Capítulo 29

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NATALIE NARRANDO...

Segunda feira chegou. Eu estava ansiosa e com medo, mas também esperançosa. Chegamos no consultório do doutor Max e aquela sala de espera parecia mais fria que a neve que caia em Nova York naquele manhã. Priscilla estava fazendo algumas coisas pelo ipad e mandando algumas mensagens. Eu a olhava as vezes, e via o quanto ela estava preocupada e vinha trabalhando esses dias. Meus pais tem ajudado muito, mas logo vão embora o que vai trazer paz e mais privacidade para nós, mas que vai nos sobrecarregar bastante e principalmente a Priscilla que está se virando em mil para dar conta de tudo. Ela tem dormido tão exausta que as vezes me pego a observando e agradecendo pela esposa que ela é, pela mãe e companheira que ela é e me sinto um pouco mal por estar dando tanto trabalho e sinto também que não a mereço. Fico pensando quando nos conhecemos, nem imaginávamos que um dia passaríamos por algo assim. Logo me chamaram, e nós entramos.

Max: Como passou esses dias?

Eu: Bem. Entediada por não poder nem lavar meu próprio cabelo, mas passei bem.

Max: Sentiu dores?

Eu: Um pouco. Sentia mais pela manhã.

Max: Vamos tirar os pontos então e depois vamos falar dos exames. – eu tirei a minha blusa coloquei o roupão e ele tirou os pontos com o auxílio da enfermeira dele – Está bem cicatrizado viu. Você tem boa cicatrização. – Ele apalpou meus seios para ver se não sentia nada – Pode se vestir. – eu me vesti e me sentei ao lado da Priscilla.

Pri: E então? A biopsia dos tumores. – ele suspirou.

Max: Natalie, seu tumor é maligno infelizmente. – eu prendi o ar. – Você possui o que chamamos de carcinoma ductal invasivo com características atípicas. – me explicou como era e eu escutava e via tudo em slow motion. Parecia um pesadelo... Aliás, era um pesadelo. Ele falava sobre vasos linfáticos obstruídos causados pelas células cancerígenas. Disse que tinha um ponto positivo, que esse câncer era descoberto em estágio avançado o que o tornava agressivo e com chances de reincidência, mas eu descobri com ele em estágio 2 por conta da amamentação e a cirurgia para retirada dos tumores foi a melhor opção para iniciar. O tratamento seria quimioterapia inicialmente e que se não fizesse o efeito inicial, partiríamos para a radioterapia.

Pri: Amor?

Eu: Quanto tempo de tratamento?

Max: 6 meses mais ou menos, com ciclos de quimioterapia a cada 21 ou 28 dias.

Eu: Quanto tempo dura cada sessão?

Max: De 2 a 5 horas.

Eu: Quando meus cabelos começarão a cair? – engoli seco.

Max: Provavelmente a partir da terceira sessão, mais tardar na quarta terá perda significativa de cabelo, mas poderá começar a cair um pouco já a partir do primeiro ciclo, mas não é uma regra. Nem todo mundo perde cabelo, não depende da cor da quimioterapia como alguns dizem por ai. Depois de dois meses do fim do tratamento seu cabelo voltará a crescer se houver a perda.

Eu: O que mais vai acontecer com meu corpo?

Max: Bem... Suas unhas podem ficar mais fracas, pode haver descamação nas solas dos pés e nas mãos porque a quimioterapia afeta o epitélio, alterações cutâneas, a pele fica bem sensível, então precisa evitar o sol entre as 10 e as 16 horas e a neve também, o intenso frio pode queimar sua pele. Use bastante protetor solar, use chapéu, óculos escuros quando sair durante o dia e tiver sol vai ajudar a manter sua pele que estará sensível, suas veias ficarão mais escuras quando receber a quimio, porque acontece uma irritação da camada interna dos vasos. Após as sessões você pode ficar enjoada, até mesmo durante as sessões pode acontecer. Sentir fraqueza, cansaço, dores de cabeça, dores musculares. Isso pode acontecer de imediato ou pode começar no dia seguinte, ou alguns dias depois. Depende de cada pessoa, assim como a duração desses efeitos. Você pode optar por fazer crioterapia durante as sessões. É uma touca de resfriamento gradual para o couro cabeludo usado antes e depois da sessão por pelo menos 30 minutos. Ela diminui a temperatura e reduz o fluxo sanguíneo do local e evita que o quimioterápico chegue nas células do couro cabeludo evitando a queda total dos cabelos.

Eu: E quando vamos começar?

Max: Na quinta feira no Mount Sinai as 9 da manhã. Primeiro andar. Quem vai te receber é a doutora Angeline Bayer. Ela é responsável pelo centro de quimioterapia do hospital. – digitou algumas coisas e imprimiu inúmeras folhas pra mim e colocou num envelope. – Quer perguntar alguma coisa?

Eu: Não...

Pri: Você vai continuar acompanhando o caso dela?

Max: Sim. Faremos exames frequentes, eu estarei lá na primeira quimio, vou passar as medicações orais no dia da quimio também. A Angeline vai estar sempre em contato comigo e qualquer duvida só me ligar também, a qualquer hora.

Eu: Obrigada, por tudo. – eu estava gelada, estava no automático. Saímos da sala dele, tudo ainda estava em câmera lenta pra mim. Eu não ouvia direito o que a Priscilla falava comigo, eu só andava. Quando me dei conta já estávamos no estacionamento.

Pri: Amor... Natalie?

Eu: Hum?

Pri: Entra no carro.

Eu: Tá... – entrei no carro e fomos pra casa. Priscilla não dizia nada, eu não dizia nada. O elevador levou uma eternidade para chegar até nosso apartamento. Eu entrei em casa meus pais não estavam.

Pri: Meus sogros estão em casa Leila?

Leila: Não. Foram ao shopping, levaram a Nina e a Nancy.

Pri: Ok.

Leila: Querem comer alguma coisa? O almoço vai demorar um pouquinho.

Pri: Eu estou bem obrigada. Amor quer comer alguma coisa?

Eu: Quero água, minha boca está seca. – abriu a geladeira e pegou uma garrafa de água e me deu. – Eu vou subir. – fui para o meu quarto tirei toda aquela roupa pesada, bebi a água toda e me deitei no chão começando a chorar. – Não pode ser. Não pode. – soluçava. Eu chorava copiosamente. Eu pensava em tudo e em nada ao mesmo tempo. Eu estava numa energia caótica que eu não conseguia sair. – Por favor Deus não pode ser verdade. Eu tenho três filhos que precisam de mim. – soluçava. A porta se abriu, era a Priscilla. Ela tirou toda aquela roupa dela e deitou do meu lado pegando a minha mão.

Pri: Estamos juntas nessa, e vamos passar por isso – falou com a voz embargada. – Eu te amo ouviu? Eu te amo mais que tudo. Você e os nossos filhos são as pessoas mais importantes da minha vida... – eu soluçava e ela pegou no meu rosto – Olha pra mim Smith... – virou meu rosto pra ela deixando as lágrimas caírem também. – Você não está sozinha, você é uma mulher incrível e muito forte. Vai passar por isso como uma guerreira que eu sei que você é.

Eu: Eu estou com medo amor... – soluçava e ela me abraçou. – Eu estou morrendo de medo...

Pri: Eu sei que está, mas isso não vai te dominar ok? E você não vai reprimir seus sentimentos. Você vai me contar qualquer coisa que esteja sentindo... Promete?

Eu: Prometo... – a beijei – Te amo, obrigada por não desistir de mim e nem me deixar sozinha.

Pri: Não vou desistir de você nunca.

Eu: Você vai me ver vomitar...

Pri: Não vai ser a primeira vez. – riu e eu ri. – Vamos sair desse chão? Está frio. – me levantou e me abraçou. – Quer comer alguma coisa? O almoço vai demorar um pouco.

Eu: Não, eu estou sem fome, só vou deitar um pouco, estou com dor de cabeça.

Pri:Vou pegar um analgésico pra você. –ela foi pegar o remédio eu tomei e deitei. Eu acabei dormindo. 

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É... Nada de bom no paraíso... :(

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