Capítulo 61

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PRISCILLA NARRANDO...

Esse mês foi uma loucura. O dia mais feliz foi sem dúvidas o dia das mães. Bia comprou presentes para nós. Foi ao shopping com o Ethan e a Nina comprar presentes, fez o café da manhã, foi um dia cheio de surpresas e eu pude passar o dia das mães com a minha mãe também já que o último não foi possível. Minha mãe foi embora nesse mesmo dia depois do almoço, ela ia jantar com meu irmão e minha cunhada ainda. Logo chegou o novo ciclo de quimioterapia da Natalie e desde o ocorrido com a nossa filha as coisas não tem sido muito fáceis para nós e isso tem afetado nosso casamento. A gente tem estado tão a flor da pele que tudo virou motivo de estresse de briga, de desentendimento e isso era horrível. Eu andava sem paciência, triste, com raiva. Bia alternava alegria e depressão e eu ficava muito triste em ver minha filha assim. A preocupação era gigantesca. Minha sogra quando soube do que aconteceu com a Bia quis vir para NY e Deus foi tão bom com a gente que ela não conseguiu folga do trabalho, porque ai sim nossas vidas virariam um verdadeiro inferno. Natalie não se sentiu bem e precisou ser internada após o ciclo da quimioterapia. Pedi a Vicky para passar a noite com as crianças pra mim, eu estava me virando em mil. Fui pela primeira vez no grupo de apoio do hospital. Eram duas horas de reunião. Tinham homens e mulheres ali, alguns eram maridos, esposas, pais, avós de pacientes. Eu era a única que estava indo pela primeira vez. Não pude deixar de chorar, eu evitava muito esse sentimento, porque eu tinha medo de deixar a dor me dominar. Quando acabou a reunião uma loira veio falar comigo.

XX: Oi...

Eu: Oi... – sorri de leve.

XX: Muito prazer Virginia... Virginia Milioreli.

Eu: Priscilla Pugliese.

XX: Sinto muito pela sua esposa. Ela vai ficar bem.

Eu: Obrigada. Sim, ela vai sair dessa. – sorri e me sentei e ela sentou na outra poltrona. – Não falou de você.

XX: Hoje eu fui só ouvinte, eu venho todos os dias nas últimas duas semanas – suspirou. – Meu marido Geromy está em estágio terminal do câncer.

Eu: Oh... Eu sinto muito.

XX: Obrigada. Geromy luta contra o câncer no cérebro a 10 anos. Mas infelizmente perdemos a batalha. Ele fez um procedimento hoje para dar a ele mais algumas semanas com a família, com os filhos. A deadline* dele é de 2 meses no máximo.

Eu: E como está com tudo isso?

XX: Eu estou conformada. Eu tenho 45 anos, sou jovem ainda, temos filhos e tenho que ser forte por eles. Enfrentamos uma longa batalha judicial com os filhos dele do primeiro casamento. Ele tem 3 filhos do primeiro casamento e 3 filhos comigo. Ele tem 58 anos e os filhos dele já são casados e entraram na justiça querendo os bens dele como se ele fosse deixar tudo pra mim – riu sem graça e triste. – E eu não quero nada pra mim. Meus filhos terão a parte deles, eu tenho meu trabalho, minha empresa, eu nunca precisei do dinheiro de Geromy pra viver, eu não me casei com ele por dinheiro. E a ironia é que enquanto os filhos brigavam pelo dinheiro pelos bens dele e ele ainda vivo lutando contra a doença, não fizeram uma única visita ao pai.

Eu: Que absurdo.

XX: É de uma falta de amor surreal. Nós dois já não somos mais um casal a 3 anos, mas a família não sabe. Somos casados legalmente, mas não somos mais um casal e isso não foi um drama para nós. Somos amigos, eu cuido dele com todo carinho e dedicação do mundo, ele me deu os meus maiores presentes que são nossos filhos, ele me ensinou muita coisa e fomos muito felizes e eu devo a ele um fim de vida digno que os filhos dele do primeiro casamento jamais dariam e não tem a menor intenção de dar.

Eu: Então é por isso que não sai do lado dele.

XX: É... Eu tenho uma gratidão por ele que não tem tamanho. E eu vou cuidar dele até o ultimo minuto. E ele vai partir no conforto da cama dele ao lado das pessoas que o amam. – sorriu triste. Aquela mulher demonstrava uma resiliência diante de um fato que doeria tanto quando acontecesse que eu não sei se eu teria - Mas me fale mais de você. Como seus filhos estão lidando com isso. Você tem 3 não é?

Eu: Sim, tenho 3... –sorri. – A Beatrice está num momento muito difícil da vida dela, ela tem 15 anos... – contei o que aconteceu a ela e ela ficou chocada – O Ethan fica triste, preocupado, faz muitas perguntas, mas acho que não faz muito sentido pra ele tudo que acontece, e a Nina é só um bebê de um 1 ano e 4 meses que não faz menor ideia do que está acontecendo a volta dela. – conversamos por muito tempo, ela foi ficar com o marido e eu fui ficar com a Natalie. Natalie tem me feito muitas perguntas e isso tem me deixado muito irritada. Tudo ela implica. No dia seguinte encontrei a Virginia, ela estava chateada a abracei e o batom dela acabou ficando marcado na minha roupa e o perfume dela também e é obvio que a Natalie reparou. Quando íamos embora as apresentei e a Natalie deu um show comigo no carro e em casa ela me mandou embora, me acusou de traição e aquilo me ofendeu muito. 

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Deadline* - É o termo usado por médicos nos EUA, para indicar que a vida da pessoa está chegando ao fim. 

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