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ana luísa

sentada na bancada eu olhava cadu fazer nosso almoço enquanto tocava uma música do daniel caesar bem baixinho. eu gostava de estar em paz com ele, odiava brigar. já tinham se passado sete dias desde o meu aborto, tenho evitado mostrar que esse assusto ainda me dói muito na frente do cadu, não quero trazer mais peso pra esse casamento.

— vou arrumar a mesa. - avisei e ele concordou com a cabeça sem nem me dar atenção.

comecei a arrumar tudo direitinho, até coloquei uma florzinha no centro da mesa. ultimamente tenho sonhado muito com crianças e isso tem me atormentado, mas creio que seja porque está tudo bem recente. meu celular vibrou e quando vi era mensagens no grupo da família, dona lúcia convidava todos nós para sua loja comemorar seu aniversário lá.

— viu no seu celular? dona lúcia chamou todos nós para comemorar o aniversário dela lá na loja, vamos né? - perguntei e ele concordou.

— claro, amor. que horas? - perguntou desligando o fogo.

— 18h. - disse e fui até ele deixando um beijo em sua bochecha.

— vamos então. - ele concordou e arrumou nosso prato com lasanha.

em minutos estávamos sentadinhos almoçando enquanto trocava carinho e olhares, acendendo a chama do início do relacionamento.

— eu te amo, tá bom? não duvido nunca do seu amor. nunca vamos terminar. - ele disse rindo. — podemos ter nojo um da cara do outro, mas permaneceremos juntos até a nossa morte, ok? - ele perguntou e eu concordei.

— ok! acho justo. - falei rindo e ele sorriu.

conversamos mais um pouco e pedimos desculpas pelas coisas horríveis que falamos um ao outro, agora estava tudo bem e eu estava feliz. depois do almoço tomamos banho juntinhos, trocamos carinhos e depois dormimos fofinhos, eu sendo a conchinha menor e ele com a mão no meu peito.

(...)

me olhava no espelho terminando de fazer meu baby hair, pronta para ir a festa da dona lúcia. eu estava bonita e simples, vestia um short jeans claro, um cropped branco de manga e nos pés um chinelo da farm. meu marido estava vestido simples igual a mim, short da nike preto, uma blusa branca lisa e uma kenner. lindo, eu só queria agarrar ele.

saímos de casa de mãos dadas e resolvemos ir apé mesmo, ir pela orla da praia e aproveitar uma vista.

— vamos na praia de noite? - ele me perguntou me olhando.

— vamos! hoje? amanhã? semana que vem? mês que vem? - fui fazendo perguntas e ele riu.

— deixa de ser ansiosa, euem. - reclamou e eu dei um beijinho no ombros dele e atravessamos a rua chegando finalmente na loja da dona lúcia.

chegando lá estava toda a família, menos yara, bernardo e danúbia, se eu não me engano eles ficaram em casa jogando vídeo game. minhas crianças estão crescendo. falei com cada um dando um abraço e um beijo na bochecha, matando um pouco da saudade.

— olha, tá bonita! - seu rodrigo falou me dando um abraço de lado e eu ri.

— ih, vai começar a falar mentira logo cedo, seu rodrigo? - tatiele implicou e eu dei lingua pra ela, logo indo falar com a aniversariante mais linda.

dona lúcia tinha um sorrisinho no rosto, toda bonitinha. quando me viu fez questão de largar as coisas só para me dar um abraço apertado, quando aconteceu aquela situação comigo ela não conseguiu ir pois estava fazendo quimioterapia, mas não deixou de me ligar.

— tá animada, hein. - cadu falou rindo.

— meu filho, eu tô.. tenho que aproveitar a vida que deus me deu, não é? - disse e a gente concordou.

— é verdade, tá mais que certa. - sorri e deixei um beijinho na bochecha dela, logo pegando um brownie e comendo. — que delícia! come amor..

peguei mais um levando até a boca de cadu e ele comeu, fazendo a mesma expressão de prazer que eu.

— adoro ver vocês dois assim. - dona lúcia falou rindo. — deixa eu ir lá.

a festa foi tranquila, dona lúcia riu muito, se emocionou..eu estava feliz por ela. ela merecia. até que ela e minha mãe sumiram, não entendi nada.

— sogra, você viu minha mãe e a dona lúcia? - perguntei tocando no ombro dela e cadu me olhou enquanto conversava com sua irmã e cunhada.

— filha, elas estão lá fora..parece que a filha da dona lúcia está aí. - ela disse e eu na mesma hora fui até o lado de fora.

quando cheguei lá, mariana filha da dona lúcia andava de um lado pro outro agitada enquanto dona lúcia chorava mandando ela parar, minha mãe tentava apaziguar as coisas e no meio tinha um menininho chorando em silêncio e assustado.

— faz o seu papel de vó, fica com esse menino pelo amor de deus, eu vou buscar ele depois. - mariana falou coçando o nariz. — eu não tenho condições agora, é pelo bem dele.

— mariana, você não vai vir buscar esse menino. eu te conheço! - dona lúcia exclamou chorando. — pelo amor de deus, vamos pra clínica.

— calma, dona lúcia.. mari, vamos no hospital. você precisa de ajuda. - minha mãe tentou se aproximar mas mariana gritou no rosto dela mandando se afastar.

— fica com ele, pega ele..as coisas estão aqui. - mariana disse e jogou a mochila no chão, minha mãe me olhou suplicando e eu me aproximei do menininho.

— oi, carinha. eu sou a analu, vem comigo comer bolo? - falei baixinho me aproximando dele e ele tinha o semblante assustado. — vamos comigo, vem.

peguei a mochila dele colocando nas costas e peguei ele em meu colo entrando na loja, quando me viram se assustaram mas eu fui em passos rápidos até a cozinha para não dar tempo deles me encherem de perguntas.

— qual é o seu nome? - ele ficou me olhando curioso sem dizer nada. — pode confiar em mim..

ficamos em silêncio por um tempo, cadu chegou e ficou olhando sem entender também. entreguei um pedaço de bolo pra ele e um copo de suco, ele comeu rápido como se estivesse com muita fome. quando terminou me entregou o prato e me chamou com o dedo.

— meu nome é ravi. - falou embolado e com a voz rouca, me fazendo sorrir fraco e cadu também.

(:

intimidade.Onde histórias criam vida. Descubra agora