carlos eduardo
tinha acabado de sair do trabalho e estava parado fumando enquanto pensava, cinco anos se passaram e as coisas só tem piorado desde que descobrimos a infertilidade da ana luísa, parece que fui jogado para longe dela e isso dói, dói mais ainda por saber que ainda estamos ligados mesmo que seja só um pouquinho, ainda existe amor, mas só isso não basta. tenho medo disso.
nesse momento eu estava enrolando para ir na casa da minha irmã ver minha sobrinha, hoje ela completa seus 5 meses de vida e a família toda estava lá, inclusive analu. a idéia de não saber qual versão dela vou encontrar é perturbadora, odeio pisar em ovos com a mulher que eu amo. eu posso chegar lá e ela cagar pra minha presença, posso chegar lá e ela chorar, como já aconteceu e posso chegar lá e ela simplesmente não desgrudar de mim. hoje o que eu mais quero é a última opção, sinto tanta saudade do toque dela.
— encara, cadu. porra! - falei comigo mesmo e liguei o carro e fui em direção a casa da jéssica e tatiele.
cheguei em menos de vinte minutos, felizmente não tinha trânsito. quando cheguei sorri vendo eloá, minha sobrinha com um laço maior que sua cabeça. peguei ele no colo e deixei um cheirinho em seu pescoço enquanto ouvia a neném rir.
— neném do dindo! - falei rindo e em seguida abracei minha irmã. — comprei frauda de presente.
— obrigada, irmão. - recebi um beijo na bochecha e tati pegou a sacola da minha mão.
— que deus te pague, cunhado. - falou brincando comigo e eu entreguei a neném pra mamãe dela e fui terminar de falar com o resto da família.
— cadê meu chocolate?! - danúbia perguntou colocando a mão na cintura e eu ri. minha mocinha, já estava gigante e eu nem tinha aceitado esse fato ainda.
— tá lá em casa, esqueci. - menti.
— desculpa pra ir na sua casa jogar videogame né? - ela me perguntou e eu ri concordando. — pede pra mamãe que eu vou.
— vou pedir! - me despedi dela com um beijo na testa e depois de falar com um a um fui até dona lúcia e ana luísa que conversavam mais afastadas.
— esse eu trouxe pra você de uma viagem que eu fiz pro pará, a curandeira disse que é tiro e queda, pode tomar! - dona lúcia falou e eu já até sabia do que se tratava. a cada viagem que ela faz traz um remédio pra ana luísa conseguir engravidar, analu não acreditava em nada daquilo mas tomava só por consideração a dona lúcia.
— tá bom, vou tomar e te mando o teste se der certo. - ela falou rindo.
montei um pratinho com os salgadinhos favoritos dela e docinhos, depois de pegar um copo de suco me aproximei.
— já comeu? - perguntei entregando o pratinho pra ela que sorriu fraco e esticou o corpo para um beijo, sem nem pensar duas vezes me aproximei selando nossos lábios formando um selinho demorado.
— vou comer de novo só porque você trouxe. - ela falou e começou a comer.
— você tá bem, cadu? tá com o semblante cansado. - dona lúcia me perguntou e eu concordei com a cabeça.
— eu tô ótimo, só trabalhando muito..- me expliquei e ela concordou com a cabeça.
— tem que parar um pouco né, meu filho. - ela falou e taís olhou negando com a cabeça.
— olha quem fala! - disse e dona lúcia virou a cara me fazendo rir.
— só vou parar um pouco quando a senhora também parar. - falei rindo e ana luísa me fazia carinho enquanto comia, eu fiquei parado só aproveitando o toque.
— então se prepara para trabalhar pra sempre, amor. - minha esposa falou.
— ih, dona lúcia está certa. - minha avó falou e dona lúcia concordou.
— enquanto tiver saúde tem que trabalhar mesmo! - rodrigo falou e ficamos rindo e concordando.
estávamos todos juntos como sempre, nos víamos quase o mês inteiro. meus avós tinham até uma casa aqui no condomínio, minha avó quis passar uma temporada aqui por conta do nascimento da eloá. meu avô adorou, todo dia vai pra praia, bares, museus e clube de livros. o velho está vivendo!
— eu vou lá fora, já volto. - ana luísa me falou enquanto colocava o celular no ouvido, pelo visto era alguém ligando pra ela.ela foi e eu fiquei com o resto da família, principalmente com danúbia e eloá. eloá amava a danúbia, só o fato da danú existir isso já era motivo pra eloá gargalhar e isso fazia meu coração transbordar de felicidade. 15 minutos se passaram e eu senti falta da minha esposa, então entreguei a neném pra minha sogra.
— segura um pouquinho pra danú continuar brincando com ela. - pedi e taís colocou a taça de vinho em cima da bancada e pegou a neném.
— claro que eu seguro! - falou dando um cheirinho. — olha filha, ela rindo. - taís falou e danú ficou toda boba.
me afastei deles e fui até a sacada vendo a analu encostada na grade olhando o mar. me aproximei dela e toquei em suas costas com cautela, na intenção de fazer um carinho mas ela se afastou. voltamos a estaca 0.
— me desculpa por ontem. - falei e ela me olhou nos olhos e concordou com a cabeça sem me dizer nada. — eu estou falando sério, analu.
de uns anos pra cá tenho tido muita dificuldade para lê-la e isso me entristece. nunca sei o que ela está pensando ou sentindo e isso me causa ansiedade, e as vezes parece que ela nem se importa.
— eu que te peço desculpas, está tudo bem. - ela falou e tocou no meu ombro fazendo carinho. senti vontade de chorar.
eu nem reconheço mais a minha esposa, a época que ela exalava alegria se foi e é tenebroso passar por isso. é como viver um luto mas ela ainda está aqui.
— eu te amo, tá bom? - ela me disse e soou como um aviso e eu concordei com a cabeça.
— eu também. - apenas respondi isso e ela entrou pra sala onde estava o resto da família.
quando me vi sozinho chorei, me sentia incapaz, insuficiente e vazio. até quando isso? eu estava me cansando de fato.
:)
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dois capítulos direto, que milagre.