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ana luísa

eu estava sentada em frente paula e eu não sentia nada, além de dúvida..igual no sonho e isso me preocupava. ela também só chorava.

não pude deixar de reparar mas ela estava magra, pele pálida e seus cabelos estavam ralos. me explicaram que era por conta da medicação. mas aquela não era minha mãe, as drogas acabam com as pessoas, ela era tão linda sabe? nas fotos que eu via ela era tão sorridente, espontânea e feliz..agora está assim.

— me perdoa, filha? - segurou na minha mão enquanto chorava e eu não tive reação, só deixei ela fazer o que quisesse.

— o que você queria me dizer? - fui direto ao ponto.

— eu não queria que fosse assim, não mesmo..mas eu já não tinha controle. quando descobri que estava grávida da minha menina, grávida de você eu achei que tudo se resolveria mas eu estava errada! - limpou as lágrimas. — eu te amei e te amo muito, por isso fugia..por isso te deixei com taís. você acredita?

— acredito. - me limitei a dizer só isso.

— nesses anos eu tentei ficar limpa, eu juro! tentei ficar durante a gestação, mas falhei. tentei depois de ter você, mas novamente falhei. fora ao decorrer dos anos, né..- respirou fundo. — mas só consegui agora, e eu sinto tanta raiva por isso. queria conseguir recuperar o tempo perdido mas já estou no final da minha vida, minha saúde está deplorável!

— eu consigo entender e compreender as coisas que você fala agora, mas não vai mudar as coisas que fiz no passado. - disse segurando o choro. — você não tem idéia das coisas que eu fiz por não saber lidar com o teu abandono.

— eu quero saber, quero tomar esse choque de realidade.

— eu já fui internada 5 vezes por conta de tentativas de suicídio, já tive coma alcoólico, tenho depressão mas hoje em dia é controlada, fui uma pessoa horrível por muito tempo com as pessoas que me amavam. tudo isso porque você não era presente. - falei já chorando. — acha que só desculpas ou perdão vai resolver tudo?

ela me olhava sem dizer nada só chorando em silêncio, enquanto na minha cabeça passava todas as situações que passei graças a ela.

— eu só queria o teu abraço, o teu amor, a tua volta mas isso nunca aconteceu! não quando eu precisava, agora não faz diferença..na verdade faz diferença sim! me faz sentir mal, eu tô revivendo tudo que eu passei nesses 21 anos. - limpei as lágrimas que caíam. — e isso me dói TANTO! você não faz idéia de como a minha cabeça está agora.

— filha..- tentou falar mas eu não deixei.

— sabe o que mais me revolta? é eu não conseguir sentir raiva de você, eu não sinto mais nada, você se tornou indiferente. tem coisa pior do que sentir isso pela pessoa que te colocou no mundo? é horrível!! não desejo isso pra ninguém. - desabafei.

— você não tem que se sentir mal, a culpa não é sua.

— quem é o meu pai? - perguntei de uma vez e ela se retraiu.

— importa?

— importa! - falei óbvia. — mas é claro que importa.

— você só precisa saber que é herdeira, isso basta. - disse tentando fugir do assunto.

— não! não basta, dinheiro eu já tenho. você precisa entender que dinheiro não é tudo, não vai suprir a porra da minha carência com dinheiro de um cara que eu não faço idéia de quem seja.

— você não sabe porque nem eu sei! - gritou.

— não grita comigo..- falei sentindo meus olhos arderem.

— desculpa.. desculpa. - respirou fundo e soltou minhas mãos que estavam suando. — eu não sei quem é seu pai. ele era rico, muito rico! conheci ele em uma dessas festas que eu ia pra ficar doidona. só tive contato com ele pra transar, porque de resto foi tudo com as pessoas que trabalhavam com ele. seu pai tá morto, morreu quando você tinha seis anos de idade.

— ele nunca foi me visitar? - perguntei com medo da resposta.

— eu nunca deixei. - olhei pra ela incrédula. — se ele não quis me ver porque iria ver você? não permiti.

— porque nem tudo é sobre você. você tem noção da merda que você fez? eu já não tinha o caralho da mãe presente, você me impediu de ter um pai também. você não tinha o direito de fazer isso.

— mas..- tentou falar.

— não tem mais. se minha vó ou taís me impedissem de ver ele tudo bem, mas você não tinha esse direito porque não era presente! - exclamei.

— desculpa.

— chega de desculpas, chega dessa conversa. eu tô indo pra minha casa, obrigada por me esclarecer as coisas. - levantei dando as costas e saí de lá o mais rápido possível enquanto ouvia paula me chamar.

eu estava brava, chateada, atordoada e confusa. era tanta informação na minha cabeça que eu sentia que podia entrar em parafusos a qualquer momento.

(:



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