Capítulo 77

616 55 5
                                    

Num dado momento do velório Ela se afastou um pouco e eu fui até ela com a Natalie. Ela estava sentada num banco bem longe de todo mundo. Levamos um café pra ela.

Eu: É café, está bem frio hoje. – nos sentamos.

Virginia: Obrigada. – sorriu de leve e tomou. – Eu precisava disso agora. Obrigada por terem vindo.

Nat: Imagina... Como está se sentindo?

Virginia: Vazia... Não éramos mais um casal, mas passamos 20 anos juntos. Fomos cumplices, aprendemos juntos. Um marido incrível, um pai sensacional, um amigo perfeito. A alguns dias ele falou assim "Vi você é linda, encontre uma pessoa que te ame como você merece ser amada, você não merece ficar sozinha. Você já deveria ter feito isso a três anos". – riu – Nosso casamento caiu na rotina, mas nossa amizade cresceu tanto que ele me incentivava a sair, ir ao salão, ir ao shopping comprar roupas, sair com as amigas. Agora tem um buraco dentro de mim que eu não sei o que fazer com ele. Eu estou aliviada, porque ele não está mais sofrendo, esses últimos dias foram muito difíceis pra ele e ele chorava muito, ele não estava mais aguentando. Mas o vazio... O vazio é terrível... – deixou cair uma lágrima. A gente não tinha o que dizer, só ficávamos ali ouvindo-a sendo um ombro amigo. Natalie parecia ter entendido finalmente que Virginia buscava em mim um apoio emocional assim como eu buscava nela também porque esse universo do câncer é novo pra mim e era doloroso pra ela. Ela parece ter entendido que nossos encontros eram isso, para conversar, hora para chorar, hora para rir, distrair, caminhar, viver fora daquela bolha de medo e doença que vivíamos. Após o enterro fomos para casa entramos na banheira juntas.

Nat: Foi difícil ver os filhos dela sofrendo tanto.

Eu: Sim. Eles já esperavam por isso, mas ninguém nunca vai estar pronto o suficiente para se despedir.

Nat: Não... Eu te amo tanto amor, tanto...

Eu: Eu também te amo, muito. Não vamos nos perder de novo tá? Não vamos nos deixar ser engolidas por desconfianças e medos. Começamos tudo isso com muita confiança e positividade não vamos estragar agora. – dei um beijo nela.

Nat: Não vamos... – alguns dias depois era a quimio dela, fomos para a sessão. Era a quinta sessão dela. Ela tinha feito exames e depois da sessão veríamos o resultado dos exames dela. Eu estava resolvendo algumas coisas do aniversário do Ethan pelo celular, confirmando o sabor do bolo, ele queria bolo de chocolate com recheio de brigadeiro e de leite ninho com morango. Então estava confirmando o sabor com a confeiteira. Em NY tinha uma confeitaria brasileira maravilhosa que fazia todas as nossas festas com um sabor bem brasileiro então sempre pedíamos lá.

Eu: Amor, já confirmei o bolo, e doces serão os bombons de morango, uva e coco, docinho de leite ninho, brigadeiro, e salgadinhos, coxinha, empada, pastel, cigarrete, quibe, mini pizza, cachorro quente.

Nat: A gente vai matar essas crianças – deu risada.

Eu: Eu acho que sim. Mas nosso filho parece brasileiro, quer tudo que tem direito e eu não nego porque eu estou com vontade. – rimos. Confirmei tudo, confirmei as sacolinhas surpresa. A moça da decoração mandou as fotos das cabaninhas e das lembranças, pediu as numerações dos pijamas e chinelos das crianças. Liguei para as mães confirmando e mandei a lista pra ela, Ethan escolheu 10 amiguinhos mais íntimos que dormiriam lá em casa e a festa mais cedo seriam com 30 crianças entre os do colégio e do beisebol que eram praticamente os mesmos, e do prédio. De adulto estará Vicky, minha mãe, meu irmão, a Keila mãe da Hailey, Nicole mãe da Jade, Virginia, e mais três vizinhas. Confirmei com recreadores também, a festa seria no terraço tinha muito espaço e não estava fazendo frio. Larguei o celular e fui dar atenção a Natalie. – Hei o que foi? – ela chorava.

Nat: Dor...

Eu: Onde dói?

Nat: Meu estomago. Está queimando. Quero vomitar, minha boca está seca ao mesmo tempo.

Eu: Liliana... – chamei a enfermeira.

Liliana: Oi... O que está sentindo?

Eu: Ela está com dor no estomago, disse que quer vomitar que a boca está seca também.

Liliana:Vou te dar uma medicação e trazer água e gelo pra você. Se tiver algo noestomago e quiser vomitar, vomita agora. –não demorou mais que dois minutos. Foi o tempo suficiente para pegar umrecipiente pra ela vomitar. Ela vomitou todo o café da manhã dela, até não sairmais nada. Dei água pra ela lavar a boca e logo a Liliana voltou com umamedicação para o estomago e com água gelada, gelo e picolé pra ela. Ela ficoumais aliviada assim. 

NOSSOS DESAFIOSOnde histórias criam vida. Descubra agora