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ana luísa

empurrei a porta de casa e pude ver minha mãe sentada no sofá olhando pro nada, mas assim que me viu levantou, fechei a porta atrás de mim e fui até ela sedenta por um abraço, felizmente meu desejo foi saciado.

— como o garoto está filha? cadu o nome
dele né? - perguntou assim que me afastei do seu abraço.

— é cadu. ele está bem na medida do possível, deve estar nervoso e chateado, mas uma hora esse sentimento vai se amenizar. - falei olhando pra ela mas logo desviei passando meus olhos ao redor tentando achar a pequena. — cadê danú?

— tá no quarto. ela ficou sabendo do que aconteceu com o garoto, tá bem triste..sabe como ela é né. - disse e eu olhei sem entender.

— como ela soube?

— televisão. passou na globo e record. - levantei as duas sobrancelhas absorvendo o que ela tinha acabado de me dizer.

— meu deus..- respirei fundo. — tá bom. vou lá ficar com ela.

— vai minha filha, vou dar uma passadinha na rua porque tenho que resolver algumas coisas. volto quase a noite. - disse se aproximando de mim selando um beijo na minha bochecha.

— até mais tarde! - me afastei caminhando até o quarto de danúbia e quando cheguei ela estava sentadinha no chão brincando com seu casal de bonecos. — princesa?

— oi lulu, entra. - disse baixinho e eu entrei sentando ao seu lado olhando ela.

— como você está?

— triste. não gostei que bateram no menininho, isso não é certo. eu vi você lá. - falou ainda baixo e eu a peguei no colo fazendo carinho nos seus cabelos.

— é muito triste mesmo, mas agora ele está bem, tá bom? eu falei com ele. - tentei tranquilar a pequena.

— porque fizeram aquilo com ele?

— tem pessoas que não gostam da gente por conta da nossa cor, por sermos quem somos. entende? - ela concordou com a cabeça me olhando com aqueles olhos grandes que brilhavam enquanto eu falava. — mas ainda sim somos lindos, inteligentes, graciosos e não podemos nunca! nunquinha mesmo deixar alguém nos diminuir por conta da nossa história, cor e traços. ouviu?

— ouvi! - deu um sorrisinho.

— se preocupa com isso não, pelo menos não agora! vamos focar em fazer suas atividades, não é mocinha? e depois brincar. - fiz cócegas em sua barriguinha e após ela gargalhar, enchi seu rostinho de beijos.

— me ajuda a fazer o trabalhinho da escola? - perguntou ela.

— claro boneca, pega lá sua mochila. - ela me olhou estranho tombando sua cabeça e repentinamente pulou me dando um abraço apertado, sem reação por ser algo inesperado, retribuí.

— eu te amo muito, luluca. - falou devagar e meu coração apertou com tanta fofura.

— amo você muito muito mais! - sorri e ela se afastou rindo e correu para pegar sua mochila enquanto eu sentada no chão ainda processava o que tinha acabado de acontecer.

danúbia sempre foi uma criança muito amorosa e carinhosa, mas eu não estava esperando por isso. e ouvir de uma criança que você se dedica todos os dias falar que te ama por livre e espontânea vontade é muito gratificante e especial, me faz pensar que vale a pena todo esforço. ela com certeza é meu bem mais precioso.

carlos eduardo

estava sentado no sofá olhando pro nada enquanto elas me enchiam de perguntas e aquilo querendo ou não me estressava, sabia que era preocupação mas ainda sim me estressava. tenho culpa? não. passei a mão no rosto respirando fundo e terminei de beber o copo de água.

— eu entendo a preocupação de vocês mas estamos falando do mesmo assunto por quase duas horas, chega por favor! eu já expliquei, quem me ajudou foi a menina da doceria e a taís araújo, sim!!! a da televisão.  já tomei remédio e ela já fez meus curativos, EU NÃO VOU DAR QUEIXA. - falei bravo e elas respiraram fundo.

— desculpa..- após minha irmã dizer aquilo a culpa bateu forte em mim por ter gritado.

— não, desculpa eu.. tô estressado mas não significa que é pra descontar em vocês. me perdoa.

— tá tudo bem, cunhado. fomos bem invasivas não é, amor? - falou tatiele.

— sim, nós que pedimos desculpas. - elas vieram até mim e eu levantei também as abraçando forte. — te amamos, feio.

— também amo vocês, ridículas. - brinquei me afastando do abraço.

— ó, agradece a menina tá? é ana o nome dela? - perguntou tatiele.

— analu. - disse o apelido.

— isso, agradece a analu e a tais por que se não fosse por elas..- disse jéssica, minha irmã.

— agora até eu quero conhecer a analu, só ouvi coisas boas dela até agora. - falou tatiele e eu ri fraco

— amor, você tem que conhecer ela! a menina é um amor.

cocei a cabeça olhando pros lado e respirei fundo.

— vou deitar, ok? tô cansado e o remédio tá me dando sono.

— ok, vai lá! descansa. - disse minha irmã e após eu dar um beijo na testa de cada uma fui até meu quarto.

tranquei a porta e abri a gaveta ao lado da cama pegando meu cigarro de maconha. botei no bico e após abrir a janela me sentei fumando enquanto pensava na vida.

tá tudo muito difícil. 


sempre esteve na verdade, mas parece que as coisas estão piorando. meus avós se mudaram pra bahia, e quem era bem próximo de mim sabe o quão importante eles são na minha vida. tem os estudos que sinceramente, não são fáceis. tem o meu trabalho que é cansativo pra caralho. e amigos que ultimamente só me dão dor de cabeça.

minha válvula de escape é minha irmã, minha cunhada, livros, praia, maconha e música. saudável? talvez. mas o final vai ser o mesmo, então não faz diferença.

depois de tomar um banho gelado para esfriar a cabeça e tentar matar esse abafamento que estava no rio de janeiro, me joguei na cama de cueca mesmo e praticamente desmaiei.

:)

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oii, tão gostando?

intimidade.Onde histórias criam vida. Descubra agora