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ana luísa

via danúbia brincando com cadu e aquilo me fazia rir involuntariamente, era muito fofo e engraçado a forma que os dois se comunicavam. de vinte e poucos anos ele voltou para sete. faltava vinte minutos para os clientes da degustação chegarem e eu já tinha arrumado tudo pra sobrar tempo para conversar.

— analu, olha o que o cadu fez pra mim. - me estendeu um lacinho muito bonito.

— ele fez? que legal! - sorri e olhei para cadu que mantinha um sorrisinho no rosto.

danú voltou a conversar com ele e eu fui até dona lúcia que estava mais afastada anotando algumas receitas, me sentei ao seu lado e olhei para ela.

— vou querer entender melhor isso que você falou para ele, ouviu dona lúcia? - brinquei e ela riu.

— depois conversamos, menina. - concordei com a cabeça e quando olhei para frente vi cadu se levantando e vindo até mim.

— vou embora. - disse e eu me levantei ficando frente a frente com ele. — te vejo de novo?

— talvez. cadê seu celular? - perguntei e ele me estendeu seu celular desbloqueado e eu anotei meu número e Instagram. — vai com  cuidado, ok?

ele deu um sorrisinho e me puxou para um abraço apertado e após se afastar foi até dona lúcia abraçando ela também. foi até danúbia e a pegou no colo jogando pro alto, a pequena gargalhou e o abraçou forte pelo pescoço.

— adorei te conhecer. - disse a pretinha. — a minha irmã me disse uma coisa e eu quero falar pra você também.

— fala. - falou cadu olhando pra ela prestando atenção.

— você é lindo. não deixa ninguém te magoar por causa da sua cor que é pretinha. tá bom? - dito aquilo meu coração ficou pequenininho.

— tá bom, danú. digo o mesmo pra você! você é linda e graciosa, amei te conhecer e pretendo brincar com você mais vezes. - disse ele a ela e a mesma deu um sorrisinho sapeca sendo colocada no chão.

carlos eduardo olhando para eu e dona lúcia respirou fundo sorrindo e após dar tchau mais uma vez foi embora, em seguida os clientes da degustação chegaram.

— boa tarde! - disse simpática e comecei a trabalhar enquanto danúbia brincava com dona lúcia.

(...)

sim mamãe, foi o amigo que deu. - danúbia falava enquanto mostrava o lacinho para taís.

— carlos foi lá na doceria. me deu esse colar, brincou com a danú e deu esse lacinho para ela. - expliquei para minha mãe e assim que terminei de falar ela sorriu.

— que educação..- concordei. — vamos tomar banho? tá ó..- fez sinal. — fedendo.

danú riu e saiu correndo indo até o banheiro, minha mãe levantou e me olhou e eu senti que tinha algo de errado.

— quero conversar com você depois, podemos? - perguntou e eu concordei com a cabeça.

— claro, vou estar no meu quarto. - disse apenas isso e saí da sala indo pro meu quarto tomar banho.

senti que tinha algo de errado mas nada se passava pela minha cabeça, nada! então fui tentar relaxar. tomei um banho fresco por um tempinho e quando terminei vesti um macacão preto e fui até a penteadeira para arrumar meu cabelo já que eu tinha aproveitado para lavar ele. finalizei enquanto cantava "in love with another man" pensando em diversas coisas. quando olhei para porta vi minha mãe parada no batente me olhando, parei de cantar na mesma hora.

— amo quando você canta essa música, fica tão bem para sua voz. - apenas sorri em agradecimento e ela sentou na cama batendo sinalizando que para sentar com ela e assim eu fiz, me sentei em sua frente.

— o que tem para me dizer? - perguntei de uma vez.

— sua mãe ligou, analu. - disse e eu paralisei digerindo o que eu tinha acabado de ouvir. não podia ser. por que logo agora?

— não é mais proibido usar celular na clínica de reabilitação? - perguntei irônica e minha mãe negou com a cabeça.

— analu, não fala assim..- tentou me segurar mas eu me esquivei.

— o que ela quer? - cruzei os braços

— conversar com você, parece que ela tá mal de saúde.

queria o que também? encheu o cu de droga quase a vida toda e agora está colhendo. guardei meus pensamentos pra mim e olhei para minha mãe.

— não tenho nada para conversar. - exclamei

— mas ela tem. - disse e eu dei de ombros.

— sinto muito por isso então. - ela respirou fundo e veio até mim dando um beijo em minha testa.

— pensa bem, isso pode te trazer paz e tirar suas dúvidas. - disse e se levantou da cama deixando um papelzinho na bancada. — o endereço.

saiu me deixando só no quarto e quando me vi sozinha, soltei a respiração que eu nem tinha percebido prender e chorei sentindo um misto de sentimentos.

raiva
tristeza
dor
dúvida
e insegurança.

essa mulher infelizmente ainda tem muito poder sobre mim e aquilo me fazia sentir incapaz e vulnerável. sempre me senti ansiosa para fazer meus 18 anos por que só assim iria me sentir 100% livre da minha mãe, mas ela voltou depois de muitos anos e eu me sinto a mesma criancinha de antes e eu a odeio muito por isso! gritei abafado contra o meu travesseiro querendo tirar aquele sentimento de dentro de mim mas falhei, então me levantei apagando a luz e me escondi debaixo das cobertas após ligar o ar condicionado.

depois de chorar por 5, 10, 15 minutos ou talvez até 1 hora, adormeci sentindo uma forte dor de cabeça.

(:

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