9

1.7K 124 8
                                    

carlos eduardo

cheguei na sala desejando uma boa tarde e me sentei nos fundos por conta da minha altura, não queria atrapalhar ninguém e nem ser atrapalhado com pedidos para dar licença. quando olhei para porta vi ryan passando por ela acelerado e se sentou do meu lado.

— e aí, irmão!!! - quase gritou e eu olhei para ele de semblante fechado já que odiava falar com pessoas que berravam enquanto falava sem necessidade.

— fala. - me limitei a dizer isso e quando olhei para o seu nariz vi que estava meio avermelhado e aquilo me fez negar com a cabeça. — vai limpar esse nariz, ryan.

ryan é meu parceiro desde os meus 14 anos de idade, conheci ele nessas resenhas de adolescência e estamos aqui até hoje. fumei meu primeiro cigarro de maconha com ele mas me limitei em só isso, mas ryan não. ryan já usou e usa outras drogas e não adianta falar nada com ele porque o mesmo se sente certo por isso, fala que é livre arbítrio e que não fere a integridade de ninguém, por isso ele usa sem peso na consciência. nunca fui de ter muitos amigos porque não me agrada ficar rodeado de muita gente, dá espaço para falsidade e eu tenho horror a isso.

fora que sou bipolar, uma hora eu quero algo e outra hora não quero. enjôo de pessoas fácil demais.


minha professora entrou na sala e assim demos início às quatro horas de aula de radiologia. não sou cdf mas também não sou burro, conseguia absorver as matérias facilmente. quando deu 17:30 deu meu horário de saída e eu me levantei com a mochila nas costas, agora vamos de trampo né? peguei um ônibus e cheguei na loja de celular que eu trabalhava.

fiquei trabalhando até 23h. arrumei celulares, vendi películas, capinhas e ainda me estressei. faltava muito para o fim de semana? ainda estamos na quarta feira.


ana luísa

pintava mais um quadro enquanto pensava no que minha mãe tinha me dito ontem. não saí do quarto o dia inteiro nem pra comer, estava confusa, chateada e brava. não com a minha mãe taís e nem com a minha genitora, estava brava comigo mesma por deixar ela ter esse poder sobre mim.

eu queria pegar o carro e ir até a clínica de reabilitação mas também não queria ter que vê-la. eu só queria que esse problema sumisse. ela.

tenho para mim que minha mãe sempre foi um problema, minha falecida vó sempre me disse isso. "minha neta, sua mãe é difícil.. muito instável" dizia minha vó e ela estava certa. uma hora paula era uma mãe incrível, me levava para passear, brincava comigo e me dava carinho, nas outras horas me agredia, me apontava o dedo e sumia. taís um dia me contou que paula me pariu, fugiu do hospital e voltou depois de um ano querendo me levar. ninguém deixou.

minha mãe taís não deixou
minha vó não deixou
dona lúcia não deixou
e muito menos a justiça.

eu nunca entendi muito esse descaso dela comigo, eu nunca fiz nada. muito pelo contrário, sempre implorei para ter ela, mas uma hora eu cansei entende? eu comecei a rejeitar minha mãe igual ela fez comigo a minha infância toda com 10 anos. eu nunca gritei tanto na minha vida como naquele dia, eu implorava aos prantos para tirarem ela da minha frente porque me fazia mal, descobri que sofria de ansiedade naquele dia. não tenho memórias boas com aquela mulher, nunca tive. por que logo agora, eu com meus 21 anos de idade ela quer conversar?

fui uma criança/ adolescente problemática por muito tempo, mas não de beber, sair escondida, namorinhos e essas coisas. eu me fazia mal. já tentei suicídio, já fiz terapia, já fui no psiquiatra e outras diversas coisas graças a ela. me tornei uma pessoa melhor tem quase 5 anos, foi quando eu descobri que seria irmã e não queria dar um exemplo ruim para uma criança, agora eu tô aqui.

trabalho
estudo
dou minha vida pela minha irmã e minha mãe
e me cuido.

graças a mim, graças a danúbia, graças a minha mãe taís, graças aos profissionais, não graças a paula.

ouvi dois toques na porta e quando olhei vi yara com uma tábua onde tinha algumas comidinhas.

— oi minha menina, trouxe pra você. - disse e eu sorri.

ela colocou em cima da mesinha a janta, uva, refrigerante e brigadeiro.  quando estava chegando na porta eu olhei pra ela chamando sua atenção.

— te amo yara, obrigada pelo carinho. - falei e ela fez uma carinha tão fofa. quando me dei por mim ela estava me esmagando com um abraço apertado e gostoso.

— eu que amo você! agora senta essa bunda imensa e come tudinho. - disse se afastando e eu dei risada ouvindo ela falar.

quando fiquei sozinha no quarto me levantei indo até a mesinha e vi que tinha um papelzinho junto de uma foto. era uma foto minha e de taís na minha infância. fiz um biquinho sentindo meus olhos arderem e sorri vendo o papelzinho.

"eu e danúbia te amamos!
você é o nosso solzinho
nossa anjo da guarda.
obrigada por ser você. <3"

respirei aliviada por saber que tenho elas e me sentei começando a jantar e agradecendo a Deus mais uma vez pelo dom de yara.

(:

--
bom dia, manas.

intimidade.Onde histórias criam vida. Descubra agora