carlos eduardo
pós plantão, bruna tinha me chamado para tomar uma água de coco. eu estava querendo me distrair, se pensasse em mais problema iria explodir, então aceitei.
foi um erro.
ela era engraçada, legal e divertida mas nem um pouco parecido com a ana luísa, acho que foi um delírio de carência. eu estava louco para ir embora, louco! mas também não queria sair daqui, por que seria pior.
— quer ir para outro lugar? - ela me perguntou tocando na minha mão, justamente na qual tinha uma aliança.
eu sabia que ela tinha interesse mas não sabia que se chegaria nesse nível, então me retraí.
— quero ir pra casa. - falei e pude ver um sorrisinho brotar em seu rosto. — minha esposa tá me esperando.
dito isso me levantei e peguei minha carteira pegando os dez reais das águas de coco.
— nos vemos no próximo plantão. - falei e saí indo em direção ao meu carro.
assim que entrei dei partida pra minha casa, tinha três dias que eu não ia lá, estava com saudades.
nesses três dias fiquei no meu apartamento antigo, precisava de um tempinho para digerir aquela discussão, não foi fácil. as coisas que analu disse me machucaram bastante, não sabia que ela tinha essa visão de mim. o fato de ainda não ter filhos com ela me entristece, mas não por que é o meu maior sonho e sim por que é o sonho dela, queria vê-la feliz, queria vê-la como antes.
estacionei o carro na garagem e estranhei, quase não tinha luzes acesas. em passos longos e ansiosos entrei em casa logo, estranhei mais uma vez quando vi uma mochila e uma mala no meio da sala, minha mente lutava para pensar no pior mas meu otimismo impedia.
— qual é o nome dela? - a voz da ana luísa ecoou me fazendo assustar, olhei para trás e lá estava ela. seu cabelo estava preso em um coque bagunçado, seu rosto um tanto avermelhado e molhado. ela tinha chorado.
fiquei a encarando sem entender nada, o que está acontecendo?
— me responde, carlos. qual é o nome da mulher que você estava? - ela perguntou com a voz falhando.
— bruna. - falei simples, sem entender ainda. ana luísa começou a chorar e eu entendi o que estava rolando, e era inacreditável. — você não está pensando que eu te traí né?
— você quer que eu pense o que? - ela gritou comigo. — poxa cadu, eu podia pensar que nosso casamento terminando de diversas formas, menos com traição.
— ana luísa, você está louca?! - ia tentar falar mas ela continuou.
— por que você escolheu ela? eu quero que você me responda. o que ela tem de interessante que eu não tenho? ela é mais bonita pra você? mais engraçada? mais feliz? ela pode te dar um filho? você não me ama mais? - ela perguntava chorando.
— ana luísa, ela não tem nada, eu não tenho nada com ela! é óbvio que eu te amo mas eu não te reconheço mais, eu não te vejo mais, eu não te sinto. você está obcecada sabia? obcecada com isso de engravidar a troco de qualquer coisa. não é por esse lado. - falei irritado.
— obcecada? - ela perguntou em um sussurro e eu concordei com a cabeça. — não é obsessão, é vontade de realizar um sonho que é nosso.
— um sonho seu! - falei apontando. — essa história tem me sufocado, não percebe que tem atingido nosso casamento? essa história mudou a forma que eu te vejo, a forma que eu te toco, a forma que eu falo de você, a forma que eu te sinto, mudou a forma que a gente transa..eu tô cansado de só poder transar com você em prol da ciência, eu quero poder voltar a transar com você porque você me deseja, ana luísa. - falei segurando o choro, falei aquilo quase em um suplico.
— eu fiz e faço tudo isso porque quero construir uma família com você, até pouco tempo atrás também era um desejo seu, carlos. não vem me botar como culpada e louca por estarmos assim.
— o meu sonho é você, somente isso. eu me casei com você e não com a idéia de uma possível família, quando eu disse sim ao pastor só pensei em você, em como eu te queria e mais nada. entendeu? mais nada. ter filhos é consequência. - falei olhando pra ela.
ana luísa tinha os olhos fundos e escuros, já não tinham mais o brilho de antes e isso me assustava pois não reconhecia ela.
— eu não te reconheço mais. - falei em um sussurro. — o que está acontecendo?
— tá acontecendo que esse casamento está por um fio, você só não pede divórcio porque tem pena de mim, eu vejo isso, cadu. eu vejo..- ela falou a última parte sussurrando e eu neguei com a cabeça. — eu te odeio tanto nesse momento, tanto.
ela estava terminando comigo? ela não pode fazer isso. ana luísa se levantou fazendo uma careta de dor e colocou a mochila nas costas.
— você não me odeia, para me odiar você teria que me amar, mas a impressão que eu tenho é que você tem sido indiferente a mim nesse ano. - falei e senti que magoou ela, já que ela ficou em silêncio por um instante só me olhando, creio que digerindo o que tinha escutado
— não..- ela ia falar mas neguei com a cabeça. — eu te amo, carlos. você tá comendo merda? que porra tá acontecendo com você? quem é você agora? cadê o meu marido?
— deve estar com a ana luísa que eu me apaixonei a seis anos atrás. - falei e ela deu um sorrisinho sarcástico seguido de mais uma careta de dor e negou a cabeça.
— eu vou embora, a casa é toda sua. - falou olhando pra mim com os olhos marejados.
— eu não te traí com ela, eu nunca faria isso se quer saber..- esclareci as coisas para ela. — só sai com ela para beber uma água de coco porque por um instante ela me lembrou você antes.
— eu vou embora. - ela falou dando as costas pra mim.
— olha pra mim, analu! - falei alto, foi a primeira vez que falei com ela assim..ela não exitou e me olhou. — eu só saí com ela porque queria matar a saudade que eu estava de você, mas eu juro, juro que nem por um instante toquei nela.
— tá bom, carlos.
ela falou e deu as costas, quando estava quase chegando na porta deu um gritinho de dor. até que vi sangue, muito sangue escorrer pelas suas pernas e ela caiu desmaiada. meu deus.
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até daqui a pouco 🤨