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ana luísa

acordei sentindo uma dor terrível em todo meu corpo, mas principalmente em meu coração. lembro que eu acordava e desmaiava o tempo todo, e no intervalo desses desmaios pude ouvir a coisa mais terrível que eu poderia escutar nesse momento, "aborto espontâneo".

foi tão doloroso. eu lembro de escutar o choro do cadu enquanto me pedia perdão, eu só queria abraça-lo. quando olhei pro lado sentindo uma dor terrível nos olhos por conta da luz forte, vi ele de cabeça baixa sussurrando coisas..acho que estava rezando. eu quis ignorar tudo, principalmente as coisas horríveis que falamos um ao outro. fiz um leve carinho em sua mão e ele em um pulo me olhou com os olhinhos brilhando, vermelhos e tristes. eu só queria sorrir e dizer que está tudo bem, mas só chorei.

cadu se deitou na cama de hospital comigo e me envolveu em meu abraço, me acolhendo e tentando tirar aquela dor de mim.

— me perdoa, me desculpa..- ele sussurrava no meu ouvido enquanto chorava.

— shhh.. tá tudo bem, não foi sua culpa. - falei baixinho e rouca.

eu estava sonolenta, triste e perdida no tempo mas pelos meus cálculos abortei tem 17h, 17h de pura agonia pro cadu..ele estava se culpando e eu sinto tanto por ele, tanto.

eu estava sentindo um vazio tão grande dentro de mim, uma agonia. meu filho esteve aqui o tempo todo e eu nem percebi, burra! tão burra! eu lembro de ouvir uma enfermeira falar que de qualquer forma a gravidez não iria pra frente, me doeu muito mas de qualquer forma eu queria ter a experiência de pegar um teste de gravidez e ver o positivo, ver a felicidade nos olhos do meu marido ao descobrir que vai ser papai, eu queria ter essa experiência pelo menos uma vez na minha vida. quando me vi estava chorando de novo, chorando muito e cadu só me abraçou.

— pode chorar, eu tô aqui. - ele falou baixinho com a voz arrastada.

— você falou pra minha mãe que estou aqui? - perguntei e ele concordou com a cabeça.

— falei, ela veio aqui mas você estava dormindo..te esperou por cinco horas mas teve que voltar por causa da danú, minha família também veio.

eu nunca agradeci tanto por estar dormindo, não queria ver aqueles olhares de pena, preocupação e perguntas. eu só queria ficar com a minha tristeza e meu marido.

(...)

no outro dia eu já estava em casa, quando cheguei minha mãe estava aqui. ela me deu um abraço tão apertado, tão reconfortante. depois de falar com ela, cadu me levou no colo até o banheiro para me dar banho, eu sentia muita dor mas conseguia me virar, mas ele cismou e eu não tinha forças para brigar então só concordei. eu estava tentando ocupar minha mente porque só de pensar naquele sangue todo, na médica falando que tive um aborto espontâneo, que as minhas chances de engravidar diminuíram muito mais só me faz sentir vontade de chorar e me afogar nas minhas próprias lágrimas. quando vi estava chorando de novo enquanto cadu passava sabão nas minhas costas.

— amor? - ele me chamou e eu só olhei pra ele mostrando que estava prestando atenção. — nos dias em que você estiver triste, cansada, odiando passar por todas essas situações e sentindo vontade de desaparecer, vou fazer uma porta no meu coração e se você quiser um cantinho para respirar, você pode ficar aqui e descansar, vou estar aqui para te acolher e te cuidar. - ele falou com um sorrisinho no rosto, todo fofinho.

sorri fraco sentindo as lágrimas se acumularem e concordei com a cabeça, logo erguendo os braços querendo um abraço dele.

— me abraça? - pedi e ele imediatamente me envolveu em um abraço apertado. — eu te amo muito, muito mesmo. me desculpa. - pedi sincera e ele concordou com a cabeça e beijou meu ombro.

— eu te amo mundos. tá tudo bem, conversarmos sobre isso depois. - se afastou deixando um beijinho na pontinha do meu nariz.

eu o amo tanto.

depois de finalizar o banho cadu me levou até o quarto, me secou, penteou meu cabelo e me vestiu.

— trouxe sua comida! - minha mãe falou na porta do quarto e eu sorri fraco.

— vou deixar vocês duas sozinhas, eu tô lá na sala, qualquer coisa me grita. - cadu disse e me deu um selinho, logo saindo e deixando só eu e minha mãe.

— fiz frango, batata, arroz e salada. igual quando você era pequenininha. - ela disse rindo fraco e eu peguei o prato começando a comer enquanto recebia massagem no meu pé. — como você está se sentindo?

— grata por você estar aqui. - falei fugindo do óbvio. — obrigada.

ela sorriu e me deu suco de laranja na boca, me fazendo rir por um instante.

— você sempre vai ser minha menininha, minha bebezinha. - ela falou com a voz embargada. — me dói ver você passar por essas coisas.

— relaxa, não quero te ver triste. - falei fazendo carinho na mão dela.

ela ficou comigo por mais um tempinho, e quando me vi sozinha agradeci.. queria ter esse momento só meu, sabe? digerir um pouco sozinha. quando me vi alisava minha barriga chorando enquanto pensava em milhões de coisas. eu queria tanto que tivesse um serzinho aqui, tanto tanto..

— eu só queria você aqui.
se mexendo, fazendo algazarra na barriga da mamãe..- ri fraco enquanto enxugava as lágrimas. — mas tudo bem, né? sempre vai ter um pedaço seu dentro de mim, pra sempre! e eu sou grata por isso. seja qual pessoa você iria se tornar, seja onde você estiver..eu estou te enviando muito amor, muito. seria sua mãe até o fim da minha vida. - fiz carinho na minha barriga pela última vez e sequei as lágrimas.

ouvi alguém bater na porta e murmurei um "entra" quando olhei era danúbia, ela tinha um olhar preocupado mas quando me viu se suavizou e sorriu.

— posso ficar aqui com você, luluca? - ela perguntou e eu concordei com a cabeça abrindo os braços.

ela veio rapidinho e se alinhou entre meus braços me fazendo carinho.

— eu tô com um soninho, vamos dormir? - perguntei manhosa e ela concordou imediatamente.

— vim aqui justamente pra isso. - ela se virou e eu formei a conchinha, minutos depois cadu chegou e sorriu vindo deitar com a gente. — a mimir!

carlos me abraçou apertado deixando um beijo no meu pescoço e não sei quanto tempo demorou, mas quando fui ver já estava dormindo muito em uma conchinha maravilhosa.

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demorei? demorei! mas tá entregue o cap.

intimidade.Onde histórias criam vida. Descubra agora