ana luísa
4 dias depois.cantava uma música qualquer sem sentido enquanto arrumava um potinho com bolo de cenoura que eu tinha feito pro meu noivo em sua casa, enquanto isso ele se arrumava pro seu primeiro dia de trabalho e eu podia sentir sua ansiedade. depois de organizar perfeitamente os pedaços de bolo e o suco dele de maracujá da fruta, peguei uma folha pequena deixando um recado.
" boa sorte em seu primeiro dia, amor. eu te amo e tenho orgulho de você. já deu tudo tudo certo! come direitinho por favor. "
sorri fazendo uns corações e carinhas sorrindo, e logo em seguida dobrei colocando em suas coisas. meu pretinho saiu do carro segurando o mochila em sua mão e se olhou no espelho pela décima vez, estava lindo! o cabelo perfeitamente recém cortado, os acessórios, a roupa combinando, o semblante fechado e as tatuagens mexiam comigo de tal forma..com certeza o homem mais bonito e gostoso que já vi em minha vida, e a aliança de noivado em seu dedo dava um charme a mais.
— amor? - me chamou me tirando do transe e eu olhei pra ele enquanto rapidamente colocava as coisas em uma bolsa térmica. — já vou, tá bom?
ele me olhou nervoso e eu sorri passando tranquilidade.
— calma, respira..- falei e ele me puxou para um abraço apertado, fiz questão de retribuir na mesma intensidade enquanto dava beijos em seus ombros.
quando ele me soltou fui até a bancada pegando a bolsa térmica, depois de colocar em sua mochila ele me puxou para um beijo rápido.
— eu te amo..- falei entre o beijo. — vou ficar te esperando aqui.
— tá bom amor, até mais tarde. - me deu um selinho finalizando. — eu te amo!
depois de vários selinhos serem distribuídos ele saiu quase correndo e eu respirei fundo passando a mão em meu peito pedindo para deus e universo cuidarem dele. fechei a porta e depois de ajeitar o apartamento e tomar banho, peguei meu celular e fiquei mexendo nas redes sociais e conversando com a minha mãe pelo whatsapp, eu tinha vindo pra cá ontem e a velha já está dizendo que está com saudades, carente!
após esquentar meu almoço 13h da tarde, me sentei e almocei quietinha já sentindo falta do meu homem. depois fui tirar uma sonequinha depois de comer horrores e acordei no susto 17:30, meu noivo chegaria em casa 18h e eu queria fazer uma surpresa pra ele. fui na padaria e comprei pão de queijo, queijo e presunto, pão, sonho e refrigerante de uva, nosso favorito! no meio do caminho comprei umas flores também. depois de chegar em casa e arrumar tudo, fiquei esperando ele chegar. quando a porta se abriu e ele passou por ela eu esperava tudo! um sorriso, ele exalando felicidade e orgulho de si mesmo, menos vê-lo de semblante fechado, os olhos vermelhos e a postura rígida. ele passou reto em direção ao quarto batendo a porta forte, sem nem reparar na mesa que preparei com tanto carinho e dedicação
depois de respirar fundo e me preparar para encarar o que quer que tenha acontecido, me levantei e fui em passos lentos até o quarto, quando abri a porta do quarto ele estava com o corpo molhado e a toalha enrolada na cintura, ele estava com o olhar perdido e aquilo me preocupou.
— cadu? - o chamei e ele continuou de cabeça baixa, então me aproximei sentando ao seu lado na cama. — fala pra mim o que aconteceu? hm? - pedi com calma.
ele finalmente me olhou nos olhos e pude ver que tinha chorado, e além das lágrimas seus olhos carregavam raiva, dor e confusão. ele sem dizer nada me puxou para um abraço apertado e começou a chorar, de início fiquei sem reação, mas depois o abracei o mais forte que podia, tentando tirar toda aquela dor de meu noivo.
— amor, me conta o que aconteceu, divide comigo..eu tô aqui, eu aguento. - falei quase chorando por ouvir o choro dele, era muito dolorido.
depois dele se acalmar, me afastei de seu abraço e olhei em seus olhos, em seguida depositei um beijinho na pontinha de seu nariz.
— eu estou me cansando de ser eu, eu estou me cansando de ter essa pele! eu estou cansado de ser olhado e tratado diferente por conta da minha negritude. eu estou cansando, analu, de ser humilhado! - falou como um desabafo e confesso, uma porrada doeria muito mais, porque não posso fazer nada para ajudá-lo.
— porque está me dizendo isso? o que aconteceu, meu amor? - questionei enquanto fazia carinho em sua mão.
—
hoje no trabalho, no meu primeiro dia. - riu sem humor. — fui confundido com o faxineiro, e não que isso seja um problema, é um trabalho digno! mas o que levou as pessoas a me perguntarem isso? eu estava bem arrumado, eu sou estudado e fui indicado pelo dono do hospital, então o que fez essas pessoas pensarem isso de mim? porque eu sou preto? só hoje, nessas poucas horas fui parado pela polícia três vezes. isso cansa. porque eles me odeiam tanto, amor? eu só sou preto.
olhei nos olhos dele sem nem saber o que dizer, só queria chorar junto dele e depois ir até essas pessoas e confronta-lás por terem feito meu futuro marido chorar.
— eu amo você, eu amo sua negritude, amo todos os seus traços. essas pessoas tem a alma podre, você não merece metade disso. no seu próximo dia de trabalho você vai entrar com seu crachá mostrando para todos que é um preto radiologista, e todos!! vão te respeitar. ver você chorar assim corta meu coração, queria poder te tirar toda essa dor. - falei e ele me deu um sorrisinho e em seguida um selinho demorado.
— você é a melhor coisa que me aconteceu. eu te amo, minha preta. meu amor. minha gostosa. - falou e a cada pausa que dava me enchia de beijos por todo canto.
aqueles inocentes beijos se transformaram, quando fui ver estava subindo pelas paredes. em minutos, cadu estava dentro de mim me dando todo o prazer que se podia imaginar. gozamos diversas vezes, nos conectando.