Capítulo 57

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BEATRICE NARRANDO...

Surreal... Era tudo muito surreal... Eu não acreditava no que eu estava vivendo. Dor, medo, nojo, raiva, tristeza, eu sentia tudo um pouco, principalmente o medo. O medo era arrasador. Eu entrava no banheiro do meu quarto e eu trancava a porta. Eu falava para mim mesma que não queria enlouquecer. Meu celular tocava o dia todo nesses dois dias. Eu tinha medo de ver minhas redes sociais e estar sendo atacada como a mãe dele fez comigo e minhas mães me tranquilizaram, eu estava recebendo muito amor. Eu li quase tudo que eu recebi, vi cada vídeo, fiquei horas vendo tudo e curti o máximo que pude de tudo. Eu queria gravar um vídeo mas eu não tinha condições pra isso. Numa manhã, eu estava no meu quarto resolvi tirar algumas roupas que não uso mais, precisava ocupar minha cabeça com alguma coisa quando minha mãe me chamou dizendo que uma menina estava subindo para falar comigo. O nome dela era Hailey Lancaster. Eu me lembrava desse nome no colégio, então me lembrei de imediato que ela era aluna do colégio e saiu de lá sem explicação nenhuma e ninguém tocava mais no nome dela nem mesmo as amigas dela e aos poucos as amigas dela também deixaram a Trinity e foram para o Saint Juliet que é uma escola só para meninas. Eu desci para falar com ela, não fazia ideia do que ela queria comigo. Ela usava o uniforme do colégio estava com a mochila dela, minha mãe Priscilla estava na sala com ela e quando ela me viu descendo as escadas ela se levantou rapidamente colocando a mochila no sofá e veio até mim e me abraçou. Eu retribui, mas eu não estava entendendo nada. Minhas mães olhavam aquilo também sem entender.

Hailey: Desculpa... Foi o impulso. – falou um pouco sem graça.

Eu: Tudo bem... Senta... – ela sentou e eu me sentei do lado dela.

Hailey: Como você está?

Eu: Não sei... – suspirei – Sinceramente eu não sei. É um misto de sentimentos. As vezes eu sinto um medo absurdo, outras vezes eu digo a mim mesma que preciso encarar o mundo de frente, e outras vezes quero me trancar no quarto e nunca mais sair. São muitas sensações ao mesmo tempo. Não sei ao certo...

Hailey: Como se fosse te sufocar, e você faz tudo para ocupar sua mente, mas quando fecha seus olhos a primeira imagem que você vê é o que aconteceu e é a pessoa. – eu arregalei os olhos.

Eu: Porque está dizendo isso?

Hailey: Beatrice eu vim aqui, porque eu sou uma vitima do Macalister. Ele também me estuprou, foi por isso que eu sai da Trinity. – eu prendi o ar e minhas mães arregalaram os olhos.

Mãe Pri: Hailey, você nunca contou a ninguém? – perguntou assustada.

Hailey: Minha mãe sabe. Meu pai morreu ano passado alguns meses antes disso tudo acontecer. – suspirou – Eu liguei pra ela me buscar e quando chegamos em casa eu contei tudo pra ela, fomos a um hospital e eu fiz um kit estupro e esse kit ficou guardado lá até ontem a noite. Eu vi tudo que aconteceu com você e minha mãe e eu conversamos e fizemos uma denuncia formal contra ele. E eu sei que depois da minha denuncia virão mais. Você não é a primeira vitima dele, e eu também não sou Beatrice. Eu sai do colégio dias depois, a diretora ficou sabendo, mas como você sabe, ela encobria muitas coisas e eu pedi pra minha mãe não fazer escândalo. Minha mãe não denunciou porque eu implorei, mas ela deu uma surra na mãe dele.

Mãe Pri: Libertador...

Eu: Mãe...

Mãe Pri: Desculpa minha filha, mas socar a mão naquela mulher é delicioso. Eu tive esse prazer também. Não vou negar que foi prazeroso. – levantou as mãos e eu rolei os olhos.

Hailey: Ela disse o mesmo dona Priscilla – sorriu de leve. – Ontem a noite fomos a delegacia, fizemos a denúncia e fomos com a policia ao hospital pegar o kit estupro e agora de manhã recebi a mensagem da minha mãe dizendo que a denuncia foi concretizada e formalizada. E eu já recebi 5 mensagens de garotas que passaram pelo mesmo e elas farão o mesmo. Foi horrível o que você viveu, a gente sabe disso, mas a sua coragem abriu as portas para nos livrarmos desse peso que carregamos a algum tempo Beatrice. E eu vim aqui pra dizer a você pra não se esconder. As pessoas estão ao seu lado, estão te apoiando, e isso não ficará impune. Não tenha medo como nós tivemos. – ela falou como aconteceu com ela, e as histórias que ela sabia que tinham acontecido, mas não tinha como provar e agora com tudo isso vindo a tona saberíamos. Ela logo foi embora, trocamos telefones para conversarmos mais. Minhas mães estavam chocadas. No dia seguinte já era noticia em todos os jornais, sites e rádios de Nova York. Macalister havia estuprado até então 7 garotas. Julie foi lá em casa disse que o Aideen estava louco para falar comigo e eu não quis falar com ele. Falei pra ela falar pra ele parar de incomodar as pessoas que eu não queria falar com ele eu não queria saber o que ele tinha pra dizer. Depois de quase 10 dias voltei para o colégio. Era assustador estar de volta. Minhas mães foram comigo, descemos do carro a diretora esperava na porta do colégio.

Sra Stevens: Bem vinda de volta Beatrice. – sorriu.

Eu: Obrigada Senhorita Stevens. – sorri de leve. Entramos no colégio todos já estavam nas suas salas, chegamos depois do sinal. Meu irmão correu pra sala dele e fomos para a minha sala. Quando abri a porta tinha um cartaz enorme escrito Bem vinda de volta Beatrice... Somos todos Bia... e tinha um bolo. Eu ri e chorei me assustando com os gritos. A Julie veio e me abraçou. Minhas mães agradeceram ficaram emocionadas e logo foram embora. Na hora do intervalo eu não queria sair da sala, ainda era difícil ir lá fora. Quando fui ao banheiro eu não usei aquele banheiro eu acho que nunca mais conseguiria entrar lá. Em casa no final do dia eu fiz um vídeo depois de tanto tempo sem gravar, falei sobre o que me aconteceu, falei como eu estava, pedi paciência aos meus seguidores, agradeci muito por todo carinho, chorei, sorri. Foi um vídeo de 35 minutos. Minha mãe me incentivou a voltar com o projeto do estúdio na salinha do terraço. Na tarde seguinte foi a audiência do caso do Aideen, e ele foi condenado a pagar uma indenização de 50 mil dólares pra mim e fazer serviços comunitários 4 vezes na semana catando lixo por alguns meses. Alguns dias eu ficava bem triste, chorava muito, não dormia direito. Outros eu estava bem e aproveitava para gravar vídeos, mas tem sido uma montanha russa de sentimentos. Minhas mães tem se desdobrado para estarem comigo, para me fazerem sentir bem o tempo todo e eu só agradecia a Deus por tê-las ao meu lado tão compreensivas, tão presentes. A terapia era o meu conforto maior nos dias de angustia e de muito choro. Alguns dias havia muito choro, muito medo. Eu só trabalhava minha mente para não surtar, não enlouquecer de vez. 

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