideen desperta todos os gatilhos ruins em mim desde tudo aquilo que aconteceu. Tudo que eu vivi começou com ele ter espalhado aquele vídeo pelo colégio e eu fico sufocada só de lembrar. Eu sentei na poltrona na varanda do quarto e fiquei olhando para a praia. A noite estava linda eu estava feliz. Eu não queria que ele estivesse ali, a presença dele ali me incomodava muito. Era minha primeira viagem sozinha com as minhas amigas. Depois de uma hora a Hailey chegou.

Hailey: Oi...

Eu: Oi... – sequei a lágrima que caia.

Hailey: Precisa comer... Só comeu no avião, pedi seu jantar, logo vão trazer. As meninas vão subir logo.

Eu: Obrigada.

Hailey: Ele desperta gatilhos em você não é?

Eu: Sim. Por causa dele, eu fui... – eu não terminei a frase.

Hailey: Tudo bem, ele não vai chegar perto de você. – meu celular tocou, era minha mãe.

Eu: Oi mãe?

Mãe Pri: Já falamos com nosso advogado e ele entrou em contato com os pais dele. A essa altura já devem ter feito contato com ele avisando que entraremos com uma medida protetiva e ele não pode se aproximar de você.

Eu: Obrigada mãe – solucei.

Mãe Pri: Fica tranquila filha... Aproveita sua viagem com as suas amigas, não deixa isso estragar ok? Qualquer coisa liga pra mamãe.

Eu: Tá mãe te amo.

Mãe Pri: Te amo... – desligou.

Hailey: E ai?

Eu: Ela falou com o advogado e ele entrou em contato com os pais dele avisando que está pedindo uma medida protetiva e que ele não pode chegar perto de mim. – ela me abraçou.

Hailey: Vai ficar tudo bem. Agosto quando as aulas voltarem, ele não vai estar lá, você não vai precisar vê-lo. – logo meu jantar chegou eu comi, as meninas vieram, a gente ficou vendo filme até tarde. Eu ia aproveitar aquela viagem até o ultimo minuto, ele não ia estragar.

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