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Basta que você nasça, para que alguém te trace um caminho de uma vida toda. E a heroína pensava em todas as escolhas que a tinham levado até aquela situação que era no mínimo preocupante.

Morte encarnada, a rainha dos mortos, o demônio sangrento...

Porra, Melione parecia um anjo nos olhos da garota, não havia nada daquele famigerado horror no brilho dourado de pura vitalidade, nenhum traço da morte em seu encalço no sorriso caloroso.

—Acha divertido sequestrar pessoas. — Uma contestação seca na voz aveludada e profunda. A garota olhou para os dois mortos-vivos de guarda atrás da necromante e pensou se eles também tinham sido vítimas dela.

—Por que não desativa sua máscara? — Melione ignorou totalmente a pergunta, notando a pequena coroa com uma hematita cintilante no centro.

—Por que você não desativa a sua? — A heroína devolveu no momento seguinte, tão relaxada na cadeia que, durante um momento, Melione pensou se não teria sido ela a capturada — Bom, foi o que eu pensei.

—Por que não está com medo?

—E desde quando medo resolveu meus problemas? — A garota deu de ombros, insensível, calma sobre o olhar crítico de Melione, que admirava silenciosamente a forma que os olhos dela pareciam refletir uma tempestade de raios, num amarelo tão vívido que parecia eletricidade pura.

—Nada de "por favor, não me mate"? — Ela perguntou, estralando os dedos da mão direita com o polegar.

—Na verdade, eu... queria perguntar algumas coisas antes de você descrever as formas brutais que pretende me assassinar e esconder o corpo. Isso se você se importar em fazer isso.

Melione sequer pôde esconder a surpresa na curiosidade impetuosa da vítima, inclinando a cabeça para o lado. E foi na sombra das poucas luzes amarelas acesa do bar invadido, que a heroína notou aquela sombra da morte perpassar rapidamente as feições de Mel.

—Eu já ia perguntas suas últimas palavras, mesmo. Por que não? Vá em frente: pergunte.

—O que vocês são? Como se tornou uma Neera? Como se torna um Neera? Ou tem que nascer sendo? São uma seita? Ou é que nem os Emissários acham? Tipo, entidades divinas e tal? — Eles perguntavam muito e isso era no mínimo irritante. Mas por que Melione os pararia de fazer aquilo? Ela não faria isso, porque tinha total consciência do período infernal que tinha feito do seu treinamento com Ruelle, perguntando coisas que sequer importavam para um feitiço, apenas por... — Não é possível que você esteja ficando irritada, não, não! Eu deveria estar ficando irritada, já que estou morrendo só por ser eu. — A necromante a calou com um olhar mortal, lembrando-a o motivo pelo qual estava naquela cadeira de bar. — Foi mal, eu...

—Você é corajosa e curiosa: gosto disso — Mel se sentiu obrigada a falar, cruzando os braços e discutindo consigo mesma se responderia às perguntas — Você não nasce Neera, eles te acham.

—E a parte da seita?

Seita? — Melione repetiu, engasgando com uma risada — Não, não somos uma seita: é uma família.

—Desde quando tortura virou programa de família?

—Desde quando os heróis se tornaram um bando de babacas.

—Ah, então desde sempre — A garota zombou, um silêncio desconfortável pairando pelo lugar.

—Com certeza se lembra desse jogo clássico — Um dos mortos-vivos lhe trouxe uma bandeja com duas taças de vinho, de cristal e totalmente longe da modernice da cidade grande — Uma das taças tem veneno...

Noite Eterna, Coração EtéreoOnde histórias criam vida. Descubra agora